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As Páscoas de Doutorzinho

Por Henrique Packter 14/04/2022 - 13:05 Atualizado em 14/04/2022 - 13:09

VÉSPERA DE PÁSCOA DE 1966      

DOUTORZINHO prestou serviço militar na área de saúde da Base Aérea de Canoas no RS. Do período passado no vizinho estado poucas lembranças escritas existem. O que se sabe chegou até nós e é por nós sabido por suas bravatas, especialmente nos períodos em que esteve na prisão em São Bento do Sul, Curitiba e Criciúma. Helvídio de Castro Veloso Filho contou-me que estando Doutorzinho preso, é por ele chamado:

- Doutor Helvídio, pedi que viesse e agradeço pela sua vinda e pela maneira pela qual sou tratado em sua cadeia.  Aqui, ninguém me surra ou tortura, posso tomar meus banhos de sol e comer sossegado minhas refeições. Até fumar eu fumo. O senhor sabe que sempre consegui escapar das prisões em que estive trancafiado e desta vez não será diferente.

Em sinal de agradecimento pela sua acolhida, quero convida-lo para assistir à Copa do Mundo da Inglaterra de 1966 em minha companhia, com o dinheiro do Nelson Teixeira!

Esse relato, o delegado levou ao conhecimento do juiz Francisco May Filho, porque o baiano Helvídio de Castro Veloso Filho não era de dormir de touca.

E em Canoas?

Diz-se que um primeiro tenente recém-chegado de capital nordestina fora designado para atuar como bioquímico na Base Aérea de Canoas. Bota o olho em Egon Schneider e o escolhe para datilografar os laudos dos exames (poucos) que realizava. Doutorzinho trabalha de má vontade em serviço no qual não punha interesse algum. Ocorre que, certo dia, ditando o tenente os resultados para serem datilografados, como de hábito, diz:

-  Senhora Ana Carolina Machado, Glicemia, 4 cruzes (++++).

- Mas, tenente, atalha Schneider, essa daí é a mulher do coronel- comandante!

O tenente titubeia por um instante, enquanto Schneider observa-o disfarçadamente, com expressão divertida. Aguardava, sabendo que o número de cruzes expressava maior ou menor gravidade das doenças. Uma cruz após Glicemia não era tão grave assim, mas com 3 ou 4, a história era outra. Schneider passa a tirar uma poeira imaginária da imaculada mesa da máquina de escrever, auxiliando o procedimento com providenciais sopros. Parecia extremamente ocupado nessa tarefa de transcendental importância.

-  Quer dizer que é a mulher...  começa o tenente, para em seguida proclamar:

- Então bota uma cruz só!     

Era, também, véspera de Páscoa.

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