Pois é. Quando escrevi pela vez primeira algo publicado pela imprensa meus filhos criticaram acerbamente a maneira pela qual me apresentei, cheia de estrelismo, disseram. Mas, se não falo eu de minhas conquistas, quem falará?
Querem ver? Sou oftalmologista desde 1960, são 60 anos de prática médica na mesma especialidade. Numa sexta-feira de um ano longínquo, em cidade distante, agendei duas cirurgias que realizei a partir das 14 horas. A primeira era uma injeção intraocular de substância antiangiogênica, procedimento revestido de grande simplicidade e de execução rápida e fácil. A segunda cirurgia era uma catarata com implante de lente intraocular. Ambas cirurgias decorreram na mais absoluta normalidade. Terminada esta última, deitei-me na maca que utilizara para realizar os atos cirúrgicos e fui, por minha vez, operado de catarata. Conhecem caso igual?
Formado em Medicina em 1959 na Universidade Federal do Paraná, já em janeiro de 1960 estava trabalhando em Criciúma SC na condição de único Oftalmo-Otorrinolaringologista da cidade. Mais do que isso: entre Criciúma e Florianópolis (200 km) havia apenas outro colega na especialidade em Tubarão. De Criciúma para o sul só havia colega na especialidade em Porto Alegre, a 291 km!
Subindo a Serra do Rio do Rastro apenas em Lages havia colega na especialidade, a 200 km. Esta vastidão toda era atendida por apenas dois médicos. Na extensa zona carbonífera acidentes ocorriam diariamente, muitas vezes revestidos de gravidade, em especial as temíveis explosões no subsolo. Dificilmente saíamos de férias ou para qualquer outro evento, postos em sossego. Telefones, mesmo fixos, eram raridade. Se saísse do roteiro fornecido ao hospital era comum a ambulância do IAPETEC ou do hospital ou ambas correrem a cidade à nossa cata.
Quando casei tive uma semana de lua-de-mel, contadinha.
A CASPA VENÉREA
Meu velho barbeiro morrera, hora de buscar outro para aparar-me os cabelos. Escolhido o profissional, minha mulher investiga o estabelecimento e volta torcendo o nariz. É verdade, o velho local não era nenhuma maravilha, primava pela simplicidade e parecia quase limpo e higiênico apesar dos montinhos de cabelos no chão, na barbearia de um só barbeiro.
- Vais acabar pegando uma caspa venérea -, sentenciou.
O PANDEMÔNIO DA PANDEMIA OU QUE PAÍS É ESSE?
"Não é uma recomendação nossa, é uma autorização."
A PANDEMIA PROPRIAMENTE DITA ou A FUNÇÃO DO MÉDICO É CONFORTAR OS AFLITOS E AFLIGIR OS CONFORTADOS
Escrevo nos primeiros dias de julho de 2020 quando a pandemia do covid-19 faz o mundo chorar 554.924 mortes. Dessas, o Brasil contribuiu com 69.254, 12% dos óbitos, para mais uma peste (por extensão), de origem chinesa. A imprensa mundial já noticia que outra peste similar, ou ainda pior, originada na mesma região asiática, ameaça eclodir. O total de vidas humanas perdidas no mundo equivale hoje ao desaparecimento simultâneo das cidades de Joinville e Araranguá em SC onde há 112 dias morrem 4 pessoas da Pandemia, diariamente.
Os terríveis números pandêmicos fazem lembrar trabalho de historiador israelense contemporâneo quando afirma terem sido as preocupações da humanidade, durante quase três mil anos, a fome, a peste e a guerra. Parece faltar uma quarta preocupação para formar com o trabalho, ou melhor o (des) emprego, o quarteto das nossas sofrenças.