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Cobreloa

Por Henrique Packter 05/02/2025 - 16:11 Atualizado há 4 horas

Que Sartori, um de nossos mais antigos médicos, era botafoguense de quatro costados, não se discute. Que, em razão disso, odiava o Flamengo e outros times de cores dessemelhantes ao alvinegro, também não padece discussão.

O FLAMENGO EM 1981

Na final da Libertadores de 1981 a torcida rubro-negra brasileira preparava-se para mais um sucesso do time carioca no torneio continental.

Mas, lembrando da emocionante decisão vencida pelo supertime de Zico, fica a dúvida: afinal, que fim levou o Cobreloa, clube chileno que era uma das grandes potências do Chile e do continente - e que vendeu caro esse título para o time brasileiro?

Quando ficou claro que o título de Campeão da Libertadores seria decidido pelo Flamengo do Rio de Janeiro contra o desconhecido Cobreloa do Chile, imprensamos Sartori contra as paredes do vestiário do centro cirúrgico do Hospital São José de Criciúma:

- Sartori, agora não tem jeito. Afinal, chegou o dia, vais torcer pelo Flamengo, claro, nesses jogos.

A resposta veio instantânea:

- Sou Cobreloa desde pequenininho!

PATROCÍNIO ESTATAL

O Cobreloa, fundado em 1977 é clube relativamente jovem, criado pela Codelco (Corporación Nacional del Cobre de Chile), empresa estatal chilena de mineração de cobre. Já pensou? Recebendo muito dinheiro via patrocínio do governo, o clube do deserto do Atacama rapidamente tornou-se potência local e depois continental

No mesmo 1977, ano de fundação, vem o acesso à elite do Chile. Três anos depois, 1980, as "Raposas do Deserto" conquistaram pela primeira vez a liga nacional, classificando-se para a Libertadores. Na temporada seguinte, Cobreloa chega à final do torneio da Conmebol, sendo derrotado pelo Flamengo na melhor de três na final.

O dinheiro da Codelco seguiu jorrando e o clube laranja alcançou novamente a final da Libertadores em 1982, perdendo para o consagrado Peñarol, do Uruguai.

De 1980 a 90, até a metade dos anos 2000, as "Raposas" seguiram como potência futebolística, sempre apoiada no cofre-forte da mineradora. Foram oito títulos chilenos conquistados: 1980, 82, 85, 88, 92, 2003 Apertura, 2003 Clausura e 2004 Clausura), além de uma semifinal de Libertadores (1987) e uma Copa do Chile (1986).

Porém, as coisas mudam drasticamente em 2011...

FIM DO DINHEIRO DA MINERAÇÃO

Até 2011, a Codelco depositava algo como US$ 1,5 (R$ 6,21 milhões em dólares americanos), anualmente, nas contas do Cobreloa, fazendo a equipe nadar de braçada no futebol chileno. Mas, naquele ano, a estatal muda seu contrato com o clube, reduzindo escalonadamente seus investimentos até 2017, quando encerrou de vez o patrocínio.

E, como o time laranja nunca se estruturou para viver vida sem os recursos governamentais, o clube desce ladeira abaixo.

Em 2015, as "Raposas", rebaixadas para a 2ª divisão chilena, têm direito a pontos perdidos no tapetão por escalar irregularmente o treinador (acredite se quiser) - O episódio envolvendo o técnico Alejandro Hisis ficou conhecido como "Caso Hisis". Em 2016, antes do final do contrato com a Codelco, divulgou-se que o time estava insolvente, correndo sério risco de falir e sumir.

Era o fim?

VIDA DURA NA SEGUNDONA

Desde a queda, o Cobreloa nunca mais retornou à 1ª divisão chilena. Porém, por conta da gestão responsável de recursos do presidente Walter Aguilera, as "Raposas" conseguem subsistir, sem risco de falir.

Hoje, o Cobreloa tem elenco bem jovem, média de idade de 24,4 anos,  formado em boa parte por revelações das categorias de base, misturados a alguns veteranos. Todo o plantel atual da agremiação vale 3,78 milhões de euros (R$ 17,27 milhões), praticamente 20% do atacante Gabigol, avaliado em 18 milhões de euros (R$ 82,25 milhões).

Hoje, as "Raposas" (5º lugar da Primera B, zona de playoffs), disputa o acesso à elite. (Playoffs: série de jogos para indicar o vencedor entre times que empataram num campeonato ou torneio). Com apenas 39 pontos, o lugar não está garantido, sendo a distância atual para o 11º colocado, o Deportes Santa Cruz, de apenas 2 pontos. Presidente Walter Aguilera  esperançoso de recolocar a equipe na 1ª divisão do Chile. Ele revelou que conversa com o Codelco para retomar o patrocínio da estatal -, porém com números diferentes e reduzidos daqueles do passado.

"(...), aprendemos a viver sem a Codelco", finalizou.

BOTAFOGO e FLAMENGO em 1981

Quando o juiz apitou o final de jogo, Zico praguejou. Braços erguidos, tinha sangue  no nariz e no rosto resultado de jogada desleal do chileno Mário Soto, Cobreloa. Em contrabalança tinha também dois gols no placar do estádio Centenário de Montevidéu e o título da Taça Libertadores da América de 1981. Na segunda-feira, 23.11.1981 há 43 anos, o Flamengo conquistava seu primeiro torneio mundial. Torneios eram, então, marcados pela truculência dos rivais, que jogavam pouca bola, mas batiam muito. Um clima de vale-tudo.

Foi até melhor que o Flamengo não ganhasse em Santiago. Naquele clima hostil era possível que não tivesse saído vivo de lá. O time ficou em estado de choque.

Anselmo foi escoltado por policiais, após expulsão na final de 1981, sendo o torneio decidido em três confrontos. No primeiro, o Flamengo venceu o Cobreloa por 2 a 1, no Maracanã. No segundo, os adversários ganharam por 1 a 0, em Santiago. A terceira partida, de desempate, foi realizada na capital do Uruguai, onde,o rubro-negro disputaria mais uma final da Libertadores, contra o Palmeiras.

O jogo em Santiago foi o mais tétrico. Na época, o Chile era governado pelo ditador-general Augusto Pinochet e o clima reinante na capital era de tensão nacionalista extremada, quando o time rubro-negro aterrizou. Chilenos em peso queriam a vitória a qualquer preço, o gramado cercado por soldados com metralhadoras e pastores alemães treinados para atacar. No campo as regras pareciam não existir. Jogando com uma pedra na mão, Mário Soto nocauteou Adílio e Lico; este precisou de pontos na testa no intervalo e não retornou para o segundo tempo.

Na Libertadores, o sanguinário Mario Soto recebeu cartão vermelho na final de 1981 na Libertadores.

- Sabe lá o que é olhar para os lados e ver o Adílio cheio de sangue, o Lico com o rosto deformado? Na beira do gramado, Isaias, nosso massagista, quase é preso pelos soldados. Aquilo não foi jogo de futebol, foi uma carnificina. Futebol é o que jogamos aqui. Em matéria de futebol, nosso time não perde para o deles de jeito nenhum. Nem se jogar sem goleiro.

No confronto em Montevideo, chilenos continuaram agredindo, mas flamenguistas já revidavam. Aos 35 minutos do primeiro tempo, Andrade entrou deslealmente em Jimenez e foi expulso. No segundo tempo, Mario Soto deu uma pancada em Tita, mas, minutos antes de terminar o jogo, Paulo Cesar Carpegiani colocou em campo o zagueiro Anselmo para lesionar o camisa 4 do Cobreloa. Ele socou tão forte que teve de enfaixar a mão. Soto perdeu dois dentes. Os dois foram expulsos. Anselmo, conduzido pela polícia.

O GLOBO

- Vocês viram aquele covardão do Mário Soto? Deu em mim sem bola, deu no Tita, deu em uma porção de gente. Bem fez o Anselmo. Aquele soco não foi só dele. Foi um soco coletivo, de todo o time, naquele valentão de meia tigela. Esse tal de Soto não joga nada - disse Zico no vestiário. - Viram como eles ficaram tontos em determinados momentos? Mais tontos do que se tivessem levado um soco. Futebol é isto. Futebol brasileiro é arte, não pancadaria. Por isso, temos o melhor futebol do mundo e vamos agora ganhar o Campeonato Mundial Interclubes no Japão.

Naquela noite, o Rio não dormiu. Chão da cidade coberto de papel picado, bares lotados e carros buzinando para todos os lados. O time voltou no dia seguinte para o Rio, festou durante o voo. Peu puxava o coro, enquanto Zico batucava nas mesas do avião. Júnior, Nunes e Tita se exibiam nos reco-recos. Todos cantavam sambas clássicos até o comandante anunciar a descida para o Galeão, quando todos passaram a cantar o hino rubro-negro. No aeroporto, foram recebidos por mais de três mil torcedores em festa.

OS TIMES BRASILEIROS

Flamengo, 1981:

Raul; Leandro, Marinho, Mozer, Júnior; Adílio, Andrade, Zico, Tita; Nunes e Lico. técnico: Paulo César Carpeggiani.

Botafogo, 1981(!):

Perivaldo, Gaúcho Lima, Gaúcho, Rocha, Paulo Sérgio e Zé Eduardo. Ziza, Mendonça, Marcelo, Ademir Lobo e Gerson. Técnico Paulinho Almeida.

É o fim. FIM

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