Nossa vida, caro leitor, é inteiramente marcada por fases. Primeiro bebês, depois diversas etapas da infância, adolescência e, de repente, adultos. Nesse estágio, são muitas as fases que se definem pelas escolhas, mas também pelos fatores e circunstâncias externas. E ai, chega a velhice, outro período repleto de particularidades e também de limitações. O fato é que todas essas fases possuem entrançamentos no tempo, ou seja, elas são completamente intermediadas pela finitude: tudo que começa, em algum momento, experimenta seu fim.
Somos sempre convocados a refletir acerca de nossas decisões, escolhas, reações e comportamento, afinal, a janela da mudança e da renovação está sempre aberta para nós. Assim acontece quando, por exemplo, mudamos de emprego, iniciamos um relacionamento amoroso ou fazemos aniversário. Igualmente, parece que o natal nos chama à uma grande reflexão: ele nos chama à pensar sobre as nossas relações familiares. É claro que não é o natal, digo, a data em si. A questão é que por todos os lados nós ouvimos chamados à celebrar a data com os seus, à comemorar a família com a família. E sim, isto é maravilhoso, não é mesmo? Aliás, na cultura cristã, este é um dos verdadeiros sentidos do natal.
Mas, contraditoriamente, todos os finais de ano, o meu consultório fica cheio de pessoas preocupadas em resolver seus conflitos familiares para tentar amenizar os possíveis problemas dos encontros natalinos; ou de pessoas cuja relação familiar não é nem de longe saudável como a televisão pinta; ou ainda daquelas pessoas que se incomodam com o ar de bem estar que se instala na ceia entre pessoas que brigaram durante todo o ano. E talvez você faça parte do grupo daqueles que amam o natal e veem sentido nos encontros familiares, e eu fico feliz por isso. Mas, talvez você não esteja neste grupo...
Então quer dizer que é errado ou perda de tempo celebrar o natal? Lógico que não! Estar aberto ao renascimento, à esta nova vida que é apresentada pela ideia de natal repercute num cenário bastante favorável para a saúde psíquica, de modo que as ocasiões ou as pessoas das quais você não é muito fã podem se tornar fontes de aprendizado, superação e até de surpresa positiva, quem sabe, né? Portanto, não importa se você crê em Jesus, Papai Noel, Iemanjá ou se não crê em nenhum deles, pois a questão central é poder encarar o Natal como uma porta a se abrir, uma nova chance de ser e fazer melhor, independente do que passou, seja no seu relacionamento familiar ou até no seu relacionamento consigo mesmo.
Quando nosso olhar está atento às possibilidades de crescimento, nós temos muito mais condições de transformar nós mesmos e nossa realidade - isso serve para todos nós, independente do quão saudável ou não é nossa relação com a família. E ai, se você conseguir enxergar esta possibilidade na mesa da ceia, rodeado de seus familiares, tudo bem. Se não for lá, tudo bem também. No fundo, no fundo, este é um ciclo de muitos que você vai iniciar e concluir em sua vida. Aliás, todo dia é um novo ciclo. O que você está fazendo com o ciclo de hoje?
Do seu jeito, com o seu normal, eu desejo um feliz dia de natal!