Vamos falar sobre carga mental? Talvez você nunca tenha ouvido falar sobre o tema, mas certamente conhece alguém que vive esta situação - talvez, inclusive, seja você.
As questões relacionadas à carga mental começaram a ser estudadas com mais afinco no final do século passado, quando pesquisadores identificaram que pessoas, sobretudo mulheres, que eram responsáveis por toda o planejamento e gestão familiar eram as mais acometidas por transtornos mentais comuns (grosso modo: depressão, ansiedade e somatizações). Carga mental é o nome que damos à necessidade de pensar sem parar nas coisas que precisam ser feitas, planejá-las e aí, algumas vezes, delegá-las. É pensar em todo o trabalho quase que invisível que faz o um ambiente doméstico funcionar, como a preocupação porque logo vai acabar o papel higiênico e é preciso colocá-lo na lista de compras, o medo de esquecer de marcar uma consulta médica, lembrar de comprar a ração do cachorro, providenciar a manutenção do terno que será usado no casamento do final de semana, renovar a matrícula da escola das crianças… Enfim, para que você possa se dedicar para estas coisas - ou até para que você possa delegá-las - é preciso primeiro pensar sobre cada uma delas.
Com o final das férias, esta semana meu consultório ficou cheio de mulheres que diziam não aguentar mais. Segundo elas, não fizeram nada nas férias: elas não trabalharam, tiveram ajuda dos familiares, mas, ainda assim, estavam sem energia alguma. Aí, quando nós começamos a questionar as razões do sofrimento, percebemos que a questão está justamente na ajuda: elas não lavavam a louça após o almoço, mas isso só acontecia porque já haviam solicitado que o filho mais velho lavasse enquanto o pai levava o cachorro para passear e elas davam uma ajeitadinha no banheiro. O esposo, segundo algumas, até colaborou com a organização, sempre que elas pediam para não deixar o chinelo de praia na porta da casa. Ou seja, este trabalho é interminável e, pior, invisível.
A carga mental costuma adoecer quem precisa lidar diariamente com ela, mas também adoece seus relacionamentos nucleares. Perde-se energia, humor e desejo de viver, o que acaba, inevitavelmente, repercutindo em quem está ao seu redor. Por isso, que tal se, mais do que fazer aquilo que ela pediu, nós conseguirmos nos antecipar ao pedido? Aqui eu costumo ouvir, sobretudo dos esposos “Se as mulheres querem que deixemos de ser menos “executores”, talvez elas devessem deixar de nos dizer que tal coisa deveria ser feita de outra maneira ou que não era necessário fazer isso ou aquilo” - e a verdade é que eles não estão de todo errados.
Sendo assim, minha sugestão é: identifique qual a sua posição. Eu sou a pessoa que centraliza a gestão e antecipa as ações dos meus familiares? Então é preciso que eu aprenda a deixar o outro fazer, da forma e no tempo dele. Se, por outro lado, eu sou aquela que aguarda as orientações e diretrizes para agir, seria necessário treinar o olhar para dividir o peso, a carga mental, para que cada um seja o gestor de seu próprio setor – afinal, não é isso que nos ensinam as empresas?
Lembre-se: sua família é um sistema. Todas as peças precisam funcionar bem e juntas. Até porque, se uma delas adoece, todo o sistema sofre.