Uma pouco de nostalgia histórica.
Quando nos dias de homenagem aos finados (2 de novembro), mamãe nos levava em uma quase maratona, andando da Praça Hercílio Luz até o cemitério do Araranguá. Uma caminhada e tanto. Todo ano, de forma sagrada. Contrito, olhava eu para as coroas brilhantes nas cúpulas dos túmulos e ia passando um a um, olhando as imagens dos falecidos, muitos dos quais meus conhecidos ou conhecidos da família.
O túmulo onde jaziam os restos de meu avô Bernardino Machado e do irmão mais velho falecido por afogamento no rio Araranguá no dia 16 de agosto de 1943 aos 15 anos de idade, Adherbal Telésforo, ficava lá pelo meio, antes duma reformulação ocorrida em que fomos obrigados a refazer o jazigo noutro local, onde está até hoje, com transferência dos restos mortais.
O ponto histórico é que, atrás desse túmulo, havia o de Apolinário João Pereira, político local de grande prestígio no final do século XIX, falecido quase ao final do século (18 de novembro de 1900), de infarto fulminante, enquanto dançava num baile festivo em comemoração à sua reeleição à Assembleia Legislativa. Está nos registros históricos.
No túmulo, só uma inscrição: “Coronel Apolinário João Pereira”.
Ainda menino de pouco mais de 10 anos, eu olhava aquele breve histórico no túmulo de alguém a quem eu considerava um herói – pelas lições de história ditas por papai nas tertúlias eventuais de tardes quentes. Ele conheceu Apolinário pessoalmente.
Apolinário foi prefeito, deputado estadual, promotor público e escrivão.
Um ícone da cidade.
Mais valiosa ainda a lembrança ao saber de sua proximidade com meu avô, Bernardino Machado, pois foram parlamentares juntos na Assembleia Legislativa até 1897.
Bernardino, aliás, foi nomeado como o prefeito de Palhoça – o primeiro – por Floriano Peixoto.
Essas raízes, às vezes, nas minhas elucubrações, inspiram fantasias.
Afinal, penso, venho de uma cepa nada desprezível. Talvez não mereça a honra, mas sou de lá egresso.