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Tradição de receber, reclamar e gostar

Por Aderbal Machado 20/01/2024 - 08:18 Atualizado em 20/01/2024 - 08:19

Quem mora na praia sabe: nas temporadas as visitas aparecem como se brotassem do chão. Cá em casa é assim. Com uma diferença: as visitas brotam do chão há quase uns 15 anos, sei lá. Por aí. Não erro por muito. Todo ano. Jogam meu sossego na lata do lixo, amontoam malas, roupas, colchões, travesseiros por todo canto, se empilham pelos vãos da casa e minha liberdade de andar pelado acaba.

Dentre as positividades: fazem comida, compram inclusive, varam madrugadas e noites nos carteados e, suprema maluquice: ficam no sol de manhã até a tarde, lagarteando na beira d”água. 
Falando-se em Balneário Camboriú, num apartamento a 100 metros da areia da Praia Central, pior ainda: parece um chamariz de doido, embora o doido seja eu. Pra cá vêm meu cunhado, mulher, duas filhas e algumas visitas avulsas de vez em quando, trazidas a tiracolo por eles, lá de Curitiba.

Não, não estou reclamando (até parece...), apenas elucubrando... 

Cabe um kkkkk aqui. 

Meu cunhado, Carlos Alberto Mariani, irmão de Dona Sonia, filho de Noé Moraes Mariani e neto de Hermenegildo Colombo do Rio Maina – o velho Gildo, já nos eternos campos de caça fumando palheiro e falando mal de mim. E, claro, de Dona Maria Venturini (irmã de conhecidíssima Irmã Ana Luísa, a eterna monitora do Colégio São Bento de Criciúma  – e ninguém, respeitando os demais, deixou tanta saudade quanto ela. Anfitriã de mão cheia, dona Maria adorava receber netos, netas, genros, noras e filhos em sua casa, ali no Bairro Pio Correia. Sua especialidade era fazer comida para batalhões num fogão a lenha – sempre fervendo a chapa com toras de lenha abastecidas a cada hora pra manter o fogaréu aceso e o feijão borbulhando sempre.

Estou misturando as etapas justamente para causar. Dizer: isso vem do sangue, é atávico. Por linhas diretas e indiretas. Porque receber e cozinhar divinamente, mamãe também gostava e fazia. Mas era uma cabocla de hábitos mais recatados – mas cozinheira de mão cheia e mestre em desatar nós de nossas consciências e almas. Seu analfabetismo parecia mentiroso, tal sua capacidade de compreender vicissitudes e idiossincrasias dos seus.

E essa mistura dos tempos revela, a meu ver, outra coisa: reclamo, mas gosto.

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