Oswaldo Doreto Campanati nasceu em 7 de janeiro de 1930 e faleceu a 27 de julho de 2021 em Marília, SP, aos 91 anos de idade. Era médico oftalmologista, formado em dezembro de 1959 pela Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Paraná. Fomos colegas, amigos e parceiros quase de primeira hora. Doreto foi presidente da União Paranaense dos Estudantes Universitários.
Em 1962 passou a clinicar em Marília e seis anos depois, a população da cidade elegeu-o vereador pelo partido MDB (1969 a 1973); foi deputado estadual de 1975 a 1979 e de 1979 a 1983, ambas as vezes pelo MDB de Marília, SP. Ele se opunha ao regime militar vigente naqueles anos.
Eleito deputado federal, teve mandato de 1983-1987, SP, PMDB, empossado em 17.03.1983, novamente deputado federal - (Constituinte), exerceu mandato de 1987 a 1991, SP, PMDB, empossado que foi em 01.02.1987.
Doreto costumava dizer que a arte existe porque a vida não se basta. Muitas vezes, no decorrer de nosso curso demonstrou a veracidade do que afirmava revelando ser possuidor de mente inventiva e poderosa.
Vereança em família
Vereador em 1969 pela Câmara Municipal de Marília, Doreto Campanari inicia trajetória na vida pública marcada pela dedicação ao próximo e pelo culto à democracia. Eleito pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido que opôs-se ao Regime Militar, permaneceu na edilidade até 1973.
Assembleia Legislativa e Deputação Federal
No período de 1975 a 1982 exerceu mandatos na Assembleia Legislativa do Estado de SP. Em 1979, com a reorganização partidária, resultada do fim do bipartidarismo, ingressou no Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), partido criado na esteira da extinção do MDB. Em novembro de 1982 concorreu a deputado federal, ficando na suplência. Foi alçado para o mandato na Câmara dos Deputados porque o deputado federal Mário Covas (depois governador de SP), foi nomeado para o cargo de secretário estadual dos Transportes do governo de Franco Montoro. Em novembro de 1982 assumiu o mandato do deputado Mário Covas, devido ao pedido de licença deste para assumir a Secretaria Estadual de Transportes no governo Franco Montoro (1983-1987). Campanari permanece ainda no Legislativo por mais tempo em decorrência da indicação de Covas para assumir como prefeito da cidade de SP. Em 25.4.1984 vota a favor da emenda Dante de Oliveira e, mais tarde, no candidato à presidência vitorioso, Tancredo Neves, após a emenda não ter sido aprovada.
Em 1986, Doreto elege-se deputado federal pelo PMDB e participa da Assembleia Nacional Constituinte, atuando como primeiro vice-presidente da Subcomissão dos Negros, Populações Indígenas, Pessoas Deficientes e Minorias; também cooperou na Comissão da Ordem Social, Comissão da Ordem Econômica e na Subcomissão da Questão Urbana e Transporte.
Doreto Campanari foi um dos 512 deputados federais brasileiros que em 1988, sob o comando do então presidente da Câmara dos Deputados, Ulysses Guimarães (PMDB), ajudou a escrever a Constituição Federal, que ficou conhecida como Constituição Cidadã.
Foi responsável por 102 projetos de lei, entre eles o que reduziu o tempo de serviço para obter estabilidade no emprego dos trabalhadores e o que instituiu jornada máxima de trabalho de 40 horas semanais e proibiu as horas extras. Deixa a Câmara em 1985, com a volta de Mário Covas, após o fim de sua gestão na prefeitura de SP.
Promulgada a nova Constituição em 5.10.1988, passa a exercer apenas o mandato ordinário na Câmara.
Medalhado
Entre outras homenagens, Doreto Campanari recebeu a medalha de mérito cívico Marília de Dirceu, em 29.3.2019, na Câmara Municipal de Marília, SP. Na ocasião declarou:
“É muito gratificante. Tenho amor e respeito por esta Casa de Leis. Fui vereador por oito anos e aprendi muito aqui. Depois me elegi deputado estadual por duas vezes e também considero uma escola muito boa. Posteriormente estive em Brasília como deputado federal. Fiz muitos amigos, entre eles o André Franco Montoro e o Fernando Henrique Cardoso. Sempre defendi uma política de princípio e moral”.
A morte
Doreto Campanari encontrava-se acamado já há algum tempo, após ter sofrido um AVC (Acidente Vascular Cerebral), há dois anos. Deixou cinco filhos e 11 netos, além da esposa Ester Pierini Doreto Campanari.
Doreto inicia em 1958 a era doa transplantes de córnea em Curitiba na Santa Casa
Fiz o serviço militar no CPOR de |Curitiba em 1954. Nesse ano foi criado em todo o país o Serviço de Saúde da instituição. Era um Serviço, não uma arma, como a Infantaria, a Artilharia, Engenharia. No velho prédio fronteiro à Praça Oswaldo Cruz, durante um ano ficamos nós, estudantes de Medicina, Odonto e Farmácia, nas férias e nos sábados e domingos, cumprindo com nossa obrigação para com a pátria.
Muita gente boa fez sua estreia militar naquele ano de 1954, bastando citar apenas alguns deles: Lino Lima Lenz (depois professor de Urologia na UERJ, Coriolano Caldas Silveira Motta (professor em várias cadeiras da Faculdade de Medicina da Federal do Paraná e da Evangélica), Afonso Antoniuk (professor de Neurocirurgia da Federal do Paraná), Luiz Alencar de Moraes (primeiro pediatra em Dracena, SP), Egídio Martorano (depois prefeito de São Joaquim em SC, deputado estadual e secretário de Estado), Vilson Cidral (professor de Otologia na Federal do Paraná)...
Pois foi pelo Serviço Militar no CPOR de Curitiba que Doreto andava atrás de mim. Queria ele começar a fazer transplantes de córnea e me oferecia a oportunidade de começarmos juntos. Mas, faltava o essencial: trépanos para remover córnea doadora e córnea a ser substituída. Não é que a Santa Casa não tivesse tais equipamentos, apenas seu uso era restrito aos professores. Também não tínhamos microscópio cirúrgico, mas sua ausência era suprida por lupas de quatro aumentos.
Doreto esperava-me à saída de uma das aulas com a grande ideia: que tal utilizar cartuchos não deflagrados, de metal vazios, dos velhos mosquetões Mauser do CPOR, cujos bordos seriam afiados à perfeição por ótico de sua confiança? Arregalei os olhos de pura surpresa: parecia mais um ovo de Colombo, ou melhor, um ovo de Doreto Campanari.