Uma pena a tentativa – ou fato irreversível – de alterar a aparência da Matriz de Nossa Senhora Mãe dos Homens, no meu Araranguá. A intenção e suas explicações dos inventores dessa excrescência histórico-cultural beiram o ridículo.
Imagino aqui os países europeus como Itália, Portugal ou França alterarem seus símbolos históricos – ou o Vaticano, vá lá – à guisa de modernizá-los. Meter uma tinta nova e diferente e uma alegoria fantasiosa na Torre de Belém. Pendurar umas limalhas na Torre Eiffel. Colocar imagens simbólicas modernas no Arco do Triunfo. Ou remontar com concreto as arenas milenares de Roma. Lá não se mexe nesses símbolos. É uma heresia.
O ruim foi lá atrás, em 1957, quando, ao inaugurar a “nova” matriz, derrubaram a anterior à sua frente. Ruim foi lá atrás, quando derrubaram, simples e criminosamente, o coreto da Praça Hercílio Luz. Outra época - é verdade –; as compreensões disso ainda eram superficiais ou nem tanto graves como hoje. Mesmo assim, o exemplo de países europeus (ou Peru, ou Bolívia) vem de longe, de séculos, não de ontem ou d’hoje.
Mas o pior de tudo é lidar com a indiferença, o quase sarcasmo de quem insiste nisso, como se fossem os donos da arbitrariedade e a usarão como bem querem ou entendem, sem interessar o sentimento geral.
A Matriz atual do Araranguá eu vi surgir. Conheci a anterior, por dentro e por fora. Mamãe me levou em ambas dezenas de vezes, eu guri rebelde e carregado quase pelo pescoço pra ir, mas ia. Não ousava contrariar mamãe.
Querer enfiar ali uma alteração visual ou estrutural é desalentador. Um tabefe na cara.
Estão de brincadeira. Letal, vergonhosa, fedorenta, despudorada.
"Desculpem o mau jeito, mas, apesar de longe fisicamente, o Araranguá está no meu coração. Fugi das minhas elucubrações sentimentais e cotidianas e cheguei a este desabafo. Há coisas assim e não consegui calar".
Blog Aderbal Machado
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