No início dos anos 70 operei Pedro de catarata no seu olho esquerdo e no início dos anos 80 do olho direito. Quando da primeira cirurgia ao adentrar o centro cirúrgico do Hospital São José, percebi um vulto ajoelhado diante de uma cadeira, no último apartamento antes de entrar no vestiário médico. No assento, a imagem de uma santa. Entrei no apartamento. Era dona Virgínia, rezando. Disse-lhe e aconselhei que fosse à capela do Hospital onde ficaria mais à vontade e poderia orar com mais sossego e conforto. Fez que não e que ficaria ali, naquela posição:
- ... até que meu Piero volte!
E foi assim mesmo, com direito a repeteco, quando operei o outro olho, alguns anos depois. Na época muito pouco, quase nada, se operava catarata com implante de lente intraocular, hoje o método pelo qual se opera majoritariamente essa afecção. Pedro, homem vaidoso, adaptou-se facilmente com lentes de contato rígidas, então adquiridas na Casa Pfortner, Buenos Aires, numa de suas inúmeras viagens.
O HOMEM DE VIRGÍNIA
Na época, víamos apenas um canal de TV pelas repetidoras da Piratini de Porto Alegre. Este solitário canal exibia entre outros filmes um faroeste de sucesso, O Homem de Virgínia. O apelido pegou aqui em nosso Pedro que passou a ser conhecido pelo epíteto, casado que era com Virgínia Furghesti Bez Batti.
CRICIÚMA TEM SUA TV
Em 10.10.1978 a TV Eldorado de Criciúma, SC, veiculava sua primeira programação. Logo após afiliou-se à Rede Bandeirantes de televisão. Víamos na época a TV Tupi, transmitida pela TV Cultura de Florianópolis, a TV Difusora de Porto Alegre e a TV Coligadas de Blumenau, afiliada da Rede Globo. A partir de 10.10.1978 passamos a ver em Criciúma a programação da TV Bandeirantes de SP. Em 1979, um sábado à tarde, encontrava-me em casa, sozinho, Frida fazia compras no supermercado. A TV estava ligada no Programa do Chacrinha que eu olhava distraidamente na TV Tarobá, Cascavel, PR,
TV Tarobá, Cascavel,PR, é emissora de TV brasileira sediada em Cascavel, PR. Opera no canal 6 (36 UHF digital), e é afiliada à Rede Bandeirantes. Pertence ao Grupo Tarobá, do qual também fazem parte a TV Tarobá Londrina e as rádios Tarobá FM de Cascavel e Londrina. A emissora mantém uma sucursal em Foz do Iguaçu, de onde é gerada parte da programação local.
Após licitação pública, a concessão do canal 6 VHF de Cascavel foi outorgada pelo presidente Ernesto Geisel em 29.06.1976, a um grupo de empresários liderados pelo jornalista João Milanez, irmão de Pedro e proprietário do jornal Folha de Londrina. A partir daí, iniciou-se a implantação daquela que seria a primeira emissora de televisão do oeste paranaense, com a compra de equipamentos importados da Alemanha Ocidental, e a contratação de profissionais da cidade e de outros estados do país.
A TV Tarobá entrou no ar em 1.º.02.1979, (dia 03.02 foi sábado), retransmitindo a programação da Rede Bandeirantes, da qual atualmente é a mais antiga afiliada. A designação Tarobá vem de um personagem de lenda indígena sobre a origem das Cataratas do Iguaçu.
CHACRINHA REGISTRA A INAUGURAÇÃO
Em 03.02.1979, um sábado à tarde, como já referi, estava eu acompanhando o programa do Chacrinha pela TV Eldorado de Criciúma. O programa termina e os créditos da programação começam a rolar tela acima. Chacrinha acompanha tudo até surgirem os nomes dos canais. Ele se anima quando vê o canal de Cascavel/PR, o Tarobá. Chacrinha põe o dedo no nariz e diz:
- E, agora, conosco, a TV Tarobá de Cascavel no Paraná, de meu amigo João Milanez. Milanez, até que enfim chegou tua vez!
O QUE O SENHOR QUER MEXENDO COM ESSAS ALMAS?
Pergunta de minha secretária Marina Menegaro quando comecei a garimpar dados sobre grandes personagens de nossa hisitória municipal para divulgação pela Rádio Som Maior. Eu pedia, com esse objetivo, prontuários de celebridades locais, em geral já falecidas. O prontuário de Pedro Milanez começa em 21.03.1956, quando foi atendido pelo meu primo, David Raskin, Oftalmo-otorrino-laringo-broncoesofagologista, único atuando na cidade e cuja área de atendimento ia até Tubarão (ao norte), Lages (a oeste), oceano Atlântico (a leste), Porto Alegre (ao sul). David Raskin ainda vive, mais de noventa anos e reside em POA. Tem filha oftalmologista e é duvidoso se ainda trabalha.
Queixas de Pedro eram de que se achava um pouco surdo há um ano e de que necessitava de óculos para ler. Pedro tinha, então, 45 anos.
O prontuário prossegue 10 anos depois já com meu irmão Boris Pakter que era otorrino. A consulta se referia à audição, que piorava. Boris era otorrino de formação em Santa Maria, RS, onde se graduara. No entanto, trabalhando comigo, passa a atuar também na área de oftalmo, o que ainda exerce, em Porto Alegre. Em 05.05.1970 examinei Pedro diagnosticando-lhe catarata em ambos os olhos. Relatou grave problema alérgico alimentar, uma dermatite, tratada em Urussanga pelo Dr. Cirilo. Tinha glicemia normal, mas, pigarro e catarro. Retornou em 02.01.1971. Tinha pressão 13x8. Em 06.12.1972 sua visão era 30% no olho direito (OD) e 20% no olho esquerdo (OE).
Em 06.09.1973 volta a consultar com Boris por problemas de garganta.
Em 12.12.1973 consulta porque OE estava irritado, fazia 3 dias. Era uma úlcera de córnea extensa da qual passou a tratar fazendo curativos diários em nosso consultório no Hospital São José. Os curativos diários vão até 14.01.1974 quando foi declarado curado de sua úlcera herpética de córnea, tratada com pomada oftálmica IDU.
Em 20.12.1975 é novamente examinado pela garganta. Teria machucado ao engolir bolacha dura. Era uma faringite. O atendimento foi prestado por outro otorrino, Boris já transferira residência para Porto Alegre.
Em 27.11.1979 quer operar a catarata do OD. Em 0.12.1979 opero seu olho esquerdo e em 21.12.1979 está com sinusite maxilar direita aguda! Uma audiometria desta última data mostra perda importante da audição nos sons agudos.
Em 12.06.1980 Pedro adapta lentes de contato rígidas em AO. Em 07.07.1981 usava lentes de contato mais óculos, para ler.
Sua última avaliação foi a 04.07.1988. Após extração dentárea tinha ardume OD há 1 mês. Tomava Persantim, Isordil, Digoxina. A 1º.08.1992, quatro anos depois, falecia este personagem maiúsculo da gente criciumense.
PRIMEIRA TRANSMISSÃO EXTERNA DA TV ELDORADO
A primeira transmissão externa da Rádio Eldorado foi em 29.05.1981, pelo então jovem e promissor jornalista José Adelor Lessa, por ocasião da morte do político e empresário criciumense Diomício Manoel de Freitas (Orleans, 19.04.1011-Criciúma, 29.05.1981).
Diomício, que morreu em acidente automobilístico na BR101, tinha um pool de rádios, a TV Eldorado de Criciúma, cerâmicas, mineradoras de carvão mineral. Aos 13 anos era aprendiz de telegrafista na Estrada de Ferro Dona Tereza Cristina, lá permanecendo por 17 anos. Aposentado como ferroviário, desenvolve atividades em três indústrias carboníferas. Foi sócio de Santos Guglielmi na Cia. Carbonífera Metropolitana S. A. Criou duas cerâmicas: a CECRISA (Cerâmica Criciúma S.A.), e a INCOCESA. Também a Industrial Conventos S.A., a Florestal (Florestamento e Reflorestamento), Sociedade Rádio Eldorado Catarinense Ltda., Rádio Difusora de Laguna Sociedade Limitada e Rádio Araranguá Ltda. Diomício foi deputado federal pela UDN (1962-1966); pela ARENA, 1979, foi suplente de Senador. O aeroporto municipal de Criciúma inaugurado em 17.12.1979 levava seu nome.
Em 1981 eu era diretor-clínico do Hospital São José de Criciúma. Sabedor do acidente e de quem era o acidentado corri para entregar o paciente aos cuidados do Dr. Albino José de Souza Filho, clínico-geral e pneumologista, e do Dr. João Aparecido Kantovitz, Ortopedista e Traumatologista, hoje já falecido. Redigimos uma nota, extremamente cautelosa entregue à imprensa e autoridades. O hospital não dispunha de UTI. Meu consultório bem como dos demais doutores era no hospital. À tarde, após muito pensar, subi ao terceiro andar para falar com Diomício que estava consciente apesar das dores de que se queixava. Decidira eu transferi-lo para outra unidade hospitalar dotada de maiores recursos por avião-ambulância. Que seu tratamento tivesse prosseguimento em Porto Alegre ou Curitiba. Com esse estado de espírito adentrei o quarto de Diomício onde ele se achava em companhia de Gilberto João Oliveira, fiel funcionário do empresário. Entrei e apertei a mão de Diomício. Quando o aperto de mãos se tornou muito forte, olhei para Gilberto que se levantara da cadeira precipitadamente para chamar, no Posto de Enfermagem, os médicos assistentes de Diomício. Em poucos minutos aquela vida se esvaiu. Albino e João Aparecido logo chegaram para encontrar Diomício morto por uma embolia pulmonar. O filho José (Dite) recém saíra do apartamento hospitalar e coube a mim comunicar a ele e a Hilário Acioly a notícia da morte do pai.
(FIM da segunda parte, continua na próxima semana)