Em 1962 graduaram-se no curso de Medicina da Universidade Federal do Paraná, entre outros, Anohar Zacharias, Antonio Osvaldo Teixeira de Freitas, Luiz Eduardo dos Santos e Arary Cardozo Bittencooltaria. Os três primeiros médicos viriam para o recém criado Hospital Santa Catarina de Criciúma, Arary voltaria para Tubarão, dando início a uma carreira médica brilhante na especialidade de Pediatria.
Nem vou citar outros nomes formados nesta Turma, como David Saute, que em 1954 apanhou em Carazinho, alta madrugada, o mesmo trem da Viação Férrea do RS que eu apanhara em Santa Maria, ambos rumando para Curitiba, onde iríamos prestar exame vestibular para a Faculdade de Medicina. Eu seria aprovado e iria formar-me em 1959, turma da Zilda Arns, Waldir Mendes Arcoverde, Padre José Raul Matte. Já David Saute ingressaria alguns anos depois, como ficou dito, formando-se em 1962.
Anohar fazia cirurgia-geral e, poucos anos depois, 1965-1966 deixaria Criciúma para dedicar-se à cirurgia cardio-vascular em Tolledo, Ohio, EUA. Casou-se por lá com americana legítima, do qual casamento resultaram quatro filhos. Não há vácuos em Medicina e logo após a saída de Anohar, chega um novo cirurgião para a cidade, o Dr. Portiúncula Caesar Augustus Gorini, formado em Santa Maria, RS, em 1964. Chega para trabalhar em 1965.
Antônio Osvaldo, mais conhecido como Bola, também pouco trabalhou entre nós, voltando logo-logo a Curitiba para a prática de clínica-geral. Faleceu em 13.03.2018 em Curitiba, terça-feira, aos 80 anos de idade.
Luiz Eduardo faleceu faz muitos anos. Participou da equipe de Alceni Ângelo Guerra, médico paranaense que assumiu o Ministério da Saúde no (des)governo Collor de Mello, que Deus nos livre e guarde. Parece que Luiz Eduardo não suportou o fardo que representou assessorar o ministro, demitido em favor de Adib Jatene. Luiz Eduardo casou com Santina, moça aqui de Criciúma, que se conheceram no Hospital Santa Catarina onde ela exercia enfermagem. Portiúncola, filho do célebre médico Dino Gaetano Fermo Gorini, também viria a casar-se com enfermeira do mesmo hospital Santa Catarina, Onei Chaucoski.
Já Arary, dedicou parte de seu tempo a escrever e publicar livros. Neles, fala da cidade de Tubarão, sua história, seus médicos e sua gente. Todas as publicações mereceram os mais rasgados elogios, são sucesso de crítica e de público, sendo de justiça ressaltar-se O MENINO DE OFICINAS, no qual o destaque é sua infância sofrida e a formação médica em Curitiba. Exerceu a Pediatria.
Luiz Eduardo dos Santos era profissional inteligente, dotado de rara sensibilidade e apreciável grau de cultura. Dedilhava o piano em contadas ocasiões e praticava futebol apesar de uma obesidade manifesta pela pronunciada protuberância da circunferência abdominal.
Em 1964 estoura a Revolução Redentora promovida por militares brasileiros. Criciúma foi especialmente visada pelo movimento militar. Logo o exército estava na cidade e muita gente foi presa, acusada de subversão. Para minha surpresa comandava a tropa o coronel Newton Machado que, na Curitiba de 1954-1955, comandara o CPOR quando fui chamado para servir à patria.
Luiz Eduardo apresentou-se na secretaria do HSC mal chegara à cidade. Havia necessidade de preencher certos papéis, alguns convênios, regularizar a situação médica; essas coisas. Na secretaria hospitalar trabalhava a sra. Marlene Scariot, mas coube ao sr. Morais atender a Luiz Eduardo. Moraes, era autoritário, vistosa calva luzidia. Aliás, ele explicava que há dois fatores diferentes que determinam se um homem tem uma cabeça calva brilhante. Um é a suavidade do seu couro cabeludo. Aqueles que são naturalmente carecas tendem a conseguir o aspecto brilhante muito mais facilmente do que aqueles que rapam a cabeça.
Moraes pergunta se Luiz Eduardo tem alguma habilidade especial, algum predicado, especialização médica ou não que possa ser aproveitada no hospital. Luiz Eduardo fala de eleições na Universidade que o tinham elevado a duas ou três vice-presidências de organismos médicos.
- Posso exercer vice-presidência da entidade mantenedora do hospital.
Moraes, olhando por cima dos óculos, informa:
- Já temos 12 vice-presidentes!
- Olha, não sou nem um pouco supersticioso!
Manif foi preso, Dauro Martinhago foi preso, Antonio Cologni, Addo Faraco, Jorge Feliciano, todos presos.
A chefia do serviço médico do IAPETC local, deois INAMPS, e mais depois SUS, foi demitida sendo nomeado em seu lugar o médico Ângelo Lacombe, nascido em Cruz Alta, RS e formado em Medicina na URGS em 1937. Era médico em Criciuma desde 1944 e aqui viveu até aposentar-se em 1972 quando transfere residência para Florianópolis onde vem a falecer em 19.04.1991.
Lacombe, em Criciúma, aos poucos se desatualiza, pouco frequenta o meio médico, fica superado como profissional. Sua atuação resume-se em ser médico-chefe do Posto de Saúde, médico do ambulatório do IAPETC, membro da Junta Médica para concessão de CNH. Na chefia do IAPETC, Lacombe recebe orientação vinda de Brasília para negar todas as guias para realização de cirurgias eletivas, antes até estimuladas. Em Criciúma, por conta de autorização de chefias anteriores, havia uma espécie de Medicina social. Mineiros e seus familiares eram internados para tratamentos clínicos quando não dispunham de recursos para adquirir medicamentos de que necessitavam. Havia car diologistas na cidade que tinham número de leitos cativos em número elevado, 20 para ser exato permanentemente ocupados para tratamento de hipertensão arterial e outras mazelas, perfeitamente passíveis de tratamento em domicílio. Sofria agora a população realmente necessitada de internação por conta da orientação anterior. Tudo estava sendo coibido.
Luiz Edurado sofria para internar crianças, cujas baixas eram sistematicamente negadas. Certo dia, na agência local do INAMPS, LACOMBE brandia uma guia de internação para pediatria e solicitada por Luiz Eduardo. Exibia o documento, erguido bem alto com uma das mãos enquanto dizia:
- Essa sim é solicitação criteriosa! Ela está dentro do que a Revolução exige doravante!
Pedimos para olhar: Luiz Eduardo diante do absurdo de ver negada sua pedida para internar criança desidratada, escrevera no diagnóstico provisório: Síndrome Paradoxal de Flandres, não só aceita, como recomendada!
A síndrome nunca existiu.
Lacombe era dos quadros partidários da UDN, oposição ao PTB e outras siglas de esquerda. Oposição a Getúlio Vargas de quem Ângelo Lacombe e o pai foram defensores acérrimos em 1930.
(CONTINUA NA PRÓXIMA SEMANA)