ARTIGO Nº 1 DE UMA SÉRIE DE 5
"O que pode ser afirmado sem provas pode ser refutado sem prova" (Nietzsche).
Texto baseado no acervo que pertenceu em vida a ELIANE ANDRADE, operosa Diretora do BOC, falecida em 26.04.2021.
Personagem maiúscula na batalha pela consolidação do Banco de Olhos de Criciúma (BOC), Eliana Andrade, morreu aos 69 anos de idade. Era professora aposentada da rede estadual e deixou um grande legado no voluntariado. Além de seu extraordinário trabalho no BOC, deixou sua marca de competência na Assistência Social do município, quando era prefeito de Criciúma Paulo Meller, no final da década de 90.
O presidente da Cruz Vermelha e vice-presidente do BOC, Almir Fernandes, destaca a importância que Eliana teve durante os 17 anos de atuação no órgão, que, durante o período atingiu cerca de mil transplantes.
“Ela levantou várias bandeiras fazendo intervenções na Câmara de Vereadores e SC Transplante em Florianópolis. Foram muitas idas e vindas, reivindicando um Banco de Olhos para Criciúma. Não era um banco oficial, mas de voluntários. Em 17 anos realizou trabalho de orientação, conscientização, convencimento e captação de córneas chegando em mil transplantes. Isso é um marco a nível de Brasil. Ela esteve à frente neste processo e deixa um legado muito importante”, explica.
Primeiro transplante de córnea em Criciúma e em SC
14 de maio de 1972, domingo, Centro Cirúrgico do Hospital São José de Criciúma/SC, às 8 horas da manhã. Presentes os médicos Henrique Packter (oftalmologista e chefe da equipe), Boris Pakter (oftalmologista, 1º auxiliar, agora residindo e trabalhando em POA), David Groisman Raskin (oftalmologista, 2º auxiliar, hoje trabalhando em Campinas/SP), Sérgio Luiz Bortoluzzi (anestesista, atualmente aposentado), teve início a primeira cirurgia de Transplante de Córnea de que se tem notícia em terras catarinenses. Foi paciente, jovem de 16 anos, cego de um dos olhos por trauma produzindo Leucoma Corneal. A cirurgia obteve êxito e este paciente logo veio a trabalhar na Cerâmica Criciúma (CECRISA) admitido que foi, aprovado no exame oftalmológico por médico de outro grupo da cidade.
Repercussão
17 de maio de 1972, notícia no JORNAL DE SANTA CATARINA, de Blumenau:” Criciúma e Blumenau -17- Transplante de Córnea, o primeiro em SC foi realizado em Criciúma, no Hospital São José pelo médico Henrique Packter. Não foi revelado o nome do paciente. Sabe-se apenas que é um jovem de 16 anos cuja recuperação pós-operatória está se processando satisfatoriamente graças aos cuidados que lhe são dispensados pelos médicos e equipe de enfermeiros”. O mesmo jornal abria manchetes para noticiar a 6 de setembro de 1972: “Criciúma – novo transplante de córnea no São José: um sucesso” e “Mais um transplante de córnea”.
O deputado federal por SC, ADHEMAR PALADINI GHISI, em 25.05.1972, dava conta de que “exemplar do Diário do Congresso Nacional de 20 de maio de 1972, transcreve os anais da 34ª Sessão Conjunta do dia 19.05.1972, na qual fiz registrar, em pronunciamento, o importante acontecimento médico-científico ocorrido em Criciúma, consubstanciado no primeiro transplante de córnea já realizado em SC” (Foto com colegas).
De maio de 1972 a maio de 2001 o mesmo cirurgião realizou, no mesmo hospital, 395 cirurgias de transplante de córnea. Também incentivou e deu suporte técnico para que colegas nas cidades de Içara, Araranguá, Laguna e Tubarão, começassem a realizar tais cirurgias em suas cidades.
Noutra ocasião, em grave acidente com laceração da córnea e importante perda do conteúdo ocular, utilizamos córnea de galinha para manter o que restara do olho enquanto se aguardava pela córnea humana, não disponível no momento.
ADHEMAR PALADINI GHISI nasceu em 24.12.1930 na Vila de Braço do Norte (hoje Braço do Norte/SC), distrito de Tubarão/SC. Filho de Atílio Ghisi e Hermínia Paladini Ghisi, casou com Sônia Balsini Ghisi e tiveram os filhos: Andréia, Felipe e Carmen. Sônia era filha do Dr. José Balsini, médico em Criciúma.
O curso primário foi no Grupo Escolar Jerônimo Coelho, da Laguna/SC, Escola Estadual da Guarda e Grupo Escolar Hercílio Luz, ambos de Tubarão. Os estudos secundários (1º Grau) no Ginásio Lagunense, Laguna (1946), e o 2º Grau, no Colégio Catarinense, Florianópolis/SC (1948), e Diocesano, em Lages/SC, (1947 e 1949).
Em 1951/1952 é Secretário do Centro Acadêmico Maurício Cardoso, PUC/RS, onde estudava. Formou-se Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais (1954), Faculdade de Direito da PUC/RS. Professor do ensino secundário (atual ensino médio e técnico) na Escola Técnica do Comércio de Tubarão/SC.
Grande líder político da região sul catarinense, destacou-se na defesa dos interesses dos mineiros de Criciúma e dos pescadores de Laguna e Jaguaruna. Pela União Democrática Nacional (UDN), elegeu-se Deputado à Assembleia Legislativa de SC por dois mandatos: 1959-1963 e 1963-1967. Vice-Líder e Líder da bancada de seu partido no Parlamento, Vice-Presidente da Comissão de Justiça e Legislação e Presidente da Comissão de Educação e Cultura.
Na Câmara dos Deputados, foi eleito Deputado para cinco mandatos, os três primeiros pela Aliança Renovadora Nacional (ARENA) e os dois últimos pelo Partido Democrático Social (PDS).
Foi Vice-Líder do PDS (1983 a 1984), renunciou ao mandato em 1985, para assumir o cargo de Ministro do Tribunal de Contas da União.
Tomou posse como Ministro no Tribunal de Contas da União (TCU), em 6.03.1985, sendo Vice-Presidente de 1988 a 1989, e Presidente de 1990 a 1991. Permaneceu no TCU até 2000.
Criou (1979) a Fundação Brasileira Nereu Ramos, para Pesquisas e Estudos Políticos, com sede em Florianópolis/SC. Um dos fundadores do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário, sediado no RJ e da Fundação Milton Campos, para pesquisas de Estudos Políticos, com sede em Brasília/DF.
Nas eleições de 2002, foi Suplente de Paulo Bornhausen, candidato a Senador por SC pelo Partido da Frente Liberal (PFL). Receberam 892.480 votos, não sendo eleitos.
Faleceu em 2.07.2008, em Lisboa, Portugal, por complicações de pneumonia, contraída em viagem de férias pela Europa. Seu corpo foi velado no Salão Nobre do TCU e sepultado no Cemitério Campo da Esperança, setor dos pioneiros, em Brasília, onde residia desde 1985.
Termina o primeiro de 5 artigos sobre o Banco de Olhos de Criciúma