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Adhemar Ghisi, uma amizade de ímpetos, choques e lealdade

Por Aderbal Machado 08/10/2022 - 08:00 Atualizado em 08/10/2022 - 08:18

Lembro de Adhemar Ghisi, deputado federal da Arena, eleito com o apoio decisivo do “velho” Diomício, nosso grande líder do sul. Insubstituível.

Chegado de Brasília, nos fins de semana, sempre trazia com ele uma enorme fita de rolo para rodar na rádio. Ainda escolhia o horário: meio-dia. Nada casualmente, dentro do Jornal Falado que eu produzia e apresentava. As fitas jamais tinham menos de meia hora de duração. Eram seus discursos integrais sobre temas da região. Com apartes e tudo.

Eu ficava puto da cara com aquilo, no início, porque desmantelava todo o roteiro do programa. Depois, absorvi, porque tive uma conversa com “seu” Diomício, após chamar-me. Me disse o “velho”: “Machado, o Adhemar é nosso candidato e nosso deputado.

Se nós não apoiarmos e ajudá-lo, quem apoiará e ajudará? Os comunistas? A rádio está aí para isso, ou para que você acha que eu tenho rádio e faço política?”

Relaxei e absorvi, mantendo com Adhemar, ao longo do tempo, uma sólida relação de amizade.

(Um detalhe solto aqui: no rastro dessa relação ele me convidou e me levou a visitar Brasília – a primeira vez em 1973, na eleição de Maria Hermínia Aléssio como Miss Santa Catarina, concorrendo ao Miss Brasil, concurso que transmitimos ao vivo – eu e o Darciony Silva. O Adhemar foi nosso anfitrião.)

Lembro como se fosse hoje: o prédio da Eldorado, na Rua Rui Barbosa, ao lado do Edifício Comasa. Muitas vezes, quando não trazia fita em rolo com seus discursos, Adhemar ia falar ao vivo ao meio dia. E então o programa se ampliava para até uma hora ou mais.

Terminada a entrevista, a gente chegava à janela com vista para o Comasa, e aquela fila enorme de gente à frente do escritório político do Adhemar (que ficava no edifício). Adhemar nem havia almoçado e eu dizia: “Escapa, Adhemar, vai almoçar”.

Ele, no seu estilo de político popular e dedicado, dizia: “Não posso deixar meu povo esperando. Vou comer um sanduíche e vou atendê-los. É para isso que fui eleito”.

Tive pelo menos um entrevero sério com o Adhemar. Foi quando ele estava num evento e eu fazia cobertura e, na pressa de sair para poder veicular a matéria, saí sem entrevistá-lo. Ele se queixou para o velho Diomício, que me chamou para explicar.

Expliquei, mas mesmo assim ele ficou acabrunhado comigo. Levei o caso ao Evaldo Stopassoli, então diretor da rádio, e ele foi categórico: “Estou contigo. Vai firme. O tempo resolverá tudo”. 

Passamos um tempo de cara virada. Mas, pouco depois, Adhemar foi citado como um nome possível para ser candidato ao governo, nomeado pelos milicos (1975, eleição indireta). Não tinha muitas chances, mas estava lá o seu nome na lista.

Adivinhem qual foi o único jornalista que publicamente o apoiou e defendeu como candidato? Euzinho mesmo. Então recebi um telefonema emocionado do Adhemar, quase instantâneo, me agradecendo e retornando à nossa velha amizade, que perdurou até sua morte.

Se Santa Catarina deve muito – o Sul em particular – a algumas pessoas, por certo uma das principais é Adhemar Ghisi. Minhas homenagens a esse guerreiro da vida.

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