Na madrugada de domingo, 27 de janeiro de 2013, o mundo foi abalado por uma das mais espantosas tragédias ocorridas em casa de diversão ao longo da história. No incêndio da boate Kiss em Santa Maria, RS, rua dos Andradas 1925, morreram 242 pessoas e 680 outras ficaram feridas.
Há relatos e fotos chocantes da tragédia que roubou vidas jovens, a maior parte delas na casa dos 20 anos. Os corpos das vítimas, pisoteados, calcinados e irreconhecíveis, amontoavam-se por toda a parte. À destruição somou-se horror e sofrimento.
A notícia propagou-se e alcançou o mundo todo num instante.
Hoje, identificados e enterrados os mortos cuida-se ainda dos sobreviventes e de seus familiares aniquilados e traumatizados para todo o sempre. A sociedade busca ainda hoje respostas para perguntas que atormentam a cidade: Algum engenheiro assinou o projeto fatídico da boate? Quem, na Prefeitura e nos Bombeiros, autorizou o funcionamento da casa noturna? Qual a justificativa para o disparo efetuado por músico(s) de artefato incendiário em ambiente confinado e apinhado de pessoas? Porque extintores não foram utilizados e quando o foram não funcionaram? Como entender que o teto de uma boate-armadilha seja revestido por material inflamável? Quem autorizou essa alteração? Qual a lotação da casa e quantas pessoas lá se encontravam quando da tragédia? Quantos funcionários da casa sobreviveram? Quem eram na realidade os proprietários da casa? Seria verdade que menores tiveram acesso à casa e consumiram bebidas alcoólicas?
Uma tragédia anunciada, resultado de prevenção negligenciada pelos órgãos públicos, funcionários e autoridades responsáveis. Pela segunda vez na história os olhos do mundo voltavam-se para Santa Maria. A primeira vez ocorrera 61 anos antes em 1952 e por razão exatamente oposta, um acontecimento hilário, inédito. É desse acontecimento que me ocuparei, porque de tragédias a humanidade está saturada.
Santa Maria, RS
Na foto o centro da urbe, a famosa primeira quadra da rua Dr. Bozano, fechada ao trânsito de veículos nas noites de sábado para footing de jovens estudantes, quando o tempo permitia.
Santa Maria já foi reconhecida como cidade ferroviária ou cidade coração do Rio Grande por estar situada em local estratégico, entrecruzamento de ferrovias, transbordo obrigatório para que pessoas da fronteira, do norte do estado gaúcho alcançassem POA. Aos nossos vizinhos Uruguai e Argentina também se ia pelo trem na minha época de estudante, anos 40 e 50. Rodovias inexistiam ou eram precárias. Santa Maria se tornou o maior entroncamento ferroviário do estado e talvez do país, ponto de encontro de comerciantes. A Avenida Rio Branco, que tinha no seu início a Gare da Estação, era nesse particular a via mais importante da cidade.
Livros registram a saga dos ferroviários gaúchos. Em 2007, lançamento de Fragmentos da História Ferroviária Brasileira e Riograndense, de João Rodolpho Flores. Numa das Feiras do Livro santa-mariense foi lançado Trabalhadores da V.F.R.G.S. – profissão, mutualismo, cooperativismo, iniciativa editorial da Câmara de Vereadores da cidade (Lei do Livro). Experiências de trabalho e de cidadania dos trabalhadores ferroviários do estado entre 1898 e 1957.
Com o declínio do transporte ferroviário e a ocupação ocorrida pelos investimentos em educação, a cidade passa a ser reconhecida como cidade universitária. O professor e mais tarde reitor da Universidade de Santa Maria, José Mariano da Rocha Fº tem tudo a ver com isso. Em 1992, Marianinho, como era conhecido, recebeu o título de cidadão santa-mariense do século. Em 1999, com votação consagradora, foi eleito Gaúcho do Século, sendo o mais votado na Promoção da RBS TV/Zero Hora que escolheu 20 gaúchos que marcaram o século 20.
Santa Maria tem hoje 32 mil estudantes universitários em 7 Universidades. São 167 cursos de graduação, 51 de mestrado, 32 de doutorado, 4.106 professores e 510.209 livros nas bibliotecas.