Militar por vocação, herança e necessidade (Eduardo Bueno), ascendeu na tropa pela bravura em combate, determinação e comportamento irrepreensível. Herói da Guerra do Paraguai e do cerco de Montevidéu, Comandante das Armas do RS e presidente provisório daquela Província, participou da Praieira ou Revolta Praieira, movimento liberal e federalista em Pernambuco entre 1848 e 1850, cuja derrota representou demonstração de força do reinado de D. Pedro II (1840-1889).
De forma global, inscreveu-se no contexto das revoluções liberais, socialistas e nacionalistas que varreram a Europa no período, incluindo a Revolução de 1848 na França promotora da extinção do absolutismo no país.
Em nível local sofreu influência das ideias liberais, da falta de autonomia provincial. Marcada pelo repúdio à monarquia, com manifestações a favor da independência política, da república e por reformismo radical. Havia ainda a histórica rivalidade com os portugueses, que dominavam o comércio na província. Principais causas da Rebelião Praieira:
Predomínio do latifúndio;
dependência e marginalização do pequeno agricultor;
encarecimento dos gêneros de primeira necessidade;
papel monopolizador dos comerciantes portugueses;
êxodo rural;
crise na economia pernambucana.
A REVOLTA
Causa imediata foi a destituição, por D. Pedro II, do Presidente da Província Antônio Pinto Chicorro da Gama, representante dos liberais. A substituição deste liberal pelo ex-regente Araújo Lima, extremamente conservador, foi o estopim para o início da revolução, que já acumulava insatisfação com a política imperial e dificuldades pelo declínio da economia açucareira.
Os rebeldes queriam alterar a Constituição brasileira de 1824, visando a efetiva liberdade de imprensa (limitada, extinguia artigos que ferissem a família real ou a moral e os bons costumes), a extinção do cargo vitalício de Senador, voto livre e universal, garantia de trabalho, nacionalização do comércio varejista das mãos dos portugueses.
Setores radicais do Partido Liberal pernambucano reunidos em torno do jornal Diário Novo, na Rua da Praia, Recife, conhecidos como praieiros – condenaram a destituição de Chichorro da Gama, interpretando esse gesto como mais uma arbitrariedade imperial (abril 1848).
COMEÇA REVOLTA CONTRA O NOVO GOVERNO DA PROVÍNCIA
Inicia em Olinda, a 7.11.1848, sob a liderança do general José Inácio de Abreu e Lima. O presidente nomeado da Província, Herculano Ferreira Pena, foi afastado e o movimento espalhou-se rapidamente por toda a Zona da Mata de Pernambuco.
Rebelião realizada por etapas, tomando características próprias a cada período, os amotinados dirigiram-se para o norte procurando a área de influência de senhores de engenho liberais, como Manuel Pereira de Morais. Ocuparam, sucessivamente, duas cidades, depois de enfrentar os legalistas. Depois do combate de Muçupinho, em que o governo teve uma vitória pouco expressiva, eles se dirigiram para Nazaré da Mata, que foi ocupada, a 12 de novembro, por Joaquim Gonçalves Guerra, influente senhor de engenho do vale do Siriji.
Em 1º.01.1849, os revoltosos lançaram seu programa, documento denominado, modestamente, Manifesto ao Mundo, de conteúdo social Liberal. Supostamente escrito pelo jornalista Borges da Fonseca, o manifesto defendia:
Voto livre e universal do povo brasileiro;
plena e absoluta liberdade de imprensa;
trabalho, como garantia da vida para o cidadão brasileiro;
comércio a retalho só para os cidadãos brasileiros;
inteira e efetiva independência dos poderes constituídos;
reforma do Poder Judiciário, de forma a assegurar as garantias dos direitos individuais dos cidadãos;
extinção da lei do juro convencional;
extinção do sistema de recrutamento militar então vigente.
Recebendo a adesão da população urbana que vivia em extrema pobreza, pequenos arrendatários, boiadeiros, mascates e negros libertos, os praieiros marcharam sobre o Recife em fevereiro de 1849 com quase 2,5 mil combatentes, mas foram rechaçados. Marcharam em três Divisões, uma comandada por João Inácio de Ribeiro Roma, a segunda por Bernardo Câmara e a terceira por Pedro Ivo Veloso da Silveira.
REPRESSÃO
A província foi pacificada pelo novo presidente, Manuel Vieira Tosta, auxiliado pelo Brigadeiro José Joaquim Coelho, novo Comandante das Armas. Derrotadas em dois combates, os líderes das forças rebeldes, pertencentes à classe dominante, foram detidos e julgados apenas em 28.11.1851, quando os ânimos na província já tinham serenado e o governo imperial pôde lhes conceder anistia. Voltaram, assim, aos seus cargos públicos e a comandar seus engenhos. Por outro lado, os rebeldes das camadas sociais menos privilegiadas - rendeiros, trabalhadores e outros - não tiveram direito a julgamento, sofreram recrutamento forçado ou foram anistiados por intervenção de seus superiores para retornarem ao trabalho, exceto aqueles sumariamente fuzilados durante e logo após os combates.
RESULTADOS
Com o fim da Praieira, no início de 1850, iniciou-se outra parte do Segundo Reinado, um período de tranquilidade política, fruto do parlamentarismo e da política da conciliação implantados por D. Pedro II, e da prosperidade trazida pelo café.
QUANTO A DEODORO
Envolvido por Júlio de Castilhos, torna-se amigo também de Ramiro Barcelos e Assis Brasil, todos republicanos. Transferido, desterrado do RS para o então inóspito Mato Grosso em janeiro de 1887, em agosto de 1889 vê o Cel. Cunha Matos, seu inimigo assumir o governo de Mato Grosso. Era uma coronel mandando num marechal! Algo tão espantoso que somente 130 anos depois voltaria a ocorrer quando um capitão-presidente mandaria num general vice-presidente! Outro inimigo de Deodoro logo assumiria o governo do RS: Gaspar Silveira Martins.
Em 13.9.1889, a 63 dias de dar o golpe republicano, escreveu "o único sustentáculo do nosso Brasil é a monarquia; se mal com ela, pior sem ela". Deodoro estava adoentado e passou todo mês de outubro de 1889 acamado. Benjamin Constant atraiu-o para a causa republicana. Ainda hesitava em aderir quando é informado que Dom Pedro II escolhera Gaspar Silveira Martins para presidente do Conselho de Ministros no lugar do Visconde de Ouro Preto.
Pronto! Decide-se imediatamente e à noite, em sua residência, após chamar Quintino Bocaiúva, Aristides Lobo e Benjamin Constant falou: "Digam ao povo que a República está feita". Aristides Lobo era jurista, jornalista republicano, abolicionista. Na tarde de XV de novembro escrevera em sua coluna CARTAS DO RIO, no DIÁRIO POPULAR:
"Eu quisera poder dar a esta data a denominação seguinte: 15 de Novembro, primeiro ano de República; mas não posso infelizmente fazê-lo. O que se fez é um degrau, talvez nem tanto, para o advento da grande era. Em todo o caso, o que está feito, pode ser muito, se os homens que vão tomar a responsabilidade do poder tiverem juízo, patriotismo e sincero amor à liberdade.
Como trabalho de saneamento, a obra é edificante. Por ora, a cor do Governo é puramente militar, e deverá ser assim. O fato foi deles, deles só, porque a colaboração do elemento civil foi quase nula. O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava.
Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada. Era um fenômeno digno de ver-se.
O entusiasmo veio depois, veio mesmo lentamente, quebrando o enleio dos espíritos. Estamos em presença de um esboço, rude, incompleto, completamente amorfo".
Estaria na hora de voltar à monarquia?