Superstição e futebol quase sempre andam de braços dados. Os clubes de futebol do RJ não fogem à regra. Durante muitos anos o futebol brasileiro teve dois clubes praticamente imbatíveis: Santos de Pelé e Botafogo de Garrincha e Newton Santos. Em 1958, quando o Brasil conquistou seu primeiro título mundial na Suécia, a seleção contabilizava vários craques do Botafogo e do Santos no time titular. Do Botafogo Newton Santos, Didi, Garrincha e Zagallo. Do Santos, Zito, Pelé.
O Botafogo, do RJ, tinha no seu presidente, Carlito Rocha, não só seu diretor maior, mas o homem que instituiu o culto à superstição no clube. Basta dizer que o Botafogo tinha um jogo complicado no campeonato carioca. O favoritismo pendia para o adversário. O jogo era em General Severiano, estádio do Botafogo. Carlito tinha um cachorrinho de estimação, o Biriba. Vai daí que na saída dos vestiários para o gramado o cãozinho, sem mais aquela, urina nas chuteiras já calçadas de Newton Santos, talvez o maior lateral esquerdo que o mundo já viu atuar. O Botafogo arrasa com o adversário! Dali para frente, o time do Botafogo não entrava em campo sem que Biriba desse uma urinadinha que fosse na chuteira do craque. span>
OTELO CAÇADOR
De 1953 a 1986 o jornalista e cartunista Otelo Caçador manteve nas páginas do GLOBO a divertida coluna futebolística Penalty. Garrincha era o personagem e astro principal da matéria, sempre correndo à frente dos marcadores, acenando um lenço branco de despedida. Otelo distribuía fartamente entre os times adversários do Botafogo o diploma de sofredor.
A primeira coluna “Penalty de Otelo” é de 04 de setembro de 1953. Em sua estreia, o artista já deixa claras as suas intenções. Mais tarde surgirá o livro negro de Otelo
Otelo Caçador foi jornalista e cartunista brasileiro, falecido em 2006, com 80 anos de idade. São atribuídas a ele as expressões placar moral e manto sagrado (esta última, em relação à camisa do Flamengo, clube do qual ele era torcedor).
Sua coluna ''Penalty'' no jornal O Globo, trazia como subtítulo "pênalti não é coisa que se perca''.
Apesar de rubro-negro declarado, o primeiro desenho (charge) de Otelo Caçador para o extinto Jornal dos Sports em 1947 foi de uma caravela, com o “Almirante” comandando a nau em luta contra Popeye (Flamengo), Pato Donald (Botafogo), o Cartola (Fluminense) e o Diabo Rubro (América), símbolos criados pelo cartunista argentino Lorenzo Molas.
Ocorre, segundo matéria da também extinta 'Manchete Esportiva', que o chargista inseriu no alto de um mastro da caravela um corvo, e que em Portugal o pássaro trazia boa sorte. Coincidência ou não, o Vasco da Gama que ganhara o apelido de 'Expresso da Vitória' por atropelar seus adve rsários, o corvo passou a ser chamado de 'Dom Corvo I e Único'.
A euforia com o novo mascote foi tanta que o clube teve de providenciar a importação de um exemplar original de Corvo vindo diretamente de Portugal. Sua chegada ao Rio de Janeiro teve carreata e visita à redação do Jornal dos Sports e também nos estúdios da Rádio Mayrink Veiga e Clube do Brasil.
O relato de tais fatos constam de matéria datada de 14 de janeiro de 1956 pelo colunista Álvaro do Nascimento, o cascadura, em edição nº 8 da Manchete Esportiva.
Por 33 anos escreveu em O Globo onde assinou a coluna Penalty de Otelo. Ele se in- cumbia de cobrar esses “penalties”. Sempre com muito humor.
O placar moral de Otelo Caçador levantava as maiores discussões no mundo futebolístico. Não tem aquele jogo no qual jogo seu time perde inapelavelmente, digamos de 5 x2? Otelo discordava da notícia e do placar colocando seu palpite:
- 5 x 2 nada! 3 x 2 para nós!