O ACIDENTE
Amigo meu de primeira hora, Alexandre sofreu grave acidente automobilístico quando se dirigia a Florianópolis pela velha e poeirenta BR 101, na altura de Sete Pontes, Araçatuba. Estava acompanhado da mulher e do único filho homem, o futuro advogado José Alexandre de Freitas, também prematuramente falecido por complicações do diabetes. Era 1963. Levado a Laguna em coma por traumatismo crâneo-encefálico, Alexandre Herculano foi hospitalizado e examinado pelo Dr. PAULO CARNEIRO. Mulher e filho de Alexandre haviam sofrido ferimentos relativamente superficiais. Manter Alexandre Herculano vivo foi longa e martirizante noite de agonia que o ortopedista OTÁVIO CARNEIRO RILA e eu compartilhamos. Alexandre tinha apneias demoradas (paradas respiratórias) e fez pelo menos uma parada cardíaca, resolvida por injeção intracardíaca de adrenalina, aplicada por RILA. Honra seja feita, PAULO CARNEIRO, amiúde, vinha apreciar nossos esforços, colaborando com sua inestimável experiência nos atos médicos que instituíamos. Mas, saía abanando a cabeça. Por outro lado, RILA nada tinha a ver com o acidentado ou sua família. Simplesmente soube do acidente e veio oferecer sua ajuda desinteressada, aliás, de extraordinária qualidade.
Na manhã seguinte ao acidente, um domingo glorioso de sol, pequeno avião monomotor pousou na praia da Laguna. Trazia o Dr. NELSON VENTURELA ASPESI, neurocirurgião de POA a quem o falecido pediatra DAVID LUIZ BOIANOWSKY que trabalhou em Criciúma no Hospital São João Batista, fora buscar.
RILA e eu, indormidos e exaustos, afinal relaxamos. Alexandre foi levado ao Centro Cirúrgico para exame e possível cirurgia. ASPESI logo vem até a entrada do Centro Cirúrgico para dizer-nos que o tecido cerebral de ALEXANDRE estava irremediavelmente danificado. Sobrevivendo, estava destinado a ter vida vegetativa. Morreu logo após conclusão do procedimento.
O FUNERAL DE ALEXANDRE HERCULANO DE FREITAS
Prefeito NERI JESUINO DA ROSA construíra um novo cemitério para Criciúma exatamente no local onde ele ainda hoje se encontra, proximidades do Teatro e Ginásio de Esportes municipais. Os mais antigos lembrarão do velho cemitério, localizado onde hoje está o Supermercado Bistek Centro. Mas, cemitério pronto para ser inaugurado, cadê defunto? Este macabro episódio pode ter inspirado DIAS GOMES, seis anos depois, a escrever Odorico, o Bem Amado. O próprio ALEXANDRE HERCULANO muita pilhéria fizera a respeito do imbróglio. Pois não é que coube justamente a ele, cujos restos mortais estão hoje em Florianópolis, inaugurar a obra?
Odorico Paraguaçu, prefeito de Sucupira, é personagem de ficção, criado e vivido, na Tv, pelo falecido ator Paulo Gracindo. Já a estreia da peça foi no Teatro Santa Isabel, Recife, com o genial ator Procópio Ferreira no papel de ODORICO, em 30.04.1969. O personagem está obcecado por inaugurar o único cemitério da cidade, principal promessa de campanha para prefeito. Morrendo alguém na cidade, o corpo devia ser levado a cidade vizinha para ser enterrado. O problema dos dois prefeitos, Odorico e Nery. é que, cemitérios prontos, ninguém mais morria...
COSTUME BIZARRO
OTÁVIO mostrava estupefação diante de um costume local: no horário das visitas acotovelam-se em torno dos leitos destinados à ortopedia e traumatologia, os curiosos, os práticos da região. Exatamente como fazem os médicos ao visitar seus doentes hospitalizados.
DONA MARIA DA CONCEIÇÃO CARNEIRO RILA
Natural da Laguna e mãe de Otávio Roberto Carneiro Rila, foi minha cliente desde fins de 1968 aos 57 anos. Fosse viva teria hoje 104 anos de idade. Tinha problemas de audição e visão. Operei-a da catarata em 29.12.1980 do olho direito e em 18.12.1984 do olho esquerdo. RILA e seu grupo de colegas formados na mesma época na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná, planejavam um dia reunir-se e trabalhar num mesmo hospital, em Florianópolis. Assim, OTÁVIO deixa Criciúma em julho de 1964 para integrar-se a equipe jovem, toda ela formada na Universidade Federal do Paraná, todos colegas de turma ou contemporâneos. Reuniram-se no Corpo Clínico do Hospital Infantil Edith Gama Salles. JOÃO APARECIDO KANTOVITZ, nascido em 23.10.1937 em Rio Claro, SP, chega ainda em 1964 para substituir Rila.
RILA E ALGUNS COLEGAS DE TURMA
Foi colega de Levínio Neves de Godoy (primeiro neurocirurgião de SC e primeiro professor da especialidade na UFSC. Aposentado, vive na fazenda em Lages), Mauro de Athayde (lageano, tricampeão paranaense de enxadrismo), Maurício Brik, Milton Carneiro Fº (filho do professor de Parasitologia), Nei Luiz Gonzaga, Vilson José de Castro Gamborgi, Mário Gentil Costa (Magenco). O lageano GAMBORGI foi meu colega no CPOR, no primeiro serviço de saúde criado no Brasil, Curitiba, 1954, além de ser dono de hospital no Bairro curitibano de Santa Felicidade. MARIO GENTIL COSTA, professor aposentado da UFSC na área de Otorrinolaringologia foi celebrado escritor e artista plástico, além de ser proprietário (enquanto viveu) de um GORDINI que vou te contar! Quem é do ramo vai se persignar à simples menção destes nomes.
Estudante de Medicina em Curitiba, OTÁVIO trabalhou com o Professor HEINZ RÜCKER, dos melhores Ortopedistas e Traumatologistas que o país já teve. Formado, fez residência na especialidade entre dezembro de 1960 e fevereiro de 1962 no Hospital das Clínicas, USP, serviço dos Professores Godoy Moreira e Flávio Pires de Camargo. OTAVIO ROBERTO CARNEIRO RILA, é o primeiro ortopedista e traumatologista em Criciúma.
CARNEIRO, COSTA CARNEIRO, CUNHA CARNEIRO, CARNEIRO RILA
Os CARNEIRO (só no sul de SC são três as famílias Carneiro), vêm da cidade do Porto, Portugal. OTÁVIO ROBERTO CARNEIRO RILA é filho de CELSO RILA e MARIA da CONCEIÇÃO VIANNA CARNEIRO. Nasceu a 29.03.1937 em Blumenau e é irmão de Maria Stella, Mário José e de Fernando Luiz, este uma espécie de Einstein da Geometria Analítica. Otávio, casado com Márcia, é pai de 3 filhos, Roberto, Lúcio e Renata. Fernando Jorge da Cunha Carneiro, o primeiro arquiteto em CRICIÚMA é primo de Otávio Roberto.
Pai Celso, inspetor escolar e político ligado ao bom e velho PSD, perambulou por SC, reflexo do desenho político da engenharia partidária estadual. De Blumenau para Orleans, depois Araranguá, Palhoça e São José. Até que não foi mal. Tem gente que foi parar em Cunha-Porã!
Dos tempos do Catarinense OTÁVIO lembra de Vitor Sampaio, Agostinho Silvestre, Searinha, Vinicius e Walmor de Luca (Içara), Eloi Martinhago, Antenor Angeloni, Clovis Balsini, Vitor Casagrande, Itamar Gaidzinski, Altair Castelan, Agenor Fretta, Nereu Lazarin, Lauro e Neri Búrigo. Desse grupo sai a primeira geração de nível universitário de SC. Rila, (CRM 376), formado em 1960 já está aposentado.
RILA EM CRICIÚMA
Chega a Criciúma em fevereiro de 1962 e procura a Irmã Frumentia, diretora religiosa do Hospital São José, com quem acerta seu ingresso no Corpo Clínico do hospital e a aquisição dos instrumentos de que necessita.
OTÁVIO conhecia os filhos de DIOMÍCIO FREITAS, o grande empresário, político e minerador sul catarinense. Deles fora colega no Colégio Catarinense, a exceção de DITE FREITAS (JOSÉ FRANCIONE DE FREITAS, pai de JORGE FREITAS, o homem por trás da INTELBRAS).
Sondado por DITE para acompanhar a excursão de 100 dias do E. C. METROPOL à Europa, não aceita: estava se instalando na cidade. EVERALDO SABBATINI, primeiro anestesista na cidade e médico do clube, também recusou. Sobrou para ANGELO LACOMBE, filho do revolucionário de 30, Ernesto Lacombe e irmão de Ernesto Lacombe Filho. Médico já falecido, assumiu o encargo, na vitoriosa excursão de 1962, cujos resultados ainda não foram igualados por nenhum clube catarinense.
Otávio trouxe a Criciúma PAULO EBERHARDT, ortopedista morto prematuramente, vítima de descarga elétrica quando praticava vela na Lagoa dos Esteves, cercanias de Criciúma.