De Tubarão chegavam notícias alarmantes sobre o bombardeio de Imbituba. Um desembarque foi tentado por parte da força de vanguarda, 20 homens sob o comando do Cel. Fernandes que repeliu, pondo em fuga, o destroier e o navio que ele comboiava. Os bombardeios da costa, porém, prosseguiam e, com o objetivo de desloca-los, marchou pela praia sobre o Morro dos Cavalos, deixando força de ocupação. Em Laguna ficaram 40 homens, em Imbituba 100 homens, em Garopaba um pequeno destacamento e assim por diante. A vanguarda ainda sob o comando do Cel. Fernandes entrou em contato com o inimigo em Massiambú onde houve breve tiroteio com guardas adversários que perderam um homem. Isso foi o bastante para que abandonassem as trincheiras.
Assim, foi possível marchar tranquilamente até Palhoça. Esta operação, porém, foi mais lenta do que se desejava devido à falta de recursos com que se lutava para a defesa do vasto litoral onde se encontram, às dezenas, pontos de desembarque que tiravam a segurança a qualquer marcha menos cautelosa. Durante toda a marcha sobre o litoral, a força revolucionária recebeu fogo dos destroiers que tomaram posição para impedir sua barragem.
Assim como Trifino Corrêa outros ex-integrantes da Coluna Prestes também participaram do levante de outubro de trinta, entre eles: Juarez Távora, João Alberto e Siqueira Campos. A grande exceção dos líderes tenentistas foi justamente Luís Carlos Prestes que desde o início era contra o modelo de revolução proposto pela Aliança Liberal. Importante frisar que a descrição de Trifino Corrêa do Combate da Serra da Garganta, citado anteriormente, só faz alusão a uma única morte durante a trajetória de sua coluna, e ainda assim, de um legalista. Dessa forma, contraria ou mesmo ignora as mortes no combate na Serra da Garganta, descritas por Sálvio Rodrigues Brasil.
Muito provavelmente outras mortes ocorreram em ambos os fronts no trecho de Araranguá a Florianópolis. A descrição revela os atos militares que se sucederam durante outubro de trinta no litoral catarinense, mas reflete a visão do vencedor. Nesse ponto já se pode estabelecer conexão com o trabalho de Edgar De Decca, O Silêncio dos Vencidos, em que estuda a apropriação do discurso revolucionário pelo governo. Ainda define que, quem é contra o Estado - representante legítimo dos interesses nacionais - é inimigo da nação. Segundo De Decca essa era a tônica do governo pós-30.
O combate da Serra da Garganta foi um entre tantos outros que devem ter ocorrido em todo o Brasil, mas que na construção da memória foram apagados pelo vencedor, para desprover os grupos opositores de argumentos, principalmente junto às classes populares. Resolveu-se, então, propagar a ideia de revolução como uma conquista, no sentido de legitimar o poder político do vencedor.
Sobre isto, Edgar De Decca aponta:
- A revolução é apresentada como unitária e monolítica. Eis a lógica do exercício de dominação: divide a história, memorizando-a, e a historiografia, através de enfoques diversos, assume de ponta a ponta as oposições constituídas no interior desse campo simbólico. Contudo, se pode afirmar que o movimento político-militar de 1930 em quase todos os momentos se preocupou com a formação de uma imagem positiva para o conceito de revolução. Uma das principais medidas das tropas ao ocuparem uma cidade era a intervenção no jornal local, que era a mídia com maior alcance popular da época. Dessa forma os noticiários poderiam ser selecionados e censurados conforme o ideário dominante. Em Florianópolis, cujos periódicos diários eram politicamente atuantes na defesa de interesses da classe dominante, não foi diferente, só que nessa capital a revolução tardou a ser concretizada, ao passo que, os veículos estudados tardaram a sofrer a ação dos interventores.
O PATRONATO AGRÍCOLA DE ANITÁPOLIS
Em Anitápolis existia um Patronato Agrícola (1918), obra do governo Federal, espécie de colônia correcional para jovens do RJ. A primeira turma era constituída de 200 jovens entre 11 e 18 anos de idade. Também havia um hotel em Anitápolis, de José Goebert (Gato Preto), que chegou a abrigar 35 oficiais revolucionários em 1930. O telegrafista Vitorino Goebert, irmão do proprietário, foi preso e removido para a Bahia.
UM EPÍLOGO PARA FÁBIO SILVA
A família de Fábio da Silva passa a guardar luto cerrado, missa de sétimo-dia é rezada em intenção de sua alma, escultura angelical sobre o túmulo vazio é colocada no cemitério, hoje ocupado pelo Supermercado Bistek. Logo seria 2 de novembro e esperava-se grande afluência de público no ainda acanhado Cemitério Municipal de Criciúma. Maria Soares, mulher de Fábio, mais oito filhos rezam diante do túmulo do herói da batalha da Serra da Garganta quando subitamente ele ressurge. Vivo, saudável, boas cores,diz:
-Há um certo exagero nas notícias sobre minha morte.