Dia desses, 24 de outubro, falei sobre a morte de meu pai, ocorrida naquele dia, em 1959, em Araranguá. Hoje homenageio minha mãe, senhora dona Amarfilina, falecida num 1 de novembro de 1980, também no Araranguá. Uma coincidência: ambos faleceram num quarto do Hospital Bom Pastor. Outra coincidência: os quartos em que ambos faleceram ficavam um diante do outro. Porta-a-porta. Essas coisas são marcantes. Porque criam nossas conjecturas de fé, creia-se ou não.
Pois senhora dona Amarfilina (não, jamais a tratei ou tratamos assim, com tantas mesuras. Era apenas "mamãe", mas faço essa questão, porque reina nela um símbolo de mansuetudes e ensinamentos repassados pelos exemplos magníficos.
Ninguém como ela venerava animais. Ninguém como ela tratava a natureza com o carinho devido. Em todos os lugares onde moramos, ficou um rastro indelével de árvores plantadas, maioria frutíferas (verdadeiras florestas); muitas hortas de todos os tipos imagináveis e imaginados eram por ela forjadas e cultivadas com capricho. Jamais adquirimos hortaliças, frutas ou verduras em mercados. Eram dali.
A casa era sempre uma granja. Cheia de aves. E os passarinhos tinham sossego absoluto no nosso terreno. Mamãe abominava fortemente e proibia com rigor quaisquer intenções da gurizada de antigamente de caçá-los. Essa regra está incutida em todos nós desde sempre, por herança de senhora dona Amarfilina: respeito e cuidado com os animais.
E hoje, relembrando-a, doi (ou não) sentir, ainda, saudades de seus toques culinários magistrais e simplórios: feijão saborosíssimo, roscas de polvilho, minestras insuperáveis e cozidos e assados como nunca se viu. Houve momentos de dificuldades lá em casa: a carne ficou vedada por tempos. E então ela inventava sucedâneos. O mais inesquecível: tomates verdes fritos com ovos. Coisa de filme, né? Entanto, era assim.
E então a saudade bate em todos os dias de passagem e das lembranças ruins de sua partida. O bom restante é a sua eterna ventura de nos permitir ser seus filhos.
A bênção, senhora dona Amarfilina, a santa de todos os santos.
Vocês podem ficar imaginando mil coisas pelas quais se perguntam a razão de meu foco em pessoas queridas da família já em outro plano, em várias colunas aqui veiculadas. Explico sem delongas: elas continuam fazendo parte ativa no meu mundo. Tenho dito.