Esta semana recebi num grupo de whattsapp um texto que defendia a palmada com o argumento de que boa parte de nós, hoje adultos, apanhamos quando crianças e sobrevivemos a isso. Obviamente, não é a primeira vez que tenho contato com esse argumento, mas cada vez mais me incomoda perceber que nós avançamos em muitas coisas, mas ainda achamos ok bater em crianças. Por isso, decidi trazer para o blog uma reflexão sobre a disciplina positiva.
A disciplina positiva é uma moderna abordagem da psicologia da educação que acredita que “controlar” os filhos pelo medo ou pela dor só provoca vergonha e baixa auto estima, mas nenhum ou, no máximo, muito pouco resultado. Quem afirma isso é uma pesquisa recentemente publicada, que envolveu mais de 15 mil famílias de 20 países, especialmente com pais de crianças de 2 à 10 anos e com comportamento explosivo. A pesquisa confirmou que a melhor intervenção com as crianças, ou seja, aquela que obteve maiores e melhores alterações de comportamento, levava em conta a empatia e fazia com que a criança percebesse que suas atitudes têm consequência. Podemos dizer, portanto, que o exercício na disciplina positiva é nos colocarmos no lugar da criança - nunca no mesmo patamar para competirmos com ela.
Uma régua que o próprio estudo aponta é: elogiar bons comportamentos ao menos duas vezes mais do que recriminar por mau comportamento. Será que você já cumpre esta medida?
O fato é que nós vivemos pedindo por respeito nas nossas relações, então por que a criança não merece o mesmo? Além disso, todos nós sabemos que crianças aprendem pelo exemplo e não pelo que falamos. Então, do que adianta dizer que ela não pode bater o colega da escola se, quando isso acontece, o que nós fazemos é justamente bater?
Tudo bem, eu sei que você foi educado assim e sei mais ainda que nós temos uma incrível tendência a reproduzir aquilo que conhecemos. Mas pense um pouquinho: como é que você se sentia quando apanhava? Eu sei que é difícil mudar nossa forma de agir diante do mau comportamento dos pequenos, mas sei também que ttambém dói em você quando a criança apanha. Então, vou te dar uma dica: ficou incomodado? Estressado? Irritado? Vai perder a razão? Saia de perto, respire, retome seu controle. Afinal, é justamente o seu descontrole que aparece quando você bate,nunca o da criança.
"Agora, Ananda, quer dizer que eu nunca vou poder dar uma palmada?" Ora, se isso é realmente importante para você, lembre-se de uma coisa: você não quer espancar seu filho, eu tenho certeza disso. Mas, a verdade é que se da primeira vez nós dermos um tapa, a segunda pedirá por dois, depois por três, e aí recorreremos à cinta, à varinha, ou seja lá o que for, para não corrermos o risco de ouvir da criança aquilo que todos nós já dissemos um dia: “nem doeu”. Então, vamos lá: se não consegue abrir mão da palmada, use-a apenas diante do mau comportamento mais grave do seu filho ou filha. Na pior de todas as situações, no pior comportamento de toda a vida de seu pequeno. Se você, algum dia, tiver a certeza absoluta de que ele nunca fará nada pior, eu prometo que não vou te julgar pela palmadinha. Mas, será mesmo que você conseguirá ter esta certeza?