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Aimberê, mano velho: triste com sua partida, mas satisfeito por tê-lo tido conosco numa fértil e maravilhosa convivência neste mundo

Por Aderbal Machado 10/12/2022 - 08:40 Atualizado em 10/12/2022 - 08:42

O mano Aimberê se foi numa noite pesada de sábado, 4 de setembro, após uma intensa luta de 25 dias contra males malditos. Apagou lentamente, relatam médicos. O coração perdeu o ritmo, simplesmente. 

Alimento-me, neste momento duro e pesado, das lembranças. Foi o irmão com quem mais me relacionei diretamente. Fomos parceiros na infância e na juventude. Os últimos a separar-se, com cada um seguindo sua rota. Depois disso, ainda, nos mantivemos ungidos por vínculos afetivos fartamente demonstrados nas breves ou nas longas conversas.

Diametralmente opostos politicamente, jamais perdemos tempo tentando um demover o outro de suas ideias. Jamais. Ficamos cada um na sua e fim. Os papos eram retos e apenas retóricos. 

Aimberê tinha forte cultura histórica. Estudou muito. Viajou bastante pelo mundo. Aproveitou bem seus momentos de pujança física.

Marinheiro saído da Escola de Aprendizes de Florianópolis, seguiu para o Rio de Janeiro, na Escola Naval de Villegaignon, onde permaneceu por três anos. 

Adorava e se orgulhava disso.

Estudioso, tornou-se o único dos seis irmãos a completar curso acadêmico. Formou-se em Direito. Nem chegou a advogar. Apenas se manteve vinculado a ações com outros advogados a fim de garantir seu registro na OAB.

Deixemos de currículo, porém. Prefiro ficar aqui, perto de chorar, rememorando as tantas peripécias vividas entre nós. Em Criciúma, moramos no mesmo quarto e dormíamos na mesma cama, uma peça de casal, a chamada “cama turca”, toda estofada, dos pés à cabeça. Linda e florida, comprada ali mesmo. Era a “Pensão do Seu Frasson”, na rua Marechal Deodoro, em frente à casa dos pais do Nereide Serafim, nosso amigo. Os donos, um casal simpático, nos envolviam mensalmente numa conversa de “inflação”, para aumentar o pagamento do aluguel do quarto. E a gente nem discutia, pois ali também fazíamos nossas refeições à moda italiana, algo incomum, pela fartura e qualidade caseira da “boia”. 

A vida em Criciúma e em Araranguá, em plena infância e juventude, nos balizou a personalidade. Aprendemos, na prática, a sermos racionais, simples (até simplórios) nos nossos gostos e prazeres. Contentávamos-nos com pouco. Ou com o suficiente para nos mantermos vivos. Aimberê sempre foi assim: racional. A ponto de, um dia, decidir vender o automóvel que possuía, por absoluta “inutilidade” de ter algo cuja manutenção e custo não compensava, segundo ele. 

Serviu como funcionário do Banco do Brasil por 25 anos, admitido por concurso. Chegou a ocupar várias chefias, inclusive a gerência do Posto Avançado de Paulo Lopes, onde, recebendo o dobro do salário, investiu em propriedades. Tinha isso: sabia valorizar o dinheiro.

Intelectual reconhecido, autor de várias obras literárias, nem parecia ser, tal a forma comum com que falava com a gente. Dizem que os intelectuais verdadeiros são assim: não demonstram. Ele era. 

Pois o Aimberê se foi e me deixa um legado de força mental e espiritual. Ele era agnóstico, mas tenho certeza que, pela sua obra e vida, Deus haverá de lhe dar a bonificação do livre-arbítrio. Pois mal jamais causou a alguém. Assim, embora descrendo, serviu aos propósitos de Deus, apesar de deles dissentir, filosoficamente. 

Sentirei muita saudade dos seus abraços fortes dos nossos encontros. E, sem dúvida, das sonoras risadas que dávamos contando piadas repetidas mil vezes e, para os demais, absolutamente sem graça. Mas nós sabíamos do que estávamos falando. 

Saludos, grumete. Até depois.

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