Qual é a melhor ocasião para aposentar-se? Alguém sabe?
Estou na faixa de idade na qual as pessoas procuram a melhor época para isso e para a qual data pedem que seja próxima! Colegas meus da Turma 1959 começam a mostrar sinais de desmemorização e me pergunto quando tal fenômeno ocorrerá comigo. Já percebo que clientes, amigos e colegas fazem-me questionamentos só para sondar se ainda estou firmei. Posso garantir que ainda estou. Por algum tempo estarei trabalhando em Criciúma dois dias por semana e mais um dia em Florianópolis, onde Frida estará com acompanhamento de Bruno, nosso outro filho que reside em Florianópolis, onde é Filósofo Clínico.
No outro dia estive sozinho no supermercado de nossa preferência em Criciúma. O gerente, mal me avistou, lançou-se em meu encalço até encurralar-me entre doces e chocolates e padaria.
-O que é que eu queria?
Respondi-lhe da melhor forma possível. Não foi o suficiente. Seguiu-me ele como uma sombra até o caixa, indagando e sugerindo sobre artigos que eu deveria adquirir. Muito bom esse gerente, Zefiro, onde quer que você esteja.
Na fila do caixa, um cidadão parecido com o Roger Machado, mas sem os óculos, ofereceu-me a mão em cumprimento. Mais que depressa uma senhora de óculos ofereceu-me seu lugar na fila, afinal, minha compra era pequena e a dela bem maior. Aceitei e aí houve problema com meu cartão e demora em atender-me e à minha benfeitora. Desculpei-me como pude, mas percebia-se que ela parecera ficar se recriminando:
- Que é o que eu tinha que ceder meu lugar? Olha no que deu...
No momento em que eu pagava pela compra, uma senhora de meia-idade trombou comigo e abraçou-me com grande violência. Pediu para tirar foto nossa com o celular, para perpetuar aquele momento único em sua vida. Concedi, é claro, lisonjeado. Terminado o episódio, a senhora considerou-me melhor com a mão no queixo e afinal disse:
- Não que o senhor não é o doutor Eduardo Pinho Moreira, finado ex-prefeito de Criciúma!
Expliquei que o doutor Eduardo estava vivo e bem vivo, residindo em Florianópolis e depois que ela estava enganada, eu era...
Não foi necessário esclarecer quem eu era, ela já se desinteressara do papo, virara para a saída do estabelecimento e corria para o estacionamento com carrinho repleto de compras...
Pois bem, gente, é chegada a hora de dizer adeus
Meus colegas de turma (são já raridade maior a cada dia que passa), perguntam-me nos nossos cada vez mais infrequentes encontros, quase todos eles em salas de espera de aeroportos:
- Qual é a tua? Tás ainda trabalhando? Prá provar o quê?
A essa indagação que me foi endereçada por colega que reside (e ainda trabalha) em Campinas, SP, reenderecei a colega residente em Campos do Jordão. Ele me respondeu:
- Já comecei a desmobilizar-me. Trabalho um ou dois dias por semana, nos outros dias descanso, leio, vejo TV, escrevo, ouço música, faço quimioterapia e radioterapia para câncer de próstata...
Pois é, e aí, estando aposentado como preencher o tempo? Acordar mais cedo para ficar mais tempo sem fazer nada? Fazer como meu finado amigo Vitor Fontana que ligava diariamente, longos e dispendiosos telefonemas, para os filhos, todos residentes em São Paulo. Quem saberá dizer?
Até a próxima, gente.