Zygmunt Bauman, importante sociólogo polonês, dizia que a modernidade é líquida. Assim, os relacionamentos modernos seriam fluídos, volúveis, momentâneos e, em minha opinião, não há como retratar isso melhor senão com os aplicativos de namoro.
Tudo bem, os "serviços de paquera" não são novidade: em 1930 um restaurante em Berlim colocou telefones em suas mesas, o que permitia que, caso um cliente tivesse interesse por outro, pudesse facilmente fazer uma ligação para o número da sua mesa-alvo. Ainda assim, há 15 anos, apenas 2% dos casais se uniram por meio de sites de namoro. Em contrapartida, a tendência é que até 2040, 70% dos casais se conheçam por meios virtuais.
É claro que há ganhos com esta realidade. Vejo no consultório, por exemplo, que pessoas com dificuldades relacionais tendem a se sentir mais à vontade no ambiente virtual, inclusive para iniciar uma conversa ou demonstrar claramente seu interesse afetivo-sexual. Isto porque a exposição é menor: caso você não ganhe o match, ou seja, caso aquele por quem você se interessa não se interesse também por você, foi apenas um deslize de tela para a opção “sim” e não tempos de investimento de energia e clara demonstração de afeto. Além disso -e este ponto torna-se vantajoso ou não de acordo com seus interesses ou dificuldades - amores sinceros se perdem entre tantos “sins" para relações casuais.
Agora, em contrapartida, estudos das áreas de sociologia e psicologia já apontam um alto grau de desinteresse, de forma aligeirada, nas pessoas que utilizam estes aplicativos. Em uma sociedade como a nossa, em que você pode ter tudo rapidamente e com facilidade à sua disposição, escolher alguém por uma ou duas fotos e uma breve descrição é cabível, mas não dá pra dizer que não é, ao menos inicialmente, superficial.
Por isso, tudo bem se você quer utilizar os aplicativos. Estas e outras tecnologias estão disponíveis, afinal de contas, para facilitar a nossa vida. Mas se o seu objetivo vai além de um encontro casual, talvez seja importante escrever verdadeiramente quem você é e usar as fotos que você realmente se sentiu a vontade - não aquelas que os seus amigos disseram que você saiu bem. Assim, quando um match acontecer, a pessoa já terá uma ideia de quem você é – de verdade. E, quando encontrar alguém, invista em ir além da superficialidade. As histórias das comédias românticas, aquelas que dão a ideia de que o amor é algo que "simplesmente acontece” conosco, não são exatamente o que eu chamaria de retrato da realidade. Além do mais, a falsa impressão de ter algum controle sobre isto dando vários matchs - afinal, se tem que acontecer, por que fazer um grande esforço? - também não é completamente verdadeira.
O fato é que as tecnologias são um grande atalho inicial, mas o amor é mais complexo que isso: requer cuidado, atenção, risco e, inevitavelmente, exposição.