Pois de uns tempos pra cá, lá se vão uns trinta dias consecutivos, com uma falha aqui e ali nos dias de chuvarada inclemente, adotei o hábito saudável de andarilhar por aí. Há 26 anos residindo em Balneário Camboriú, na cara da praia – areia e orla a menos de 200 metros de casa – só agora veio a decisão.
E enquanto circulo, registro o cotidiano, cenas, jogo conversa fora, comento coisas, mostro os cenários para quem queira usufruir e assim vai. Junto o útil ao agradável.
Nem foi conselho médico rigoroso. Todos os médicos com quem tratei sempre me aconselharam isso. Desde o venerável Doutor Henrique Packter, oftalmologista, passando pelo Doutor Raymundo Jorge Perez, radiologista e culminando no ilustre Doutor David Luiz Boianowski, pediatra e uma das 99 vítimas da tragédia do avião da TAM em São Paulo. Outros médicos, urologistas, cardiologistas, dentistas, pneumologistas – todos, todos mesmo – recomendaram-me caminhar.
Nunca segui e hoje pago o preço de estar ferrado. Nem tanto, mas ferrado.
Por isso alerto aos navegantes às portas da derradeira curva do circuito: caminhem, caminhem, suas bestas quadradas! É o exercício mais importante, dentre tantos, como a natação. Nada de academia, esteiras, bicicletas ergométricas, supinos. Nada. Só caminhar. E fim.
Relembro duas coisas: quando mostrei a montoeira de comprimidos de minha obrigação tomar para coração, pulmão, saco, pinto, próstata, intestinos, o meu colega Paulo Brito, nobre e destravado cronista esportivo de Florianópolis, sentenciou: “Negão, joga a metade fora e vai caminhar na praia”.
E muito lá atrás, quando consultei em Florianópolis os meus olhos mal sucedidos, com sua sala ainda no térreo do Hospital de Caridade, o Doutor Henrique Packter, perguntado sobre o que não poderia comer num regime contra diabetes e coisas assemelhadas, atirou de bate-pronto: “Tudo o que é bom”. Mas também “receitou” caminhadas. Remédio natural e eficiente.
Essas lógicas curtas e pesadas do Brito e do Henrique Packter fazem-me ver a simplicidade de uma caminhada como sucedâneo de dúzias de remédios.
E então continuo me entupindo de medicamentos imprescindíveis, mas outros abandonei. Meus equilíbrios se alteraram positivamente, o sono melhorou e o resto seguiu bem.
Só o pinto faliu, coitado. Nada é perfeito.