ARTIGO Nº 2 DE UMA SÉRIE DE 5
Faz algum tempo que recebi toda a documentação relativa à implantação de BANCO DE OLHOS em Criciúma e realização da cirurgia de TRANSPLANTE DE CÓRNEA entre nós. Até 14 de maio de 1972, todos os casos que demandavam esse procedimento em SC eram encaminhados ao Hospital Banco de Olhos em POA ou para Curitiba. Como vivo dizendo, sou formado na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná, em Curitiba. Graduei-me em 1959.
Naquela cidade realizei meu serviço militar no CPOR da Praça Oswaldo Cruz. Do antigo prédio castrense restaram as paredes externas, o interior comporta hoje moderno Shopping em bairro da elite curitibana. Foi meu colega de turma OSWALDO DORETO CAMPANARI, natural de Marília (SP), falecido aos 91 anos de idade em 26.7.2021, vítima da insidiosa COVID-19. Formado, regressou à cidade natal, onde se destacou como médico-oftalmologista e como político. Foi deputado constituinte em 1988, sendo reeleito por várias legislaturas.
Na época em que estudávamos Medicina, não se dispunha na Santa Casa de Curitiba de trépanos para a cirurgia de TransPORRTAL4OITOplante de Córnea, salvo por alguns, pertencentes ao professor da Cadeira de Oftalmologia. E ele, não manifestava o menor interesse em emprestar as preciosidades a alunos interessados na cirurgia, o nosso caso.
Também não dispúnhamos de microscópios para cirurgia ocular, ausência suprida com a utilização de uma lupa de quatro aumentos.
DORETO era muito inventivo ou criativo como se diz hoje. Despretensiosamente, certo dia, no Serviço de Oftalmologia da Santa Casa, indagou, como quem não quer nada:
- Escuta, no CPOR, aqui em Curitiba, vocês tiveram aulas de tiro?
- Sim, foi minha resposta. Isso, apesar de saber-se que médicos das Forças Armadas não andam armados e tampouco atiram em alguém. O Serviço, não ARMA de SAÚDE, criada em todo o Brasil naquele ano de 1955, destinava-se aos acadêmicos do curso de Medicina, Odontologia e Farmácia. Era curso de um ano apenas e formava TERCEIRO-SARGENTOS. Posteriormente, quando estávamos no 6º ano médico, após estágio no Hospital Militar de Curitiba, recebíamos o título de Oficial da Reserva.
DORETO e eu estivemos no quartel arrebanhando cápsulas não deflagradas daqueles mosquetões da guerra de 14-18. Levávamos o material coletado a um ourives-joalheiro, amigo de DORETO que afilava os bordos de cada bala, deixando seu bordo cortante impecável. Com esses trépanos realizei meus primeiros transplantes.
AS CINCO FASES DO TRANSPLANTE DE CÓRNEA (TC) E DO BOC EM CRICIÚMA
1- FASE DO VOLUNTARIADO QUE INCLUIU JUIZ DE DIREITO DA COMARCA
2- FASE DE (OUTRO GRUPO) DIRIGIR O BOC MUITO TEMPORARIAMENTE
3- RETIRA-SE SEGUNDO GRUPO ALEGANDO TER ZERADO SUA FILA DE CANDIDATOS A TC
4- DIREÇÃO DO BOC RETORNA AO SEU CRIADOR
5- BOC INSTALA-SE NO HOSPITAL MATERNO-INFANTIL SC LONGE DO CENTRO
A MORTE E A MORTE DE EGON ARMANDO KRUEGER
Desde 1956 Krueger era Diretor da Clínica Oftalmológica na FMUFPR. Nascido em Curitiba (1918), formou-se na Medicina do Paraná em 1943. Especializou-se no Penido Burnier, livre-docente em 1951 (Simulação em Oftalmologia), catedrático em 1967 por disposição legal, aposentou-se em 1976. Parece que nosso professor, EGON KRUEGER, veio a falecer em Curitiba mesmo, e – pasmem – por falta de leito na UTI!
Isso ocorreu e acho que ainda hoje pode ocorrer, como aconteceu também em Criciúma no governo militar de GARRASTAZU MÉDICI. Refiro-me à falta de leitos na UTI por ocasião de visitas ilustres em certas cidades. Quando foi inaugurado o asfalto da BR 101, o presidente MÉDICI esteve em Criciúma onde foi homenageado com um banquete no Criciúma Clube. Era prefeito da cidade, NELSON ALEXANDRINO, que cumpriu mandato de 1970-1973. Em 1971, ano em que ocorreu o concorrido ágape, eu me encontrava no RJ, HOSPITAL DO IPASE, durante todo o ano. Na mesma época, SÉRGIO HERTEL ALICE fazia residência em PATOLOGIA CLÍNICA no mesmo hospital, preparando-se para vir a Criciúma, a conselho de LUIZ FERNANDO DA FONSECA GYRÃO. Ambos trabalhavam no Serviço Médico da Companhia Siderúrgica Nacional, em Siderópolis.
Devo a SÉRGIO ALICE, criador do LABORATÓRIO ALICE, a doação das córneas que transplantei no Hospital do IPASE, RJ.
ONDE FIZ MINHA FORMAÇÃO PARA TRANSPLANTAR CÓRNEAS
É de dever ressaltar que devo tudo ao HOSPITAL DO IPASE, RJ, início dos anos 70. Era diretor do nosocômio JORGE DODSWORTH MARTINS e chefe do Serviço de Oftalmologia ORLANDO REBELLO, chefe de clínica RUY COSTA FERNANDES, chefe do ambulatório ADERBAL DE ALBUQQUERQYE ALVES. Eram outras importantes figuras do SERVIÇO DE OFTALMOLOGIA BOTELHO Fº, EDITH FINKEL, FERNANDO MOREIRA, HUMBERTO SAMPAIO. Neste local estagiei de Novembro de 1970 a novembro de 1971.
CRICIÚMA, 1971
Como já ia relatando, o presidente MEDICI esteve em nossa cidade em 1971, ocasião em que foi homenageado com banquete pelo então prefeito NELSON ALEXANDRINO, do PMDB/PSD. A RÁDIO ELDORADO pertencia ao Grupo DIOMÍCIO FREITAS, da ARENA. Nos quadros de jornalistas atuando naquela emissora, estava o falecido radialista CLÉSIO BÚRIGO. Informado do encerramento do ágape e com o discurso presidencial terminado, a comitiva presidencial ruma para o Aeroporto Leoberto Leal. Longa era a lista de seus componentes somando-se segurança, comunicação, logística, convidados especiais, políticos, além de outros, menos votados. Microfones à frente, CLÉSIO irradiava do estúdio os acontecimentos, com um ouvido na festa e o outro no aeroporto. Percebendo que a aeronave partia, CLÉSIO agradeceu a visita presidencial, fez referências à simpatia de nosso dirigente maior e ... acabou detido, porque a segurança destacada para cobrir a festividade, interpretou sua manifestação como possível aviso, um sinal a oposicionistas para algum ato terrorista. A rádio teve seu cristal desligada e suas transmissões encerradas! Temporariamente, é claro. Logo, logo, DIOMÍCIO FREITAS tudo esclareceria, através das ações incansáveis e inigualáveis de ADHEMAR PALADINI GHISI.
UTI RESERVADA
Pois, nas proximidades da data da visita presidencial, o 28º Grupo de Artilharia de Costa do Exército Brasileiro, sediado em Criciúma, enviou ofício ao Hospital São José, o mais antigo da cidade, pedindo que a UTI hospitalar fosse mantida sem a presença ou baixa de qualquer paciente/pessoa no dia aprazado para a comemoração, ficando aquele setor hospitalar vazio e na expectativa de atender qualquer elemento da comitiva, desde que surgisse oportunidade.
Isto também ocorreu em Curitiba por ocasião de visita de presidente da República e teria sido responsável pela morte de EGON ARMANDO KRUEGER, professor universitário em Curitiba. Difícil saber até que ponto isto é verdade, mas ainda se comenta nos círculos médicos mais antigos da cidade essa versão, em estilo de lamúria.
Não é de hoje que se diz haver 4 tipos de verdade:
A verdade jornalística
A verdade da opinião pública
A verdade da justiça
A verdade que realmente ocorreu
Próxima semana continua A HISTÓRIA DOS TRANSPLANTES DE CÓRNEA EM CRICIÚMA) 7.216