Tem uma guerra láááá na Ucrânia.
Moyse foi assassinado à pauladas lááá no Rio.
Você soube do cara que atirou na esposa láááá naquela cidadezinha longe daqui?
Como o mundo anda violento, não?
Posso quase apostar que você conhece alguém que já disse uma dessas frases. E que, talvez, este alguém seja você.
A violência é insuportável. Assisti-la desagrada, afeta, incomoda.
Mas a gente suporta assistir, quer saber, abre portais de notícias, se atualiza no rádio, fica atenta nos feeds no nosso curto e curioso tempo.
É para se informar. Mas, quem sabe, seja também para não se deformar.
É que conhecer o mal do mundo pode ser duro, mas não tanto quanto reconhecer o mal em nós.
A gente insiste em acreditar que há um vilão e um mocinho. Um Deus e um Diabo. Um céu e um inferno.
E, nesta esteira, se há um bem e um mal, e se há quem invada territórios, quem seja capaz de bombardear, aquilo é o mal. Logo, eu sou o bem.
Se há um certo e um errado, e se há quem espanque, quem seja capaz de assassinar, aquilo é o errado. Logo, eu sou o certo.
Racista é quem espanca até a morte.
Machista é quem proíbe a esposa de trabalhar.
Violentos eram os pais que deixavam marcas na pele, ou quem bombardeia lares de famílias inteiras.
Eles.
Nós, bem, somos o bem e o belo. Erramos, às vezes, é verdade, mas nossos erros são humanos. Nos sentimos culpados, é verdade, mas a culpa se alivia com o perdão.
Talvez você esteja pensando agora que há uma desproporcionalidade gigantesca entre cada uma destas situações, e eu concordo com você. O que eu quero aqui é te convidar para, com a mesma coragem que você enfrenta as duras notícias sobre a violência para não ser mais um sujeito alienado do mundo, você se permita, com curiosidade gentil, alienar-se um tanto menos de si.
Ninguém é uma coisa só. Eu sou boa, e sou má. Há bondade em você, e também há maldade. Eu, você, os seus e os meus, estranham, se afetam e temem a maldade no mundo. Quem sabe a gente possa olhar com ajuda mais atenção para a maldade que há, também, aqui, em nós.