Fomos muito próximos por mais tempo nas relações familiares entre irmãos, da cota masculina. A Icleia, única mana, teve convivência mais assídua, pois até moramos em casas contíguas em Araranguá, mas não havia a mesma preferência por coisas como, por exemplo, debates sobre política, cultura e vida cotidiana. Aimberê foi mestre nisso. Discordávamos muito, sem radicalizações.
Ele tinha um jeito singular: acreditava nas conquistas por valores próprios. Mirava um objetivo e ia. Enquanto corria mundo como funcionário do Banco do Brasil: Araranguá, Criciúma, Brasília, Porto Alegre, Blumenau, estudava. Formou-se em Direito. Não quis advogar e mantinha a inscrição na OAB juntando-se a outros colegas em ações mínimas por ano, uma imposição regulamentar (não sei se isso se mantém). Terminou a vida jubilado na OAB, pela idade.
Já falei: Aimberê foi ferrenhamente comunista. Desde os 15 ou 16 anos, estudante do primário ou do secundário. Foi líder estudantil. Seus pendores ideológicos se baseavam em fundos estudos. Dirão: como pode? Podia. Ele tinha sólidas bases de discussão. Uma capacidade imensa. Discordei dele a vida inteira neste aspecto e, por isso, evitávamos discutir sobre. Ele lá e eu cá, conservador na medula. Nossa fraternidade nunca se misturou a isso.
Poderia discorrer sobre alguns detalhes outros de nossa convivência, no âmbito da saudade. Fico no mais singular dos seus atributos: ele tinha por mim uma admiração que, mesmo sendo irmão, nem eu entendia. Era profundo nisso e expunha sempre. E vice-versa.
A sua morte deixou para trás muitas conversas não reveladas, muitos palavrórios ditos nos encontros solos. Coisa que ninguém testemunhou e nem testemunhará. Ficou só pra nós. E irão embora comigo, quando o Aimberê e eu nos encontrarmos novamente e marcarmos uma visita à Boa Vistinha – ainda Araranguá quando nascemos -, só pra matar saudades da terra mãe.