CÉSAR SARTORI foi deputado socialista na Itália pelo Partido Socialista Libertário, rebelando-se contra o absolutismo capitalista. Sua popularidade vem com a oratória diferenciada e contundente. Caricaturas nos jornais mostram-no exageradamente magro, recurvo, guarda-chuva em punho. O distintivo de CESAR SARTORI era a mão segurando archote.
Anotava fatos das viagens em cadernos, do preço dos hotéis a roupas adquiridas. Um resumo histórico e político acompanhava as anotações. Membro de uma comissão de métodos, vai a Lourdes averiguar oficialmente os milagres do Santuário. Estudou o Espiritismo. Viu as quedas do Niágara e do Zambeze.
Lia as revistas médicas para buscar depois, na fonte, com os criadores, técnicas que o interessavam.
Aprendeu com Carlo Forlanini, na Itália, a aplicar o pneumotórax artificial, com Emil Theodor Kocher na Alemanha a extirpar o bócio. Conheceu Friedrich Schauta (da histerectomia vaginal), Jean Louis Faure (cirurgião ginecologista), Victor Pauchet (autor de Infância, Gênero e Sexualidade e da Maternidade Pauchet), Serge Voronoff (dos xenoimplantes glandulares), Camille Flamarion (astrônomo, pesquisador psíquico espírita -, queria tornar a religião científica e a ciência religiosa).
CÉSAR SARTORI tinha curiosidade pelo homem e seus costumes. Estudava o Negro e o Índio, aos quais dedicava grande afeto. Procurava, acabando por conhecer, celebridades em todos os ramos do conhecimento humano. Correspondia-se com JOSÉ INGENIEROS (Giuseppe Ingenieri), a quem conhecia pessoalmente. Ingenieros foi um dos grandes heróis intelectuais da minha geração, a geração que se formou nas décadas de 1950-1960 em Curitiba e que julgava indispensável a leitura de seu bestseller O HOMEM MEDÍOCRE.
José Ingenieros (Giuseppe Ingenieri), Palermo, 24.04.1877 — Buenos Aires, 31.10.1925, completou sua formação acadêmica, seus estudos científicos nas universidades de Paris, Genebra, Lausane e Heidelberg. Farmacêutico (1897), médico (1900), psiquiatra, psicólogo, escritor, docente, filósofo e sociólogo ítalo-argentino, escreveu Evolução das ideias argentinas, marco histórico da Argentina como nação.
A Academia Nacional de Medicina Argentina premiou Ingenieros por Simulación de la locura (sequência da tese editada em livro, 1903). Nomeado Jefe de la Clínica de Enfermedades Nerviosas de la Facultad de Medicina da Universidade de Buenos Aires, Membro e depois diretor da Cátedra de Neurología de José María Ramos Mejía, no Servicio de Observación de Alienados de la Policía de la Capital.
Ingenieros também dirigiu os arquivos de Psiquiatria e Criminologia e assumiu o cargo do Instituto de Criminologia da Penitenciaria Nacional de Buenos Aires (1902-1903). Foi Conferencista Itinerante em universidades européias e Catedrático de Psicologia Experimental na Facultad de Filosofía y Letras de la Universidad de Buenos Aires (1904), fundou a Sociedad de Psicología (1908). Presidente da Sociedade Médica Argentina e Delegado Argentino do Congresso Científico Internacional de Buenos Aires (1909).
Seus ensaios sociológicos, El Hombre Mediocre, Al margen de la ciencia, Hacia una moral sin dogmas, Las Fuerzas Morales, Evolución de las ideas argentinas e Los tiempos nuevos -, ensaios críticos e políticos impactaram o ensino universitário argentino e a juventude latinoamericana.
Dirigiu seu jornal bimestral Seminario de Filosofía, mesclando a paixão pela ciência com uma ética social acentuada. Na Reforma Universitária foi eleito Vicedecano da Facultade de Filosofia e Letras, com amplo apoio do movimento estudantil (1918).
Em 1919 Ingenieros renunciou a todos os cargos docentes iniciando (até 1920), luta política, participando ativamente em favor do grupo comunista-progressista Claridad. Promoveu a formação da Unión Latinoamericana (1922), organismo de luta contra o imperialismo. A poucos meses de sua morte, criou o jornal mensal Renovación, contra o imperialismo, assinando com os pseudônimos Julio Barreda Lynch e Raúl H. Cisneros (1925).
Com o tempo discordou das posturas do socialismo de Estado, passando a colaborar com jornais anarquistas; chegou a ser abertamente simpatizante do anarquismo. Morreu a 31.10.1925, aos 48 anos.
INGENIEROS e SARTORI foram amigos próximos e as ideias político-econômicas de ambos eram extremamente afinadas.