Como todo mundo sabe, sou graduado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná em 1959. Já falei de vários colegas meus, entre eles, ZILDA ARNS, WALDYR MENDES ARCOVERDE (ministro da Saúde do Presidente Figueiredo), AFONSO ANTONIUK (professor de Neurocirurgia da FMUFPR), CORIOLANO CALDAS SILVEIRA DA MOTA (professor de Clínica de Doenças Infecciosas e de Higiene e Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de SC; Livre Docente, depois professor titular de Higiene, Medicina Preventiva e Medicina do Trabalho, cadeira que foi subdividida em 3 outras: Epidemiologia, Medicina Preventiva e Medicina do Trabalho todas elas sob sua direção na FMUFPR, em Curitiba), LINO LIMA LENZ (professor de Urologia da UNI-RIO), além de outros sobre os quais falarei se oportunidade houver. De todos esses citados colegas apenas Antoniuk vive.
Há também outros colegas de outras turmas com os quais convivíamos e que adquiriram grande notoriedade dentro e fora de nosso país. Alguns deles eram originários de cidades próximas a Criciúma. Local de sociabilidade fácil era o DIRETÓRIO ACADÊMICO NILO CAIRO (DANC) na rua Monsenhor Celso, Curitiba. Além de ter bela quadra de basquete dotada de iluminação para jogos noturnos, o DANC era palco de animadas e concorridas reuniões dançantes, dispondo para isso de um conjunto o RITMOS MEDICINA, composto por seis colegas, sendo três de nossa turma: Carlos Roberto Roquete Lima (Betão, pianista) e os ritmistas Sebastião Farajala Bacila e Aramis Cavichiolo. Todos são falecidos.
Além disso, o DANC fornecia almoço e jantar para estudantes de Medicina, Odontologia e Farmácia. Comida limpa, gostosa, caseira, a preços módicos, sob a batuta de seu João, sequelado de AVC, locomovendo-se com a característica marcha ceifante desses pacientes.
Entre 1954 e 1959, anos em que fui aluno do curso de Medicina na federal do PR, utilizei-me do DANC, que servia refeições a um número limitado de colegas, em seu endereço, centro de Curitiba. Obviamente, chegava-se para a refeição e, em geral, todos os assentos estavam ocupados. Cada estudante dispunha de um cartão identificador que era depositado ao lado de colega que fazia placidamente sua refeição. Significava que se reservava o assento à mesa, assim que desocupado fosse.
Que fazer enquanto isso?
HERMES MACEDO, MIGUEL NAJDORF, MAURO ATHAYDE
Havia várias mesas para jogar xadrez, logo ocupadas por aqueles que aguardavam. Eram disputas ferozes, com assistentes idem. Alguns “atletas” eram praticamente invencíveis. MAURO DE ATHAYDE, de Lages, SC, formado em 1960 era um desses. A princípio foi nosso colega de turma, mas sua dedicação ao xadrez era tamanha que, para participar de torneio internacional, perdeu um ano, formando-se em 1960. Foi tricampeão paranaense de xadrez em nossa época e disputou simultânea às cegas no Clube de Xadrez do Paraná, com o Grande Mestre MIGUEL NAJDORF, altos da Loja HERMES MACEDO, na XV de novembro, firma que não mais existe, mas que patrocinou o esporte por longos anos no Paraná.
Mieczysław Najdorf (5.4.1910, Varsóvia, Polônia, 4.7.1997 Málaga, Espanha). Sua mais importante contribuição para a teoria das aberturas é a variante Najdorf da Defesa Siciliana, considerado um dos sistemas mais populares no enxadrismo moderno. Najdorf foi também respeitado jornalista que escrevia uma coluna sobre xadrez no jornal Buenos Aires Clarin.
NAJDORF, polonês naturalizado argentino, era enxadrista campeão mundial em simultâneas às cegas. Na verdade, a notável exibição de NAJDORF em Curitiba, no Clube de Xadrez, revestiu-se de lances inusitados. Ele observou cuidadosamente para saber em qual tabuleiro, Hermes Macedo jogava e logo perguntou se ele lhe concedia o empate. Najdorf estava em posição muito superior e logo venceria a partida. Já Mauro Athayde chamou várias pessoas para o seu tabuleiro e mostrou molecagem que pretendia fazer para demonstrar as qualidades de memória inigualáveis de grande mestre. Reintroduziu no tabuleiro uma torre que estava fora do jogo, eliminada pelo grande campeão. Najdorf pareceu hesitar por um momento. Depois, disse:
- Um momento!
Pensou por um instante, sentado em sua cômoda poltrona, pernas cruzadas, mão direita espalmada sobre a face do mesmo lado, dois dedos mais elevados e, logo falou:
- Impossível! Esta peça foi tomada por mim no 19º lance!
Reconstituíra toda a partida, daquele tabuleiro, em poucos minutos em sua memória! Aplaudido com entusiasmo a simultânea às cegas acabou apoteoticamente.
OCTÁVIO BESSA Jr, DA LAGUNA PARA O MUNDO
Mas, não era sobre isso que eu queria falar, mas sim sobre OCTÁVIO BESSA Jr, médico natural da Laguna, SC, (26.7.1931 e falecido aos 88 anos (17.5.2020) em Forth Myers, Flórida, EUA.
Bessa era formado em 1956 na FMUFPR e foi colega de grande número de colegas médicos de expressão. Entre eles, Francisco Ernesto Saboia (médico por muitos anos no Sombrio, SC), José Ramos May (irmão do juiz em Criciúma e depois desembargador em SC, Francisco May Filho), Joubert Barros de Almeida (um dos primeiros otorrinos e oftalmologistas em Lages), Luiz Fernando Bittencourt Beltrão (natural de Santa Maria, RS, primeiro otorrino e oftalmologista em Joaçaba), Paulo Dias Fernandes (de Santa Maria, RS, escritor, primeiro otorrino em Erechim, RS), Raul do Nascimento Athayde da Rosa (médico por muitos anos em Urussanga, SC), Thomaz Reis Mello (médico por muitos anos em Criciúma), Edmundo Castilho (fundador da UNIMED no Brasil), João Conrado Leal (anestesista em Criciúma por muitos anos), Klaus Wolffenbuttel (casado por algum tempo com minha colega Ayesha Batista de Assis).
Bessa, cujo telefone era (203) 323 -8700, na Flórida, e cujo divórcio com esposa americana que se dedicou à enfermagem foi ajuizado em 20.03.2017, notabilizou-se por artigo que publicou em revista médica nos EUA e cuja repercussão assegurou-lhe reconhecimento e fortuna.
Qual foi o assunto do artigo?
O hábito de usar cintos apertados, estrangulando a cintura.
(Continua próxima semana)