Próprios e Chasques (recados)
“Em Torres, Trifino Corrêa incumbido de chefiar militarmente a coluna, entendeu-se com o Cel. Krás Borges, Superintendente daquele Município. As confabulações terminaram tarde (uma e meia da manhã), Krás Borges atendeu as instruções recebidas, enviando próprios e chasques a todos os distritos de Torres.
No dia 3.10, sexta feira, pela manhã, tomei caminhão e segui com meu filho Ernesto às imediações de Araranguá, onde cheguei ás 11 horas. Chamei nossos companheiros Fontoura Borges e Pompílio Bento prevenindo-os de que, naquele dia, às 5 da tarde, invadiríamos o município e pedia-lhes conseguissem reunir grupo de amigos para nos auxiliar na ocupação da vila. Tudo consertado, regressei a Torres onde cheguei 1,30 horas da tarde. O coronel Krás Borges reuniu até 3 horas apenas 18 homens e com esse grupo, oitenta carabinas, uma metralhadora e dez mil tiros, saímos de Torres transpondo o Mampituba rumo a Araranguá. Consta que em Torres havia em depósito 300 armas e 30 mil tiros. Os fuzis (Manlicher) engraxados e sujos, não funcionavam regularmente. De cada dez, seis não disparavam. Por isso, apenas nos servimos de oitenta armas, escolhidas entre o lote existente.
Precisamente ás cinco horas da tarde de 3.10.1930, nos achávamos a 9 km de Araranguá onde Fontoura Borges, Pompílio Bento, Pacífico Nunes (...), e mais vinte e cinco homens, a cavalo, nos esperavam entre aclamações e contentamento.
Às 6 da tarde entrávamos na vila sem encontrar resistência. Tomamos o Telégrafo, todas as repartições estaduais e federais e com o resto dos companheiros incorporados naquela vila, completamos 50 homens. Ali, consoante acordo que fizéramos em POA com o Cel. João Alberto e Oswaldo Aranha, assumi eu a chefia civil do movimento do Sul de SC, nomeando nosso valoroso companheiro Fontoura Borges, para Prefeito do município”.
Por um lado revolução é bom, por outro tem Trifino Corrêa
Ás 10 horas da noite, ficando Fontoura Borges em Araranguá com finalidade específica de reunir mais gente para nos auxiliar e engrossar nossas fileiras, seguimos com 50 homens para Criciúma, ocupada às 3,30 horas da manhã de 4.10, sem resistência.
Um parêntesis no manifesto: A revolução em Criciúma
Em 10.10.1930, cinco dias após tomar posse como prefeito de Criciúma, Cincinato Naspolini enviou correspondência aos habitantes do município, requisitando material de consumo, veículos e outros. Documentos da época reclamam das condições em que veículos foram devolvidos a seus donos (Gregório Michels, em 10.10.1930, relaciona as peças levadas de seu Ford typo A, num total de 847 mil réis). Egydio A. da Silva, de São Bento Baixo, teve requisitado seu caminhão Ford número 10 para transporte de tropa de Torres a Araranguá. Santi Vaccari, governador civil em Araranguá, escreveu em 19.10.1939, no verso do documento que requisitava o caminhão, carregado para o norte do estado a serviço da Legião, pelo capitão Otelo Frota, comandante da Legião Osvaldo Aranha,
Também Henrique Waterkemper, de São Bento Baixo, teve seu automóvel Chevrolet requisitado, assim como Basílio Aguiar, de Nova Veneza, que emprestou seu caminhão Chevrolet com cabine, 6 cilindros, placa número 15 e Giácomo Búrigo, de Mãe Luzia, que perdeu o caminhão Chevrolet, modelo 1929, placa número 10. Em 12.10 requisitou-se 311,5 caixas de gasolina, 14 galões de óleo à Standard Oil Company of Brazil de Criciúma.
João Targhetta, proprietário do Hotel Brasil, teve pendurada uma conta de mais de trezentos e vinte mil réis, hospedagem de revolucionários. Calote também contemplou os hoteleiros Lodetti e Angeloni.
O prefeito Cincinato Naspolini em duas folhas de papel almaço ordenou as dívidas que deveriam ser quitadas pela municipalidade e que somavam quase 60 mil réis. 3.949