Um ano após a criação da FIESC é criada unidade regional do SESI em SC, dirigida por Celso Ramos (6.12.1951). No primeiro ano fundou 11 escritórios do SESI no estado. Em Criciúma, havia 14 postos para assistência alimentar. Preferência popular era por produtos enlatados. Preços eram elevados para o bolso da classe operária que ganhava salário de Cr$ 360,00 mensais. (Lata de azeite: 49,40; Leite Ninho: 42,00; Talco 7,20; creolina 11,40. Essa compra equivalia a 1/3 do salário. Boa Nova reprova grande quantidade de conservas e doces enlatados nas lojas do SESI.
SATC, 1959
No âmbito da assistência médico-social às famílias mineiras, foi fundada em 1959 a SATC, com duas vertentes: 1. Filhos e filhas dos mineiros tinham escola sem qualquer ônus; escola industrial masculina com oficina de mecânica geral, marcenaria, fundição e eletricidade. 2. Escola profissionalizante feminina. A administração caberia aos Irmãos Maristas.
A distribuição de recursos da CEPCAN contempla a Casa da Criança (Colégio São Bento) com 110 mil cruzeiros, a SCAN (Sociedade Criciumense de Auxílio aos Necessitados) com 475 mil, o HSJ com 85 mil. Era Diretor-Executivo do órgão na época o Cel. Osvaldo Pinto da Veiga.
CEPCAN EM CRICIÚMA
Em 1961 o CEPCAN (Conselho do Plano do Carvão Nacional) é transferido do RJ para Criciúma. Seus recursos destinavam-se a Implantar e modernizar a indústria carbonífera e para assistência médico-social às famílias ligadas ao setor carbonífero, para construir hospitais, postos de puericultura, escolas profissionalizantes, moradias operárias, instituições de amparo à velhice e infância (o Bairro da Juventude, SCAN, sugestão do Rotary de Criciúma em 1949). O CEPCAN em Criciúma lutava por um tripé: amparo à moradia, saúde, educação.
Nos últimos dias do verão de 1954, quando eu iniciava meu curso de Medicina em Curitiba, chegavam pelo trem de Imbituba três religiosas da Congregação das Pequenas Irmãs da Divina Providência. Vão habitar casa no Rio Maina, no centro de grande número de Vilas Operárias e de mineração. A Carbonífera Próspera, o SESI-SC e as Pequenas Irmãs da Divina Providência estabeleceram relações de trabalho (1955-1964) para difusão de bons hábitos de higiene. As Irmãs chegam na Próspera em 25.1.1955. Com elas, a jovem religiosa Cláudia Freitas, 18 anos de idade, recém realizados os votos. Vão residir na parte mais alta do morro. A jovem Irmã pilo ta um jipe ganho do SESI e iniciam-se as visitas domiciliares.
“Quando nós chegamos a sujeira tomava conta, a exceção eram aquelas famílias de colonos. Predominava muita desordem (...) começam por falar de higiene, do valor da higiene (...) O grosso da higiene da casa está muito ruim, tudo era muito primitivo” ”casas todas de madeira preta, tudo era preto, mesmo as crianças brancas ficavam pretas, porque tudo era muito carvão, dava a impressão que punham quatro paus fincados e a casa em cima”.
“O médico falava para a gente, vocês devem ensinar os cuidados com a água”.
A sujidade acumulada na pele das pessoas da Vila Operária e especialmente dos mineiros não saia com o banho de gamela, geralmente colocada no centro da cozinha. Irmã Claudia Freitas fala em chuveiro público para banhar as crianças, sábados à tarde, depois utilizado pelos mineiros, diariamente.
Depois vem a horta comunitária, cursos de corte e costura, higiene, primeiros socorros, alimentação, combate à promiscuidade (adultos e crianças dormindo mesmo aposento) e crianças com porcos, galinhas e cabras.
PEQUENAS IRMÃS DA DIVINA PROVIDÊNCIA, 1964, CRICIÚMA
Desde 64 a assistência médica aos operários do carvão e familiares era proporcionada com ajuda das Pequenas Irmãs da Divina Providência que visitavam 11 vilas operárias, casas medindo 4m X 5m ou 20m², abrigando famílias de até 12 pessoas. Boa Nova Júnior vistoriou as casas da Próspera, descritas por ele como ranchos.
Segundo Manif, além das causas já conhecidas, os óbitos entre as crianças das famílias mineiras de Criciúma relacionavam-se à “ignorância e miséria, eis a resposta formal, categórica e imperativa, que deve ser dada corajosamente”, pois a mortalidade infantil é “fortemente influenciada pelas questões higiênicas de habitação e alimentação, e pelos fatores econômicos e sociais, que quando desfavoráveis carreiam pobreza e atraso cultural” (1957).
Boa Nova Junior confirmava: “é sumamente desagradável e doloroso relatarmos aqui, que muitas criancinhas em Criciúma, pereciam em grande número (...) em virtude do descaso de seus próprios pais, da ignorância das mães”. (1953). Ignorância materna, aliada à falta de assistência pública, criava ambiente para altas TMI em Criciúma.
Mulheres seriam incultas e preguiçosas; necessário era educá-las através de normas higiênicas. A prioridade médica era diminuir drasticamente os números de mortes por intenso processo de reeducação das mulheres.
Boa Nova Junior (relatório ao DNPM, 1953) esclarece porque mulheres substituem o leite materno por alimentação artificial e deficitária em nutrientes: (...) alegação infundada de que seu leite era fraco. Desmamavam as crianças logo às primeiras semanas de vida, substituindo o preciosíssimo leite materno por pirão de farinha de mandioca, feito simplesmente com água.
Desde 1950 havia sólido discurso sobre as benesses da amamentação materna nos primeiros meses de vida da criança. Justificativas evocavam seu caráter natural, propriedades nutritivas; uma composição quase mística que criava elo indissolúvel entre mãe e criança. Também considerava mãe completa somente quem nutria seus filhos com o alimento disponibilizado pelo próprio corpo.
Para Boa Nova Junior (1953), fazia-se necessário “criar entre as mulheres das camadas populares urbanas de Criciúma cultura da boa maternidade, na qual as mães por meio de aconselhamentos e imposições médicas se adaptariam às necessidades dos novos tempos e abandonariam as formas tradicionais de cuidados infantis. (...) a árdua tarefa de educar as mães, de orientá-las, de aconselhá-las no sentido de mostrar o caminho certo que deveriam seguir para bem alimentar seus filhos, para bem criá-los e para preservar-lhes a saúde, e portanto a vida”.
BURLA CONSENTIDA
No início da mineração em SC, mulheres, jovens e crianças participavam do trabalho nas minas. O engenheiro Fernando Miranda Carvalho (Comissão de Estudos dos Portos Carvoeiros, ex-gerente da Sociedade Carbonífera Próspera), no O Jornal, RJ, 2.2.1927: “... Em SC usa-se para beneficiar o carvão, a escolha manual, trabalho executado por mulheres e crianças dos mineiros”.
Escolhedeiras ou catadoras de carvão. Carola (2002): “(...) o trabalho das mulheres nas minas tinha importante papel no orçamento doméstico e, em alguns casos, era fundamental e único, embora fosse sempre considerado complementar”. Escolhedeiras (mulheres que escolhiam carvão), trabalhavam descalças, sendo reconhecidas fora do ambiente de trabalho, pelas cicatrizes dos pés e no dorso inferior das pernas.
Francisco Boa Nova Jr: “...Tais riscos poderiam perfeitamente desaparecer, e o trabalho talvez fosse executado com maior rapidez desde que as escolhedeiras trabalhassem calçadas com botinas. (...) O emprego de mulheres nos serviços de escolha do carvão, (...) principalmente menores de 16 a 21 anos, é a questão de salários: elas se sujeitam a salários inferiores ao do homem (...), além do trabalho fixo diário de 8 horas, com descanso aos domingos e feriados, e outras vantagens, conseguem ordenados até de 600 cruzeiros mensais. Trabalho, pouco penoso, é efetuado por moças, em meio a ruidosa alegria, brincadeiras, conversa s, piadas e cantoria”.
Jovens contratados para esse trabalho, tinham eles idade de 16 a 18 anos e elas de 16 a 25 anos.