O advogado Luiz Gomes, nascido no Rio Maina, faz décadas que está radicado em Natal, Rio Grande do Norte.
Lá está no time dos principais advogados.
É uma liderança respeitada, de influência, formador de opinião.
Foi indicado pelos advogados do estado do Rio Grande do Norte para ser ministro do Tribunal Superior do Trabalho e só não foi nomeado por detalhe. Mas chegou perto, muito perto. Jogo decidido aos 45 do segundo tempo.
Além de advogado, Luizinho é empresário, bem-sucedido.
Quando vem a Criciúma, os amigos se reúnem.
Na semana passada ele estava por aqui e se encontrou com uma parte do “time" na casa do Eraldo Peruchi, no Balneário Rincão.
Só uma parte ainda por causa da pandemia, para não aglomerar, embora todos já tenham tomado as duas doses da vacina.
Joel de Bem estava lá.
É um craque ao violão.
De repente, ele mergulha no arquivo de Vinícius de Moraes e Toquinho para buscar "Cotidiano Nº 2".
De imediato, silêncio absoluto.
Nada combinado, ninguém pediu ou sugeriu, mas era possível ouvir uma mosca se movimentando de um lado para o outro no salão.
Plenamente justificável pela música e letra. Uma obra-prima de Vinícius.
Mas, era fácil perceber que tinha algo mais. Pela emoção incontida de alguns.
A explicação vem quando Joel chega na última estrofe.
"Às vezes quero crer mas não consigo.
é tudo uma total insensatez.
Aí pergunto a Deus: escute amigo,
Se foi pra desfazer, por que é que fez?"
Luiz Gomes estudou na Fucri (que virou Unesc). Foi ativo no movimento estudantil.
Eraldo, Regis Borba e José Luzitano, que estavam ali, também.
A música levou a um dos principais movimentos de toda a história da Fucri e da Unesc.
Início da década de 80. A greve dos 60 dias.
A principal motivação foi o aumento exagerado de mensalidade. Mais de 108%.
Mas a pauta incluía outras questões.
Numa greve, a parte mais fácil é começar. O difícil, delicado, perigoso, é terminar. Ou, como terminar.
Quando ela se alonga demais, passando de 45 dias, o desgaste é inevitável.
Nessa greve, chegou um momento que as negociações estavam paralisadas. A direção não queria saber de conversa. Jogava com o tempo, apostando no desgaste do movimento estudantil, com o esvaziamento e a divisão dos alunos.
Sem perspectiva de solução, e para evitar o pior, os líderes estudantis, depois de longas e acaloradas discussões, concluíram que o melhor a fazer era dar um passo atrás.
Recuar para não perder e rever estratégias, para voltar com o movimento mais forte.
Posição fechada, convocaram assembleia dos alunos e foram todos para frente com o mesmo discurso.
Mas, foram surpreendidos. Levaram uma invertida.
Os alunos não aceitaram. Derrubaram a proposta. Decidiram pela continuidade da greve.
Acontece que os líderes do movimento não tinham Plano B.
Saíram dali sem saber o que fazer.
Foram para a casa de um deles, um olhando para o outro, todos assustados, ninguém falava nada.
Até que o Regis puxou o violão e começou a cantarolar.
Exatamente Cotidiano Nº 2.
E quando chegou na última estrofe, veio a luz.
"Se foi pra desfazer, por que é que fez?"
Ali estava a explicação para a decisão dos alunos.
Encontraram o fio da meada.
Voltaram para o campus no dia seguinte, revigorados, em sintonia com os alunos, e com novas estratégias.
O movimento seguiu por mais duas semanas e terminou com vitória dos alunos.
O aumento nas mensalidades foi derrubado.
A mostrar que, muitas vezes a briga parece que chegou ao fim. Mas, nem sempre é isso.
Em tudo na vida.
Tem que avaliar bem antes de começar.
Afinal, se é pra desfazer, por que é que faz?