Recordações me conduzem às madrugadas frias da minha cidade natal, seis da manhã, saindo da estação no bairro Barranca, resfolegando pelos campos – Maracajá, Sangão (o trem parava para abastecer de água) e finalmente Criciúma. Meu Deus, quanta lembrança daquela cidade carinhosa, a Criciúma da década de 50/60!
A gente cruzava pelo meio da cidade – e vislumbrava as casinhas à margem dos trilhos. Desembarcando na estação, já se descia sentindo aquele cheirinho de café novinho dos bares das redondezas, misturado ao cheiro de pastel e rosquinhas de polvilho. Descendo a Rua Conselheiro João Zanette passava-se pelo Hotel Brasil, que estão demolindo, onde reinava seu Frasson, amigo de papai e nossa hospedagem habitual.
Um pouquinho mais abaixo a “Gruta Azul”, cujo pastel e cuja “batida de banana” tinha algo de divinal. Mais abaixo, a “Casa Roque” e em seguida a “Casa Ouro”. Desses locais tenho até hoje uma saudade imensa, pois faziam parte de um roteiro de infância habitual, incluindo aí a passarela de metal sobre os trilhos.
Tenho noção, ainda hoje, até do cheiro desses locais e da cidade, na sua bruma matinal.
O monumento ao mineiro, no Centro da Praça Nereu Ramos, era uma homenagem ao Congresso Eucarístico Brasileiro de 1946 – realizado na ainda hoje denominada “Praça do Congresso”.
O Nelson Alexandrino, prefeito, mandou demoli-lo (meu Deus do Céu, que heresia!) para no seu lugar construir uma fonte luminosa. Jamais o perdoei por isso. Ele simplesmente desmantelou parte vital da história de Criciúma.
Em algumas dessas viagens fui a Laguna, como contei aqui noutra crônica. Uma epopeia. Cine Mussi, clubes Blondin e Congresso, bairro Magalhães (havia ali um aeroporto, sim senhores, onde pousavam aviões da TAC (Transportes Aéreos Catarinense), Museu Anita Garibaldi e uma imensa história, Morro da Glória, Praia do Mar Grosso.
Criciúma e Laguna daqueles tempos, para quem viveu e conheceu é impossível esquecer. Pena que as lembranças se perdem no tempo (não no meu caso), pois as gerações se sucedem e vão jogando tudo isso no lixo em nome do modernismo, da tecnologia.
Quando hoje falam de música, de arte, de cultura, de amizade, de qualidade de vida, de natureza, de alegria – precisariam retroceder no tempo e viver aquela época. E veriam que, hoje, vegetamos ao invés de viver. O progresso nos fez perder quase tudo.