Em 6/6/1966 foi afastado do cargo de governador, pelo presidente da república, Castelo Branco, tendo seus direitos políticos cassados por dez anos, sob a acusação de corrupção. Teve confiscadas todas as suas condecorações.
O pretexto para a cassação do mandato de Adhemar, que fazia oposição ao regime militar, foi a acusação que Adhemar teria feito nomeações de funcionários públicos em número excessivo. A 4 de junho, dois dias antes de ser cassado, Adhemar publicou no Diário Oficial do Estado de São Paulo, nota, garantindo que as nomeações eram legais e uma necessidade administrativa. Foi substituído pelo vice-governador Laudo Natel que concluiu seu mandato e governou até 31.01.1967.
ÚLTIMO EXÍLIO E MORTE
Exilou-se, pela terceira vez em sua carreira política, em Paris, França, logo depois de ter sido o mandato de governador cassado, seu terceiro mandato político a ser cassado.
Adhemar foi operado, janeiro de 1969, de hérnia e litíase. Em 7 de março, tentou se curar no santuário e gruta de Lourdes na França, onde se acredita haver águas milagrosas. Em Lourdes teve uma síncope. Faleceu, em Paris, em 12.3.1969 aos 68 anos, metade deles dedicados à vida pública.
Seu corpo foi transladado para o Brasil. Do Aeroporto de Viracopos, que ele construíra, até SP, pela Via Anhanguera, que ele também construíra. O cortejo fúnebre chegou a dez quilômetros de extensão. Foi enterrado no Cemitério da Consolação, região central da capital paulista, em 16 de março, com grande presença de público. Foi executado o toque de silêncio para o veterano da Revolução de 1932.
HOMENAGENS
Recebeu condecoração póstuma, em 1982, pelo governador do estado de SP, Paulo Maluf, um ademarista, quando foi admitido no grau de Grã-Cruz, no Quadro Regular da Ordem do Ipiranga. Lei estadual de 1980, também da época de Paulo Maluf, dá o nome de Dr. Adhemar Pereira de Barros ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Foi homenageado, também, dando-se o seu nome à rodovia SP-340 (Rodovia Governador Doutor Adhemar de Barros), que liga Campinas a Águas da Prata. Em 1978, na capital paulista, a Escola Municipal de 1º Grau do Jardim Ipê, tornou-se a "EMPG Prefeito Adhemar de Barros". Lei estadual de 9.11.1984, institui, no estado de SP, a "Semana Doutor Adhemar de Barros", comemorada, anualmente, de 22 a 28 de abril.
Em 2001, foi comemorado o centenário de nascimento de Ademar, tendo, sua família, doado seu arquivo particular ao Arquivo do Estado de SP e lançado site e livro sobre sua vida e obra.
Projeto do senador Henrique de La Rocque Almeida, 1980, visando à anistia a Adhemar, devolvendo-lhe suas condecorações, não prosperou, sendo arquivado em 1984.
ESTILO ADHEMAR DE GOVERNAR
Construiu usinas hidrelétricas e muitas rodovias de grande porte, continuando a tradição do ex-presidente da república Washington Luís, do qual Ademar era admirador confesso. Adhemar declarou em 27.12.1938:
“O programa rodoviário idealizado pelo ex-presidente Washington Luís será por mim integralmente realizado. Abrir estradas! Eis aí uma das acertadas soluções para o desenvolvimento econômico-financeiro do Estado. Convencido da oportunidade desta medida, estudei a realização de uma completa rede rodoviária, a unir todos os centros produtores, estes com as saídas naturais da riqueza estadual!”
"Por outro lado realizou também muitas obras e ações de caráter social, construindo escolas, bibliotecas no interior do estado, hospitais e sanatórios, afirmando, no seu manifesto de candidato à presidência em 1960, que:
“Por onde passar a energia elétrica, passarão o transporte, o médico e o livro"
Uma característica fundamental de Adhemar era a ênfase no planejamento das ações de governo, no qual foi um dos pioneiros no Brasil.
O estilo político "tocador de obra" e seu visual característico: mangas de camisa arregaçadas e suspensórios, se opunha ao populismo conservador e moralizante de Jânio Quadros. Esse estilo "tocador de obra" retornaria posteriormente, nas gestões de outros governadores, como Paulo Maluf e Orestes Quércia que, em alguns casos, incorporaram partes desse figurino ademarista de tocar obras, arregaçar a camisa e amassar barro.
Adhemar era capaz de grandes frases de efeito, e uma das suas frases mais conhecidas foi chamar, por ter grande concentração de comunistas, a atual Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de SP de "Abacaxi deixado pelo doutor Armando de Sales Oliveira".
Suas campanhas eleitorais eram bem elaboradas, sendo que Adhemar e Hugo Borghi são considerados os pioneiros do marketing eleitoral no Brasil.
Um dos slogans de campanha eleitoral de Adhemar de Barros, não assumido abertamente, era "Ademar rouba, mas faz", que, apesar de ser frase cunhada por seu adversário Paulo Duarte, acabou por ser lema de sua campanha eleitoral para prefeito de SP em 1957, promovendo-se sobre as inúmeras acusações de corrupção, na época as "negociatas".
Foi acusado também de desvio de verbas públicas nos períodos em que era chefe do executivo paulista. E quanto a desvio de verbas, seus adversários diziam que existia a "Caixinha do Ademar" para financiar suas campanhas eleitorais. Em reposta à crítica, os ademaristas tinham refrão popular, composto por Herivelto Martins e Benedito Lacerda:
“Quem não conhece?
Quem nunca ouviu falar?
Na famosa 'caixinha' do Adhemar.
Que deu livros, deu remédios, deu estradas.
Caixinha abençoada!"
O mais comentado processo contra Adhemar foi, em 1956, o "Caso dos Chevrolets", que teve seu desdobramento no "Caso dos caminhões da Força Pública" (a atual Polícia Militar), levando-o a exilar-se no Paraguai, Bolívia e Argentina por 6 meses e 25 dias. Seu biográfo, Carlos Laranjeira, em "Histórias do Adhemar", lembrou que foram também 6 meses e 25 dias que o maior adversário de Ademar, Jânio Quadros, permaneceu na presidência da república. Ademar logo voltou do exílio, dizendo que queria ser absolvido pelo povo nas urnas. Foi eleito prefeito de SP em 1957.
O promotor do "Caso dos caminhões da Força Pública" foi o jurista Hélio Bicudo. Adhemar foi defendido, no "Caso dos caminhões da Força Pública', pelos advogados Ataliba Nogueira e Esther de Figueiredo Ferraz, que se tornaria a primeira mulher a ocupar o cargo de ministro de estado no Brasil. Foi absolvido das acusações pelo Tribunal de Justiça de SP por 16 votos contra 12. Adhemar publicou na revista "O Mundo Ilustrado", em 1956, relato das dificuldades que enfrentou neste seu segundo exílio. Entre outras dificuldades, Adhemar, piloto, conta que voou sem auxílio de instrumentos, guiado só por mapas e que quando chegou ao Paraguai lhe informaram de um plano para assassiná-lo.
Outro caso famoso de suposta "negociata" muito comentado foi o "Caso da Urna Marajoara" do Museu Paulista.
Adhemar adorava eleições e disputava todas que podia, mesmo quando tinha poucas chances de ganhar. Foi alvo constante de caricaturistas e humoristas e do bom humor do povo, que chamava um pequeno túnel por ele construído, no centro da cidade de SP, de o buraco do Adhemar. A dupla caipira "Alvarenga e Ranchinho", parodiando um anúncio radiofônico do remédio Melhoral, cantava:
"Ademá, Ademá, é mió e num faz má"
Também provocava risos quando, já nos tempos do Palácio dos Bandeirantes, uma suposta amante telefonava para ele e Adhemar atendia: "Como vai, Doutor Rui?… Um beijo, Dr. Rui!", segundo depoimento do jornalista Percival de Souza.
Estava sempre se revezando na prefeitura de SP e no governo do estado de SP com Jânio Quadros, seu eterno rival, e cuja política era sempre suspender suas obras. Curiosamente, ambos, Adhemar e Jânio, eram maçons, como consta na lista de maçons famosos nos sítios da maçonaria brasileira. Adhemar de Barros foi iniciado maçom em 12.12.1949 pela "Loja Guatimozin 66", conforme consta nas atas daquela loja. Na campanha presidencial de 1960, o arcebispo de POA, D. Alfredo Vicente Scherer, fez campanha contra Ademar, pedindo aos católicos que não votassem em Adhemar por este ser maçom.
A visão dos ademaristas sobre a ascensão do janismo na política paulista é explicada assim por um líder ademarista da região de Bauru:
'O Brasil parou de se desenvolver quando deixaram de votar neste homem (Adhemar) para votarem em Jânio Quadros!"
A rivalidade entre o "ademarismo" e o "janismo" marcou época em SP nas décadas de 1950 e 1960. Essa rivalidade e os comícios (meetings) pelo interior de SP entraram para o folclore político do estado de SP e do Brasil, e se tornaram acontecimentos inesquecíveis para os paulistas daquela época. Ilustra essa rivalidade:
Num comício em Mogi-Guaçu, cidade a ser visitada por Adhemar e Jânio num intervalo de dois dias, o candidato do PSP, com adjetivos enfáticos e gestos agressivos começou a discursar: "Entre as várias obras que fiz em SP está o hospital de loucos. Infelizmente, não foi possível internar todos. Um desses loucos escapou e fará comício nesta mesma praça, amanhã." Para delírio do povo (ademarista), a gargalhada era geral. No dia seguinte, Jânio Quadros foi recepcionado na cidade. Um adepto janista relatou a ele tal acontecimento. No seu comício, deu o troco: "Quando fui governador de SP, construí várias penitenciárias, mas não foi possível trancafiar todos os ladrões. Um escapou e fez um comício aqui mesmo nesta praça ontem."
Três outros exemplos deste folclore político:
1. Num comício em Jaú, Ademar, bate a mão no bolso: "Neste bolso nunca entrou dinheiro do povo!" Alguém na multidão gritou: "De calça nova, heim Doutor!"
2. Em São José dos Campos, segundo depoimento de Mário Carvalho de Araújo, Adhemar não hesitou em descer do palanque, interrompendo seu comício, dirigindo-se a um homem que estava encostado numa árvore fumando um charuto e fumou-o com o homem, surpreendendo a todos.
3. Em Penápolis, acontecimento inusitado: sempre ligado ao social, Adhemar escutou prostitutas no palanque, num comício, onde elas reclamaram de suas más condições de trabalho, segundo depoimento da moradora Luciana de Castro.
O COFRE DO ADHEMAR
Mesmo depois de falecido, Adhemar foi alvo de escândalo: em 18.06.1969, membros do movimento guerrilheiro VAR-Palmares assaltaram, no RJ suposto cofre de Adhemar, na casa de sua ex-secretária Anna Gimel Benchimol Capriglione, segundo algumas versões, sua amante. O episódio ficou conhecido como o "Caso do Cofre do Adhemar". O valor subtraído, que, segundo ex-membros da VAR-Palmares, contaram à Revista IstoÉ, foi de 2,596 milhões de dólares, equivalente em 2010, corrigido pela inflação da moeda americana, a 15,4 milhões de dólares. Anna Gimel, porém, declarou à polícia carioca que, no cofre, achavam-se apenas documentos. Em telegrama diplomático vazado dos EUA, o ex-embaixador John Danilovich afirma que Dilma Rousseff planejou o assalto. Um dos filhos de Adhemar, o então deputado federal Adhemar de Barros Filho, declarou à revista Veja, em 1970, que Adhemar passava por dificuldades financeiras, que não havia dinheiro algum no cofre, e que fora ele, Adhemar Filho, quem pagara as despesas do translado dos restos mortais de Adhemar, de Paris a SP.
ADHEMAR EMPRESÁRIO
Foi proprietário da fábrica de chocolates Lacta, além de possuir interesses na área imobiliária, especialmente a Imobiliária Aricanduva. Foi responsável pelo loteamento, na capital paulista, que se tornou o Jardim Leonor, nome de sua esposa.
Ajudou a desenvolver parte do bairro do Morumbi, em SP na década de 1960, quando o governo do estado comprou o Palácio dos Bandeirantes e seu vice-governador Laudo Natel, então presidente do São Paulo Futebol Clube, construiu o Estádio do Morumbi. Na década de 1940, a construção do Estádio do Pacaembu por Adhemar, dera também origem ao bairro homônimo.
Foi sócio da empresa "Divulgação Cinematográfica Bandeirantes" e da Rádio Bandeirantes. Elas, mais tarde, dariam origem à Rede Bandeirantes de rádio e televisão, hoje presidida por seu neto, Johnny Saad e localizada no bairro do Morumbi na capital paulista. Foi presidente das Fábricas Redenção e Nossa Senhora Mãe dos Homens, proprietário de fazendas no interior de SP, da Fábrica de Produtos Químicos Vale do Paraíba, da Sociedade Extrativa de Taubaté, com plantação de cacau para a Lacta, e da Sociedade Extrativa Limitada de Itapeva.
LACTA
A empresa Lacta, fabricante brasileira de chocolates, foi de propriedade de Adhemar de Barros. Após sua morte, a gestão da empresa passou a seu filho e também político Adhemar de Barros Filho. Em 1996, após brigas na família, a empresa foi vendida à Kraft Foods.
RÁDIO BANDEIRANTES
Adhemar de Barros foi o segundo proprietário da Rádio Bandeirantes de SP. A rádio foi fundada por Paulo Machado de Carvalho, e comprada depois por Adhemar. Mais tarde, Adhemar venderia sua rádio ao genro, João Saad.
HERDEIROS POLÍTICOS
Cientistas políticos não conseguem estabelecer herdeiro político do ademarismo. O estilo de governo Paulo Maluf pode ter sido influenciado nalguns aspectos pelo estilo de Adhemar, porém eles não foram aliados políticos. A carreira política de Maluf começa com sua nomeação para prefeito de SP, no dia do óbito de Adhemar: 12.03.1969.
O ademarismo continuou sendo grande força na política paulista, mesmo depois de extinto o PSP: em 1972, 60% dos prefeitos eleitos naquele ano em SP vinham do PSP.
Adhemar de Barros Filho (1929-2014), o "Ademarzinho", seguiu carreira política e chegou a se eleger deputado federal, várias vezes, entre 1966 e 1994, e foi, também, secretário de estado, em SP, na década de 1970. Os filhos de Adhemar Filho o impediram de fazer empréstimos em dinheiro para as campanhas políticas.
BIOGRAFIA SUMÁRIA
· Deputado estadual em SP (1935–1937);
· Interventor federal em SP (1938–1941);
· Governador de SP (1947–1951 e 1963–1966);
· Prefeito de SP (1957–1961).