Há um interessante jogo de xadrez na disputa interna pela liderança da frente de esquerda - o bloco de partidos que vai dar palanque à candidatura presidencial de Lula (Pt) em Santa Catarina. Diante de uma série de movimentos do Psb para fortalecer a pré-candidatura do senador Dário Berger ao governo, o ex-deputado federal Décio Lima (Pt) colocou no tabuleiro uma peça que estava praticamente restrita às articulações de bastidor: o ex-deputado estadual Gelson Merisio (Solidariedade), segundo colocado nas eleições de 2018, como pré-candidato a vice-governador.
Voltemos um pouco no tempo. Semanas atrás, tudo se desenhava para a confirmação da pré-candidatura de Décio Lima (Pt), respaldado por sete dos oito partidos do grupo no Estado. No entanto, o Psb de Dário Berger mostrou que não poderia ser ignorado quando reclamou publicamente da vinda do ex-presidente ao Estado antes que a disputa interna fosse solucionada. E a visita de Lula foi adiada.
Na sequência a esse momento, Dário - recuperado de uma cirurgia - entrou em campo e iniciou uma série de visitas a lideranças de partidos do bloco que têm em comum pontos de divergência com Décio Lima ou o Pt. Registrou as visitas à deputada estadual Luciane Carminatti (Pt), de ala diferente do ex-deputado federal na geografia interna do petismo catarinense - e o deputado estadual Rodrigo Minotto (Pdt), que anda incomodado com a pré-candidatura do petista Célio Elias em Forquilhinha, sua base política.
Em entrevista ao Plenário da Som Maior na quinta-feira, Minotto mostrou simpatia pela candidatura de Dário e disse que o pessebista chegou a apresentar a proposta de um projeto que unisse Psb e Pdt, com as vagas de vice e senador para o pedetistas, caso a frente de esquerda não se concretize. Uma peça nova no tabuleiro, que chamou atenção de todos os jogadores. O Psb e Dário fizeram um movimento na expectativa de gerar como efeito um gesto de Décio Lima de abrir mão da pré-candidatura ao governo para não rachar o condomínio de partidos.
A jogada importante foi contraposta a outro movimento de peso. Imediatamente, veio a informação de que Gelson Merisio, segundo colocado nas eleições para governador em 2018, colocou-se à disposição para ser vice de Décio. Merisio também representa, como Dário, a sinalização à centro-direita que Lula buscou no ex-governador paulista Geraldo Alckmin (Psb) como companheiro de chapa.
É uma resposta clara. Se Dário deixar a chapa para uma aventura solo, Décio e Merisio formam a chapa. Na quinta-feira, diante da entrevista de Minotto, o presidente estadual do Pdt, Manoel Dias, foi procurado e manteve a posição de preferência pela candidatura petista no comando da frente. O ex-deputado federal Jorge Boeira (Pdt), nesse contexto, seria candidato a senador. O atrelamento à votação do ex-presidente Lula no Estado e a fragmentação dos votos entre os diversos candidatos que apoiarão o presidente Jair Bolsonaro (Pl) é que dão esperança a todos os políticos citados de é possível um bom desempenho nas urnas catarinenses este ano. O Psb pode ter que escolher entre o discurso da aventura solo e a possibilidade real de ficar fora do chapão lulista.
O próximo movimento da frente de esquerda agora será um gesto de Dário, de Décio ou de Merisio - quem abre mão para quem e em quais condições. As reuniões continuam acontecendo - em grupos maiores ou menores - e a expectativa é de definição até o fim da próxima semana. O tempo de pré-campanha está indo pelo ralo.