Diomício Manoel de Freitas, filho de Manuel Delfino de Freitas e Maria Benvinda de Freitas, foi empresário nascido a 19.04.1911 em Pindotiba, Orleans/SC, falecendo em 29.05.1981 em Cricíúma /SC. Diomício realizou os estudos primários na cidade natal. Com 12 anos de idade trabalhou como telegrafista na Estrada de Ferro Dona Teresa Cristina, em Tubarão/SC. Foi promovido a Agente de Primeira Classe, atuando na Estação Sangão, em Criciúma. Político, pertenceu primeiro à UDN e depois à Aliança Renovadora Nacional, tendo base eleitoral no Sul de SC.
Casou com Agripina Francioni de Freitas, com quem teve seis filhos. O atual Deputado Federal Daniel Freitas é bisneto de Diomício, neto de Hilário, seu filho mais velho. Em 1929, integrou a Aliança Liberal, que fazia oposição à candidatura de Júlio Prestes ao cargo de Presidente do Brasil. Apoiava a Getúlio Dornelles Vargas. Na década de 1940, ingressou no ramo carbonífero, atividade que conhecia desde a adolescência; comprou a empresa Carbonífera Caeté Ltda., de Urussanga, em sociedade com Santos Guglielmi. Na década seguinte, os dois empresários adquiriram a Carbonífera Cocal, com uma boca de mina em Cocal/SC e outra em Criciúma/SC, uniram as duas companhias e criaram a Carbonífera Criciúma.
No final da década de 1950, seu grupo criou a empresa de Navegação Catarinense (NAVECAL) e comprou a Carbonífera Metropolitana, detentora da maior reserva de carvão do Estado. Um dos fundadores da União Democrática Nacional (UDN), à qual se filiou desde 1945. Concorreu ao cargo de Deputado Federal por SC em 1962, recebendo 27.512 votos, sendo eleito e assumiu o cargo em fevereiro de 1963 integrando a 42ª Legislatura (1963-1967). No mandato, participou das Comissões Permanentes de Finanças (Suplente), 1963-1964; Minas e Energia (Suplente), 1966; Transportes, Comunicações e Obras Públicas: (Titular), 1963-1966.
Nas eleições de 1978, pela Aliança Renovadora Nacional (ARENA), ficou primeiro suplente do Senador por SC, Lenoir Vargas, eleito indiretamente, Senador Biônico, sem ser convocado. Além de atividades em companhias carboníferas, Diomício foi membro do Conselho Fiscal da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e Conselheiro da Companhia Halles de Investimentos, de São Paulo/SP. Foi Vice-Presidente do Diretório Regional da Arena em SC e membro da Associação Comercial e Industrial de Criciúma, da Associação Nacional de Fabricantes de Azulejos e do Sindicato Nacional da Indústria de Extração de Carvão.
Teve o controle acionário das rádios Eldorado, de Criciúma, Difusora, de Laguna e Araranguá, da TV Eldorado, da Cerâmica CECRISA, e de empresas de diversas áreas. Empregou muita gente nas 18 empresas de seu grupo, também por isto foi considerado um dos 20 catarinenses que marcaram o Século 20 em SC, listado pelo Grupo RBS. No dia 28.05.1981, envolveu-se em um acidente automobilístico na BR-101, próximo a Imbituba/SC, quando seguia para o aeroporto em Florianópolis/SC, onde embarcaria para o RJ, com objetivo de participar de uma reunião na CSN. Faleceu em 29.05.1981 em Criciúma/SC.
Homenageado com seu nome sendo dado ao Aeroporto Diomício Freitas, Criciúma, e a nome de ruas nos municípios catarinense de Içara, Nova Veneza e Siderópolis. É também nome de avenida em Criciúma e Florianópolis: Avenida Deputado Diomício Freitas.
Deputado Federal, UDN, 15/03/1963 - 22/01/1967, 42ª Legislatura
O empresário Diomício Freitas será sempre lembrado por uns poucos interessados “pelos 30 anos de ausência e pelo vácuo no panteão das lideranças regionais. Não que faltem líderes políticos ao sul do estado, mas pela inexistência de um perfil aglutinador na raia”.
No dia 29.05.1981, o empresário morreu por embolia pulmonar, resultado de um acidente na véspera na BR-101. Dirigindo sua Caravan, evitou dois caminhões no sentido contrário perto de Imbituba. Desviou para o acostamento e bateu num terceiro, estacionado. As múltiplas fraturas sofridas no acidente automobilístico ocasionaram desprendimento da gordura dos ossos lesados para os pulmões e morte quase imediata.
Internado no Hospital São José, o fundador de um conglomerado de 29 empresas não passou por UTI porque o hospital não dispunha deste recurso. Faleceu às 18 horas de uma sexta-feira aos 70 anos e foi velado em sua residência na Avenida Ruy Barbosa, hoje ocupada por prosaico comércio.
O sepultamento no sábado foi evento que marcou nossa história. Da casa, o corpo foi levado a pé até a atual Catedral São José para missa celebrada pelo bispo de Tubarão, D. Osório Bebber. Compareceram às exéquias dois governadores, Jorge Bornhausen (SC), e Amaral de Souza (RS).
No Cemitério São Luiz, as despedidas tiveram emocionado discurso do deputado federal Adhemar Ghisi. Por um desses caprichos da vida, justamente o herdeiro político a quem o empresário entregara o bastão em 1966 ao abrir mão da reeleição para a Câmara dos Deputados.
EMPREENDEDOR NATO
Diomício revelou-se um empreendedor talentoso desde a adolescência. Aos 12-13 anos, era telegrafista da Rede Ferroviária Federal. Aos 18, subagente da estatal na Guarda, em Tubarão, onde conheceu e casou com Agripina Francioni. Aos 29 anos, a vez de Criciúma.
Sua primeira mina, a Ouro Fino, foi adquirida em Içara. Anos depois, uniu-se a outro ícone do empreendedorismo local, Santos Guglielmi, erigindo uma potência econômica que até nos gramados deixaria sua marca: o time do Metropol. Desfeita a sociedade no fim da década de 60, optou pela diversificação.
Cecrisa foi o símbolo de magnitude nacional na vida do empresário. Sua menina dos olhos, porém, surgiria em 1978, quando inaugurou a TV Eldorado. A iniciativa se alargaria a mais três regiões do estado, com emissoras de TV em Florianópolis, Itajaí e Xanxerê. Suas rádios AM e FM eram inúmeras.
LEGADO POLÍTICO
Visionário, Diomício sentiu o peso dos anos. Um ano antes do acidente, administrou a partilha dos bens entre os filhos, permanecendo como conselheiro de todos. Dele, dizia-se “Ele nunca dava ordens” e “Bastava recomendar cautela que todos entendiam o recado.”
Trinta anos após sua morte, é no cenário político que a ausência de Diomício Freitas mais se faz sentir: “Fazer política é usar duas das quatro equações”, recita-se, recordando o ensinamento. “Somar e multiplicar sempre, dividir e subtrair jamais.”
LEGADO MÉDICO
A morte inesperada e trágica de Diomício Freitas reacendeu entre classe médica, ordem religiosa mantenedora do Hospital São José, classe política e população, de maneira geral, a discussão sobre a construção de uma UTI para o Hospital São José. Graças à elevada compreensão e espírito público do prefeito José Augusto Hülse e do presidente da Câmara de Vereadores, Woimir Loch, em três anos inaugurava-se mais esse templo da Medicina Moderna. Hoje a UTI está em outro local da estrutura hospitalar e não sabemos se a placa de inauguração, cuja capa descerrei, foi preservada.
CURIOSIDADES
No dia do sepultamento, pela primeira e única vez na história de Criciúma, viu-se mais aviões no céu do que no aeroporto de Forquilhinha, meses depois batizado com o nome do empresário. Explica-se: o tráfego aéreo de autoridades e amigos foi tão intenso que a torre de controle teve que escalonar as aterrissagens.
A multidão que superlotou o Cemitério Municipal São Luiz foi calculada entre oito e 10 mil pessoas. Um público equivalente, na época, ao do movimento só verificado no Dia de Finados.
A agência dos Correios na Avenida Getúlio Vargas registrou um volume de telegramas superior ao da semana que antecedia o Natal e o Ano-Novo. Um fluxo de correspondências sem paralelo nos anos posteriores.
Dos filhos, somente um não pode comparecer ao sepultamento. Responsável pelo braço metal-mecânico do grupo familiar, o empresário Hilário Freitas estava na França em viagem de negócios.
ÚLTIMOS MOMENTOS
Quando vinha ao meu consultório, aproveitava-me de sua experiência e perspicácia no mundo dos negócios para instruir-me. De certa feita, perguntei-lhe qual seria a solução para problema hospitalar que dependia da aquisição de equipamento de ULTRASSOM. Em essência, após tomar conhecimento das precárias finanças hospitalares, disse-me:
- Não discuta preços, discuta prazos!
Trazido do local do acidente diretamente para o hospital do qual eu era Diretor-Clínico na época, ele foi atendido pelos Drs. João Aparecido Kantovitz, ortopedista já falecido, e pelo Dr. Albino José de Souza Filho, clínico-geral e pneumologista.
Sentamos à mesa para rascunhar o que seria um boletim médico, uma nota, a ser distribuída à imprensa sobre a situação médica de Diomício. Lembro que concordamos em divulgar que, se não houvessem complicações e, após melhora de seu estado geral, cirurgias realizadas para corrigir as fraturas ósseas, poderiam reverter a difícil situação.
Falando com alguns dos filhos, especialmente com Dite Freitas, disse-me ele que se as condições médicas locais fossem insuficientes para tratar do paciente, eles estariam dispostos a removê-lo com o concurso de avião-ambulância. Eu já discutira esse aspecto com os médicos assistentes que consideravam muito difícil removê-lo, sobretudo pelos altos riscos.
Na tarde do segundo dia de sua hospitalização resolvi subir até o terceiro andar de um dos apartamentos da primeira classe, situado na entrada do Centro Cirúrgico.
Entrei, a porta entreaberta, apertei sua mão e percebi sua fisionomia crispada pela dor. A um canto do apartamento, seu fiel funcionário de muitos anos, Gilberto João de Oliveira, observava tudo, sentado numa poltrona. A mão de Diomício apertava a minha usando de muita força. Minha mão passou a doer. Fiz sinal para que Gilberto Oliveira chamasse socorro. Diomício vivia seus últimos minutos de vida, sua mão já não mais apertava a minha, seu rosto agora tinha uma estranha serenidade.
(Baseado em artigo do Jornal Correio do Sudeste, domingo, 31.05.1981).