Continua a saga de Ernesto Lacombe, por ele descrita
“Tudo disposto na parte civil por mim e na militar pelo capitão Trifino Corrêa, seguimos em caminhões às 6 horas da manhã alcançando Urussanga às 10 do mesmo dia, onde entramos, apreendendo algumas armas da Polícia Catarinense. Prendemos o capitão Mello da Força Pública, comandante do destacamento de cinco homens. Pelas más condições da Estrada de rodagem, continuamos a marcha por ferrovia. De trem em Urussanga, seguimos para Tubarão chegando às 5 horas da tarde, tomando tudo sem oposição alguma. Capitão Trifino ficou na estação da Estrada de Ferro e eu com mais 8 homens nos dirigimos à Prefeitura onde o Prefeito Otto Feuerschuette e auxiliares nos aguardavam para entrega das chaves da cidade. Após as formalidades usuais nomeei autoridades, dispus tudo na parte civil e demiti-me da ação militar que vinha desempenhando”.
(Esta data também marca a retirada de OTTO para sua fazenda, abandonando a prática da Medicina, período que se estende até 1935. Na fazenda, OTTO recebe intimação para entregar 3 reses destinadas à alimentação das tropas revolucionárias. Os animais foram escolhidos a dedo pelos militares, na fazenda Campestre e levadas para abate. Ernesto Lacombe informado, constatou a excelente qualidade do gado e mandou devolvê-lo: devolvo ao Dr. OTTO os animais; são de qualidade para exposição e não para serem abatidas).
Enquanto isso...
Durante a Revolução de 1930, ASSIS CHATEAUBRIAND foi uma das figuras de vanguarda na imprensa brasileira. Nascido pobre, cresceu na vida como jornalista e empresário na TV, rádio, e mídia impressa. Sempre preferiu atalhos, o caminho mais curto, como titular de um império jornalístico (os Diários Associados), oferecendo seu apoio a políticos detentores do comando.
Em 1930, Chateaubriand, anteviu a conquista do poder por Getúlio Vargas, oferece-lhe apoio imediato e incondicional. Irrompida a Revolução de 30 em POA, logo contagiando o país, resolve para lá deslocar-se por hidroavião que tem escala em Florianópolis, como já vimos. Chatô falava alemão e surpreende diálogo dos pilotos comentando mensagem recebida logo do pouso. A mensagem descrevia-o e decretava sua prisão. Foge e com o auxílio de Henrique Raupp vai a São Joaquim a cavalo, onde chega sem documentos (não sabia quem estava no poder na cidade), vestido de padre, batina e tudo mais. É preso e levado ao hotel da cidade com guarda armado à porta.
O delegado da cidade decide que ele deve ser executado, sobretudo após Chatô ter declinado sua identidade.
- Assis Chateaubriand? Em São Joaquim?
Pronto para o pelotão, alguém lembra de César Martorano, garoto da localidade que vendia assinaturas de O Jornal. Quem sabe, poderia desmistificar o embusteiro que se fazia passar pelo jornalista paraibano?
César tinha uma carteirinha funcional que o autorizava a colher assinaturas e a cobrá-las. A carteira tinha a assinatura de Chatô. Vão ao hotel conferir no livro de hóspedes a falsidade da assinatura. Não é que era verdade, tratava-se mesmo de Assis Chateaubriand!
Chatô, claro, nunca esqueceu o episódio.
O jornalista Rogério Martorano, filho de César Martorana, hoje residindo em Florianópolis, conta do apreço de Chatô para com seus familiares e São Joaquim, a partir de então. As visitas de Chateaubriand, tornam-se frequentes e ele destina muitos recursos à cultura da cidade. Rogério foi levado por Chatô ao RJ. Hospeda-o em sua residência na Avenida Atlântica. Rogério inicia-se no jornalismo e vem a miúde à cidade natal. No retorno, traz fotos, muitas fotos das nevascas na serra catarinense para o jornal carioca,
Por esta razão torna-se conhecido como o Abominável Monstro das Neves.
São Joaquim, cidade mais fria do Brasil possui em seu Museu Histórico honroso Espaço Assis Chateaubriand. 3.779