Filhos não vêm com manual.
Por favor, tire o tom de lamentação desta frase. Filhos não vêm com manual e isso é ótimo.
Manuais servem para coisas em que há um jeito certo e, portanto, um jeito errado de usar.
Repare:
Eu disse "coisas";
Eu disse "usar".
Por quê, então, filhos viriam com manual?
Não há manual porque não há certo e errado.
Há vida. E a vida, ah, você sabe, é muito mais complexa do que as coisas que podem ser usadas.
Desconfie, portanto, das certezas em relação aos filhos.
Até porque elas falam dos resultados, não dos processos.
Elas dirão, por exemplo, que o certo é que a criança durma no seu próprio quarto.
Dirão que o certo é amamentar a cada três horas, durante o dia, é claro. A noite, o certo é que os filhos durmam sem associar ao peito.
Dirão que o bebê precisa ganhar x gramas para se enquadrar à tal curva.
Dirão que embalos e colos são errados. Que acostumam mal.
Dirão que dentes inferiores nascem aos seis meses e superiores aos nove. Que bebês falam por volta de um ano e desfraldam com dois.
Dirão que devem engatinhar com seis meses e caminhar aos doze.
Dirão tanto! Dirão muito!
Mas como? E a que preço?
A vida é mais complexa, muito mais complexa do que essas métricas.
E sabe o que mais? Ela é fluida, espontânea, é um entrelaçar de tanto que não cabe em polaridades.
Nem certo, nem errado.
Nem bonito, nem feio.
Filhos são vidas. Como tal, têm desejos, vontades, preferências.
Têm história.
Têm ritmo.
Filhos não têm protocolo.
Não têm manual.
E isso é incrível!