Diogo Olivier, jornalista da grupo RBS, do Rio Grande do Sul, escreveu: “David sempre foi um embaixador de Criciúma. Endeusava a cidade de um jeito que a gente até tirava onda. Eu mesmo brincava e perguntava, entre chopes cremosos, ao final da milésima história contada da terra do carvão. “Ô David, vem cá: não tem algo ruim em Criciúma, não?”
David era um apaixonado por Criciúma.
Sempre disse que viveu na cidade alguns dos melhores momentos da sua vida.
Foi em Criciúma que começou a vencedora carreira de jornalista e onde escreveu as primeiras crônicas. Depois, milhares de outras e vários livros, muitos prêmios e uma caminhada consagrada na redação. David se colocou entre os melhores jornalistas do Sul do país, mas com a mesma humildade e simplicidade.
David às vezes estava falando de um assunto complexo, de uma crise politica nacional, de um problema agudo da economia, e, para respaldar a sua tese, se apoiava em casos acontecidos em Criciúma. Porque para ele, Criciúma era uma espécie de centro de referência.
Foi esse David que foi homenageado pelo prefeito Clésio Salvaro, com a lei que deu o seu nome para uma rua do bairro Operária Nova.
Clésio tomou a iniciativa de mandar o projeto de lei para análise e voto dos vereadores, que acabou aprovado por unanimidade.
Ou seja, David uniu as forças políticas de Criciúma. Da direita à esquerda, de uma ponta à outra. Todos avalizaram a homenagem proposta pelo prefeito.
David Wagner Coimbra, filho da Diva, marido da Marcinha, pai do Bernardo. Amigo do amigos. Leal como um leão. Brigava pelos amigos. Fazia defesa deles em qualquer circunstância. Homem de paz, contra a violência, fraterno nas relações.
É por isso que até hoje rolam lágrimas quando somos levados a falar dele. É ainda difícil assimilar que não vamos mais dividir mesas de boa prosa, conversas divertidas e chopes cremosos.
Ele adorava sentar para falar de situações que viveu em Criciúma. Algumas delas, vivemos juntos.
Quando assumimos o jornalismo da rádio e TV Eldorado, década de 80, tivemos que administrar uma situação delicada, belicosa.
Os mineiros estavam em pé de guerra com a rádio. Haviam virado o carro da emissora. A rádio era acusada de só dar a versão das empresas nos movimentos de greve e distorcer dados para atacar os movimentos de greve.
Nossa missão era reabrir canais de comunicação. Desarmar os mineiros contra a rádio e garantir que os jornalistas pudessem trabalhar.
Marcamos reunião com o presidente do sindicato dos mineiros, que era José Paulo Serafim, depois eleito vereador e deputado estadual. Mas, não foi uma reunião na sede do sindicato, ou em local “normal”.
Pediram que estivéssemos em determinado horário num posto de gasolina, perto do antigo Besc.
No horário apareceu um cidadão, num Gol preto, pediu que entrássemos. Calado, pegou a Rodovia Luiz Rosso, acesso Centro, e seguiu na direção da região da Quarta Linha/Morro Estevão.
Noite escura, o carro saiu da rodovia, pegou uma estrada mais escura ainda, cheia de curvas, sobe e desce, e não chegava ao destino.
David e eu nos olhávamos, ressabiados.
Até que chegamos em frente à uma casa, quase no meio do mato, nenhum morador por perto. Descemos, entramos, sentamos na sala e esperamos.
Minutos depois chegou Serafim.
Ele disse que tudo aquilo era para preservar a sua segurança porque estava sendo ameaçado. Os mineiros estavam em greve fazia praticamente dois meses. O ambiente era tenso.
Meia hora de conversa e foi estabelecido um armistício. Suspensas as hostilidades e compromisso de ouvir os dois lados.
No dia seguinte, os mineiros tinham uma manifestação marcada para o Centro da cidade, que começou com uma caminhada a partir do sindicato dos mineiros.
Na frente, abrindo a caminhada, uma faixa enorme “Abaixo a Eldorado”. Lá foi o próprio Serafim retirar a faixa. Mineiros e empregadores passaram a ser tratados com respeito.
Foi a primeira vitória de David como “negociador”.
E, depois, ele se gabava: “Agora, posso me apresentar para negociar conflitos internacionais”.