Dia dos Pais. Para todos, filhos diletos ou não, fica a mensagem de valorar a cada dia mais seus genitores. Assim é. Assim fique à eternidade no exemplo de meu pai Telésforo.
Pois neste 13 de agosto, relembro Telésforo. Austero, forte, estigma de seriedade, monumento de alforria pessoal, dileto amigo de tantos e muitos, intelectual convicto de muitos linguajares – poliglota de escol: alemão, francês, espanhol, italiano. Lia à constância quase diária “A Retirada da Laguna”, do Visconde de Taunay, em francês. Lia toneladas de alfarrábios jurídicos, traduzidos ao português por sua pena fina e aguçada.
Escrevinhando suas petições prenhes de citações latinas e entremeadas de terminologias pouco entendidas (ao ponto de, numa delas - me contaram lá atrás, guri eu ainda -, o digno magistrado de plantão chamá-lo e indagar-lhe qual significado e objetivo daqueles sinônimos, antônimos, verbos e referenciais linguísticos do juridiquês, do latino e do português) por muitos naqueles tempos simplórios e muito saudosos.
No Dia dos Pais minha memória recua à década de 50, quando tinha eu um entendimento parco da vida, nascido em 1944. Telésforo se foi em 24 de outubro de 1959. Até ali, contudo, me encheu de visões fantásticas de saber. Autoditada, advogado provisionado (inscrição número 8 da OAB SC), nos induzia à leitura simples, sem interferências. Matriculou-nos na escola, sem controlar nada. Deixava correr. Quando perguntado, mandava consultar livros, estivesse ele ou não no conhecimento do fato.
Por isso crescemos todos ávidos por literatura, saboreando autores diversos e especificamente cada qual seguindo um rumo: César, Aryovaldo, Agilmar, Icleia, Aimberê e eu. Nesta ordem cronológica e não necessariamente rigorosa em se tratando de direções tomadas. À parte o fato de quatro seguirem o jornalismo como atividade principal: César, Aryovaldo, Agilmar e eu. Aimberê enredou-se pela atividade bancária (Banco do Brasil, 25 anos de trabalho) e acabou sendo o único a concluir curso superior (Direito), depois de “passado na idade”. Tinha avidez por estudos de sociologia, história e política. Aryovaldo e César tinham estilos ferinos e diferentes: um mais poético, outro mais conciso.
Ambos espetaculares. Agilmar mais popularesco. Também lanceiro do bem e da vida. Icleia decidiu-se por casar aos 18 anos, mas conquistou o magistério de corte e costura, professora da Escola Profissional Feminina Kirana Lacerda, do Araranguá até o aposento. Uma mestre das agulhas, dos panos e da moda.
Ah, Telésforo fez isso tudo acontecer. Sim. Não sem a assessoria vital de Dona Amarfilina. Ela quem forjava a personalidade espiritual de todos. Ambos nos fizeram livres para sermos quem e como quiséssemos. Por isso tantas discrepâncias de visão de vida em todos, sem perder os liames entre um e outro, no entanto. Éramos e somos díspares e unos a um só tempo. Por isso, creio ver, claro e limpo, Telésforo se regozijando ainda agora, sobraçando uma estrela cadente lá em riba. E dizendo, remontando aos nossos erros: “Eu avisei”. E sorrindo, esgarçando nossos acertos e conquistas: “Eu ensinei”. E é tudo real e indefectível.
Olha, Telésforo, te digo (ou digo-te, vais me corrigir, sabiamente), guarda aí um lugar ao teu lado. Ajeita a mão pra colocar de novo no meu ombro.
O recado tá dado, Telésforo. E me guie até lá, neste mundo de céus e infernos, dando-me força e sapiência para contornar tudo e seguir em frente.