Criciúma perdeu, com o falecimento de dona Zulcema, uma das mulheres mais marcantes da sua história. Faleceu Dona Zulcema Póvoas Carneiro aos 100 anos de idade. Ela completou seu centenário em 23 de novembro 2019. Professora, ela foi fundadora da primeira escola particular de Criciúma, em 1941.
Dona Zulcema nasceu em Florianópolis em 22.11.1919, vindo a falecer cem anos depois em 19.12.2019.
Zulcema era filha de Agenor Mamede Póvoas e Ernestina Lemos Póvoas. Casou-se com Mário da Cunha Carneiro, filho de Jorge da Cunha Carneiro e Vitória Búrigo Carneiro.
Era mãe de 4 filhas: Zurene (casada com Vilson Sônego), Kátia (casada com Clodomir José Crippa), Maria Ernestina (casada com Dr. Celso Thadeu Menezes) e Sílvia Regina (casada com Reinaldo Stuart Júnior).
Professora normalista, desembarca em Criciúma em 1941. Passa a lecionar no Grupo Escolar Professor Lapagesse e em 1942 funda o Curso Particular Póvoas Carneiro, do qual foi diretora e professora até sua extinção em 1962. Dirigiu os grupos escolares Professor Lapagesse, Humberto de Campos e Heriberto Hülse.
Foi Inspetora Regional de Educação da 4ª Região Escolar (Criciúma, Urussanga, Içara, Siderópolis, Nova Veneza e Morro da Fumaça). Presidiu o Centro Cultural José de Alencar em Criciúma.
Aposentada como diretora do Serviço de Arquivos do Tribunal Regional do Trabalho, instituição para a qual serviu através de concurso público, em 02.08.1994 é Cidadã Honorária de nossa cidade.
ONDE JOSÉ ADELOR LESSA E DONA ZULCEMA PÓVOAS CARNEIRO SE ENCONTRAM
José Adelor Lessa relembra seu início como jornalista em Criciúma, vindo de Araranguá, fazendo cobertura de uma eleição do Sindicato dos Mineiros de Rio Maina. Este sindicato era uma espécie de sindicato teleguiado, acoimado de pelego e que existia porque interessava à classe patronal sua existência. Assim, estabelecia uma espécie de contrabalanço com o sindicato na cidade de Criciúma, sem vinculação de dependência com a classe mineradora patronal. Esta eleição, como as outras do mesmo sindicato eram marcadas por troca de votos e urnas para favorecer a chapa patronal.
Lessa escreveu sobre tudo o que ocorreu na eleição, como era de seu costume. Porém, intuindo da periculosidade de divulgar eleição sindical em Criciúma, onde nervos e cafeteiras ferviam, procurou esconder sua condição de jornalista.
Vai daí e ele peticiona para obter seu registro como jornalista. Registro de classe era concedido sem qualquer restrição, delonga ou demora, porém, na vez de sair o registro de Lessa, as coisas foram diferentes e o bendito registro não saia. Foram muitas as vezes que viajou a Florianópolis atrás do documento.
A coisa não andava e calha ele viajar a Florianópolis justo em dia de feriado facultativo. Não havia vivalma no prédio, exceto por uma senhora que se acerca de Lessa e quer saber o que ele deseja naquela repartição em dia de meio-feriado. Faz perguntas, manifesta solidariedade quando sabe tratar-se de criciumense postiço, como ela. Dá-lhe água, cafezinho...
E, só assim o registro profissional saiu. Era juiz togado do Ministério do Trabalho o Dr. Airton Minoggio do Nascimento. Teve ele nomeação em 21.08.1984 e posse em 10.09.1984, nomeado que fora em 1984. Dr. Airton Minoggio do Nascimento foi nomeado para exercer o cargo de juiz togado daquele Tribunal do Trabalho, em vaga destinada ao Ministério Público da União, pela aposentadoria do juiz Dirceu de Vasconcelos Horta.
Airton Minogio fez questão de entregar pessoalmente o documento, assinalando que Lessa devia o recebimento do seu registro graças à Professora Zulcema Póvoas Carneiro.
A FORMATURA NA ESCOLA PARA FORMAÇÃO EM TÉCNICOS DE ENFERMAGEM
Dona Zulcema estudou na escola de enfermagem do Hospital São José, Criciúma, escola que hoje conta 54 anos e forma Técnicos em Enfermagem. Ela já não era tão jovem assim, mas o entusiasmo era o de uma garotinha. Titulada, passam-se alguns anos e um dos genros, filho do Dr. Celso Menezes, decide estudar Medicina, em Buenos Aires. Lá, bastava apresentar alguns poucos documentos e, sem vestibular, sem mais nada, você já estava estudando para ser médico. Dona Zulcema decide acompanhar o neto e acaba se matriculando juntamente com o menino e se constitui em pouco tempo em grande atração no país do Prata. Uma celebridade. Era entrevistada nos canais de TV, rádio, nos jornais e revistas. Os jornais disputavam-na para entrevistas, palpites, para propagandas ou o que fosse.Apontada nas ruas e no comércio, Zulcema brilhou em toda a linha.
Infelizmente, o que é bom dura pouco e eis que chega o inverno platino e com ele uma afecção crônica de brônquios que obriga nossa heroína a abandonar os estudos, nos quais, diga-se de passagem, ela estava se saindo muito bem.
DONA ZULCEMA CEM ANOS DEPOIS
Zulcema retorna a Criciúma e o sonho de tronar-se médica é abandonado para todo o sempre. Os jornais amanhecem, certo dia, abrindo manchetes:
“Criciúma perde dona Zulcema Povoas Carneiro” e “Professora, foi uma das fundadoras da primeira escola particular da cidade”.
“Criciúma acaba de perder uma das mulheres mais marcantes da sua história. Faleceu Dona Zulcema Póvoas Carneiroagora, faz pouco, aos 100 anos de idade. Ela completou centenário de existência mês passado, dia 23 de novembro. Professora, ela foi fundadora da primeira escola particular de Criciúma, em 1941 (19.12.2019)”