Nunca dei muita pelota para Rita Lee como artista. E quem eventualmente perdeu fui eu. Ela brilhou com absoluto fulgor no seu auge artístico.
E eu continuo o mesmo pé-rapado.
Jogadores de futebol, passei por admirações versáteis: Pelé, Zico, Nilton Santos, Gilmar dos Santos Neves, Didi, Vavá, Garrincha, Cristiano Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Gerson e tantos outros do passado e do presente um tanto quanto remoto. De hoje, pra mim, nem Neymar se salva. Todos estão no pacote das “raras exceções”. E olhe lá. Sim, talvez eu não entenda muito (ou nada) de futebol. Mas é assim. Discordem ou concordem à vontade, não me importo.
A minha admiração é por Sadio Mané, jogador do Bayern de Munique, um senegalês que passou por todas as agruras imagináveis de um africano paupérrimo e explodiu em sucesso. Ah, sim: minha admiração não é por isso. Fosse assim, alinharia outros – do próprio Cristiano Ronaldo até Johann Cruyff.
Minha admiração por Sadio Mané é por sua visão simplista e objetivamente demolidora do sentido social do sucesso que alcançou.
Enquanto Rita Lee, nossa artista, ganhou minha admiração dando uma opinião pujante ao pedir para envelhecer sossegada (“esqueçam Rita Lee e me deixem em paz” – na verdade ela soltou um sonoro “foda-se Rita Lee”). Me ganhou porque resumiu num desabafo o quanto vale estar em paz consigo mesmo na derradeira quadra da vida, sem nenhuma ilusão tola.
Sadio Mané, perguntaram-lhe quantos carros tinha, quantos aviões, quantas mansões. Ele respondeu: “Pra que eu quero isso? Eu sei de onde vim; eu passei fome. Meu dinheiro é para ajudar meu povo”. E complementou que dá 70 euros para cada morador de sua cidadezinha do Senegal, construiu hospitais, escolas e estádios.
Como não admirar Rita Lee e Sadio Mané? Fique apaixonado por ambos. E quem tiver a cabeça no lugar também fica.