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O novo passado de Romeu Lopes de Carvalho

Por Henrique Packter 06/04/2021 - 06:19

Historiadores concordam com que o passado muda todo dia. De acordo com as motivações do presente, alguns personagens ganham brilho enquanto outros se apagam; episódios inspiram feriados cívicos, anônimos viram heróis.

Até 2003 Dilma era personagem pouco relevante na luta contra a ditadura. Ministra das Minas e Energia, já cotada para a sucessão de Lula, seu passado se transfigurou. Virou protagonista. Na 1ª edição do livro Mulheres que foram à luta Armada (1999), do jornalista Luiz M. Carvalho, a presidenta nem sequer aparece. Em 2003 (caso exemplar de como o passado muda de acordo com o presente), o jornalista adicionou a história de Dilma ao livro.

ROMEU PINICILINA, natural de Itajaí, 29.12.1921, filho de José Lopes de Carvalho e de Etelvina Ramos de Carvalho, casou-se com Carmezinda (Carmem) Freitas de Carvalho: o casal não teve filhos. Funcionário autárquico do IAPETEC de Criciúma, onde executou as funções de enfermagem ambulatorial, incorporado depois ao INAMPS, era dotado de zelo e capacidade invulgares. Vereador com mandato de 1970-1972, era vice-presidente do legislativo. Foi suplente de deputado federal. Desenvolveu intensa atividade social, sobretudo em inúmeros eventos de caráter esportivo.  Presidente da Banda Musical Cruzeiro do Sul também fundou e foi  presidente da Associação Ciclistas de Criciúma e presidente da Escola de Samba Vila Isabel. Os mais antigos vão lembrar-se dos desfiles de bicicletas adornadas com as cores pátrias, sua responsabilidade nos desfiles de 7 de setembro. Faleceu em Criciúma em 26.4.1999, 78 anos.

Romeu Pinicilina era personagem menor do folclore criciumense, mas não menos importante. Filiado ao PTB tentava galgar os degraus da política pela Câmara de Vereadores.

ROMEU LOPES DE CARVALHO, O ROMEU PENICILINA. ENFERMEIRO, MEMBRO DO DIRETÓRIO DO PTB, CICLISTA                        

Os vereadores à Câmara Municipal de Criciúma (1963/1966) foram Abílio dos Santos, Arlindo Junkes – agricultor, comerciante, filósofo, professor de latim no Madre Teresa Michel, prefeito ante a renúncia de Nery Jesuíno da Rosa,  jornalista Aryovaldo Huascar Machado - imprensa, rádio e TV, presidente da Câmara de Vereadores,  Fidélis Back -  servidor público e vice-prefeito de Algemiro Manique Barreto, Fidélis Barato – contabilista, empresário, natural de Jaraguá do Sul, fixa-se em Criciúma aos 17 anos, presidente do legislativo local, Antônio Guglielmi Sº- pecuarista, vereador duas vezes, presidente da edilidade, deputado estadual, falecido aos 45 anos, José Martinho Luiz, Lafaiete Borba - funcionário do IAPETEC,  Nelson Alexandrino – presidente da Câmara, técnico  em contabilidade, economista, advogado; aos 90 anos reside em Florianópolis, Pedro Guidi – servidor público municipal, duas vezes vereador, pai de Nereu (advogado, vereador, presidente da Câmara, dois mandatos de deputado federal), e de Nelson (médico pediatra), Wilmar Zózimo Peixoto – de Porto Belo, topógrafo e agrimensor, três mandatos consecutivos de vereador, presidente por duas vezes do legislativo municipal, fundador e presidente da LARM, fundador e dirigente do EC Próspera. Foram suplentes:  Apolinário Tiskoski, Antônio Casagrande, Edgar Cândido da Rosa, João Antônio Nunes, Matias Ricardo Paz, Nicolau Destri Napoleão, Nilton Francisco Rebello, Otávio Pacheco dos Reis, Romeu Lopes de Carvalho, Tibélio Otávio Milanez).

OS COMEÇOS. FICHA DE ATENDIMENTOS EM OFTALMOLOGIA

Conheci ROMEU LOPES de CARVALHO, o Romeu Pinicilina, atendendo-o profissionalmente em 08.9.1960, quando ele contava 38 anos de idade. Natural de Itajaí, agora residia em Criciúma. Tinha pterígios internos . Voltou a consulta em 29.3.1962.  Era míope de -2.00 graus.  Tinha pressão arterial e ocular normais. Ainda consultou em 20.1.1967, 08.1.1969, 11.2.1976, 8.1.1969, 11.2.1976, 17.10.1979, 11.1.1983, 23.3.1983 quando remove seu pterígio interno no OE.  Os pontos são removidos em 29.3. 1983. Tinha queixa de estafa em 13.3.1990.  A PA sobe e chega a 14x10.  Em 29.10.1992, aos 71 anos de idade  seu último exame em minha clínica já apresentando um catarata em AO e com PA normalizada.

Locomovia-se pela cidade de bicicleta, mini guarda- chuva pendurado na cintura. Estudava à noite no Colégio Sebastião Toledo dos Santos. Nos desfiles de 7 de setembro invariavelmente sua bicicleta era a mais vistosa com fitas verde-amarelas que resplandeciam ao sol. Perseguia incansavelmente um lugar na Câmara de Vereadores e era membro convicto do diretório municipal do PTB.

1945, ANO ZERO

Nesse ano, morre o presidente dos EUA, Franklin Delano Roosevelt, por AVC. Assume seu cargo o vice-presidente Harry Truman. 08.5.1945 é o dia da vitória na Europa, dia em que a Alemanha nazista rendeu-se incondicionalmente às forças aliadas. A 6 e 9 de agosto Hiroshima e Nagasaki são bombardeadas com armas nucleares. A Segunda Guerra Mundial vai terminar a 2.9.1945 com a vitória dos aliados. A 24 de outubro a ONU é fundada e a 29 de outubro Getúlio Vargas é deposto da presidência do Brasil, finda o Estado Novo. Aporelly, o Barão de Itararé se regozija. Eterna vítima da violência da polícia política carioca, em seu box de trabalho no Jornal A Manhã (sua coluna chamava-se A Manha), pendurara aviso:

- Entre sem bater! 

Quando HENRIQUE DAURO MARTINGAGO  retorna a Criciúma, início dos anos 60, a cidade está em efervescência, exatamente o ambiente que sua personalidade inquieta requeria. Imagino-o apresentando armas ao chegar:

- Quem mandava aqui?

BRASIL, PAÍS SEM MEMÓRIA. O IMBECIL COLETIVO

Noutros países o passado integra o presente; mesmo vilões como GUEVARA ganham investigadores e admiração. Na Argentina há verdadeira disputa em torno de personagens enterrados, embalsamados e de seus ossos – o caso de Perón. No Brasil essas coisas não são levadas muito a sério e há ossos ilustres perdidos por aí.

A vida de ROMEU LOPES DE CARVALHO, vivida em Criciúma, é tanto mais notável por se passar num momento decisivo de nosso desenvolvimento, quando todos grandes protagonistas de nossa história já aqui estavam e contracenaram com nosso singular personagem. Às vezes, ler registros daquela Criciúma exige visão ampla e estômago forte. A indústria carvoeira, suas semelhanças e estranhamentos com todo o resto; seus sindicatos, empresários e mineiros, políticos, religiosos, comerciantes, médicos, engenheiros, contadores, jornalistas -, estranho, cruel e impiedoso mundo de negócios em que tudo precisava estar em seu devido lugar sob pena de catástrofe. 
Historiadores sabem que o passado não é um campo imóvel de contornos definidos. As interpretações históricas favorecem a ampliação do conhecimento possibilitando conhecer os fatos tal como eles realmente ocorreram. A análise do passado não nos obriga à ingestão de pratos feitos, quase sempre indigestos. Assassinos da memória parecem não ter dúvidas a respeito do caminho percorrido e a percorrer. Para ficar numa só voz crítica, vinda do universo religioso, Leonardo Boff disse a respeito:

- Quem tem tanta certeza não pode ter misericórdia. Não pode entender e respeitar a convicção alheia – condição indispensável da vida democrática.
 

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