A região, e o mundo, tem muitos casos de profissionais do rádio e da televisão, e de artistas, que migram para a política e se dão bem.
O primeiro que conheci na região que fez tal migração foi Osmar Nunes, radialista famoso em Araranguá, campeão de audiência, que foi eleito prefeito na década de 60.
Ele fazia ao meio dia na rádio Araranguá o programa “A hora do recado”. Era um classificado falado. As pessoas encaminhavam por “bilhetinhos” recados de todos os tipos.
Desde o anúncio para parentes e amigos do nascimento de uma criança, ao negócio fechado, um documento perdido, a "encomenda" que chegou.
Foi levado para a política e teve que disputar a eleição contra o homem mais rico da cidade. Fez a campanha do "tostão contra o milhão”. Venceu fácil.
Pelo caminho, conheci muitos outros que tentaram repetir a operação (do microfone para o mandato) e não se deram bem.
Um deles, tinha programa consagrado na área do entretenimento.
O sul inteiro o conhecia, e queria bem. Em todas as classes, categorias, grupos, e tribos.
Era meio caminho andado para uma candidatura vitoriosa.
Ele foi mordido pela “mosca azul”, topou o desafio e se colocou candidato a vereador.
De 10 apostas, 11 cravavam a sua eleição.
A discussão era se chegaria como mais votado, ou ali por perto.
A campanha rodou.
Dias antes da votação, um amigo, preocupado, perguntou:
“Não estou vendo o teu nome na boca do povo, está tudo certo? Tens certeza que terás votos para te eleger?”.
O candidato, indignado, reagiu:
“Vocês são assim mesmo, invejosos. Todo mundo me conhece. Como é que eu não vou me eleger? Não preciso nem pedir voto”.
Urnas abertas, ele ficou de fora. E longe dos eleitos.
Porque em eleição tem que ter capacidade de articulação, organização, estrutura, e tem que pedir votos.
Mas também não é só isso.
De novo em Araranguá, Chico Pistola era um cabo eleitoral conhecido por todos, e respeitado por aliados e adversários. Um especialista.
Se o Chico falava, estava dito. Ele sabia tudo. Conhecia a política da cidade como a palma da sua mão.
Numa das campanhas, década de 60 ou já nos anos 70, estava difícil emplacar o seu candidato. O adversário era forte, principalmente no interior.
A voz das ruas dizia que o candidato do Chico se dava bem no centro, mas levava “chumbo" no interior.
Chico foi à luta. Tinha que mudar isso.
Saiu de bairro em bairro, localidade em localidade, a fazer reuniões e “pequenos comícios” em bares, armazéns, grupos de famílias.
Numa delas, a conversa estava muito ruim. Por mais que se empenhasse e utilizasse todos os argumentos, não conseguia reverter.
Aí, puxou um pedaço de papel (daqueles para embrulho que as “vendas” usavam), pegou a caneta, e passou a listar quantos votos o seu candidato e o adversário teriam por todo o município.
Todo mundo parou.
Era só o Chico Pistola falando.
Aqui o meu candidato faz 300, o outro 250. Ali 250, e o outro 300, e foi “cantando" os votos.
Terminou, passou a régua, e fez a soma.
Teve mais votos para o adversário.
Se pudesse, ele engoliria papel. Tentou corrigir, disse que se enganou aqui e ali. Mas, se já estava difícil convencer, complicou de vez.
No final, as urnas mostraram que a conta estava certa. O candidato do Chico perdeu.
A mostrar que quando o povo não quer, não tem empatia, e não dá liga, não adianta boa equipe de campanha, os melhores cabos eleitorais, estrutura, e dinheiro.
Política não é operação simples. Não é ciência exata. E não é para amadores.