Ultimamente a morte tem sido inclemente para com a classe médica do sul de SC. Tubarão perdeu dois médicos ilustres sendo um deles oftalmologista. Praia Grande perdeu no dia 11 de setembro o Dr. João José de Mattos, também ex-prefeito da cidade por dois mandatos. Criciúma perdeu Portiuncola Caesar Augustus Gorini, Renato Bez Batti, Sílvio Búrigo, Danilo Castro, Murilo de Sousa Rosa, Lúcio Stopazzolli, cidade recordista neste rali da morte.
Portiuncola é a morte mais recente, ocorrida nesta semana. Tive oportunidade, precisamente em 16 de julho de 2016, de escrever a sua biografia para as páginas de jornal local.
A série intitulava-se PIONEIROS MÉDICOS.
PORTIUNCOLA CAESAR AUGUSTUS GORINI pioneiro cirurgia torácica
DO LIVRO DE HENRIQUE DAURO MARTIGNAGO (HDM), “CRICIÚMA, EVOLUÇÃO E SUCESSO”
Pág. 161: “Foi assim que, no final do ano de 1961, conheci Mérope Gorini, a Meque”.
Pág. 162: “Em 1962, Dr. Dino Gorini sofreu violento infarto do miocárdio e o levei para Porto Alegre, para tratamento. Logo a seguir, veio o casamento”. HDM e MÉROPE GORINI casam-se em 1962 (pág. 162).
“Da união nascem Gabriela, Paulo e Helena. Gabriela, magistrada, casada com o advogado Jorge Heriberto Coral tem 3 filhos: Bruno (26 anos), Jorge (21 anos) e Isabella (15 anos)”.
Pág.164:”Paulo, advogado e empresário, casado com a médica dermatologista, Beatriz Castellar de Faria Martignago, tem um filho, Henrique (11 anos). Helena, advogada e empresária, casada com o também advogado e empresário Eduardo Riggenbach Steiner, tem uma filha, Natália (11 anos)”. MÉROPE foi colega de FRIDA, minha mulher, ambas alunas no Colégio Americano no Portinho e na mesma época. Também ensinou a FRIDA, com grande competência, dirigir veículo automotor. Isto se esquecermos uma única colisão com o carro de SÍLVIO DAMIANI BÚRIGO, em frente ao Centro Médico São José, a primeira de duas colisões sofridas pelo Urologista pioneiro, no mesmo local...
MINA SÃO MARCOS
Pág. 169: ”(...) um fato ocorrido meses antes da revolução de 1964 me levou a adquirir o controle acionário da Companhia Carbonífera São Marcos”. (...) “quanto à lucratividade da Carbonífera (...) da qual era ele (Dino Gorini) acionista no percentual de 20%, disse-me que estava sendo mal administrada, não gerando lucros”.
HDM adquire as cotas de sócios minoritários na MINA SÃO MARCOS (Armando Miraglia, Jorge Frydberg, Arthur Bianchini e outros). LEANDRO MARTINGAGO, pai de HDM fica de avalista do saldo devedor e LUIZ PIROLLA é o último a vender suas ações. HDM pagava 10% de entrada na compra das ações de cada acionista, sendo o restante pago em prestações. Desta forma, HDM e DINO ficaram proprietários de 60% das ações da mineradora. Na divisão das ações, como parte delas seriam pagas com os resultados financeiros da empresa, HDM destinou 50% das ações a ele e 50% a DINO GORINI. DIOMÍCIO FREITAS permaneceu com seus 16%. Mais tarde compraria a mineradora.
Pág. 170 e seguintes: HDM adquire 100 vagonetas; trilhos de madeira (ocasionando constantes descarrilamentos) são substituídos por trilhos de ferro e bombas feitas de madeira de taiuva por bombas de aço inoxidável e novos compressores. Instalação do cabo sem fim mecaniza o transporte das vagonetas; o número de funcionários cai de 320 para menos de 200. Renova caminhões e carregadeiras, novo lavador de carvão é construído. Os melhoramentos introduzidos fazem a mina gerar lucros e sócios têm retirada.
HDM, considerado homem de esquerda (amizade com MANIF ZACHARIAS e JACOB VICTOR CRUZ), admitiu às vésperas do governo militar de 1964, consumir 3 toneladas/mês de dinamite na mina. Alguém denuncia “a mina é usada para treinar guerrilha”. Esta e outras acusações decretarão a prisão de DAURO, que presenciei da sacada do apartamento alugado de Leandro Martingago, Praça Nereu Ramos, abril/64. Na fria madrugada, DAURO, VÂNIO FARACO, JORGE FELICIANO, MANOEL RIBEIRO e outros, foram embarcados num ônibus estacionado frente ao prédio. Apesar da escuridão na praça, identifiquei VÂNIO usando espantoso paletó com grandes quadrados pretos e brancos, mãos nos bolsos das calças. Ainda não se algemava presos, mãos às costas, conquista moderna, recurso incorporado pela PF à prisão de perigosos meliantes como Nestor Cerveró e Mônica Moura.
HOSPITAL SANTA CATARINA
DINO GORINI vende o HSC ao Grupo Guglielmi em 1966. Santos Guglielm já era proprietário do Hospital São João Batista. Difícil entender a transação considerando-se as pessoas envolvidas. Dum lado DINO GORINI do outro SANTOS GUGLIELMI. Todos pesos-pesados das altas finanças, experientes na área de extração de carvão mineral, todos proprietários de hospital. DINO era maçom, rotariano, médico por 25 anos do Hospital São Marcos de Veneza e por 6 anos do HSC de Criciúma.
Correndo na cidade a notícia de que DINO GORINI pretendia desfazer-se do HSC, DAVID LUIZ BOIANOWSKI ouve vários médicos (Luiz Fernando da Fonseca Gyrão, Raymundo Jorge Perez, Aguinaldo Brandão entre outros) deles recebendo consentimento para propor a compra do imóvel. A proposta garantia a correção das prestações mensais tendo em vista a inflação do período. Também permitia o ingresso de sócios médicos da família Gorini à discrição do vendedor. O próprio BOIANOWSKI levou a proposta, não respondida. DINO já negociava a venda do HSC com DIOMÍCIO FREITAS, mas vendeu-o a SANTOS GUGLIELMI.
DINO aceitou a pior proposta. POR QUE? Acho que nunca se saberá.
Efetuada em período de inflação avassaladora, quando o dinheiro sumia pelo ralo dos desgovernos, a venda foi sacramentada em 12 parcelas iguais e consecutivas, sem juros nem correção monetária sobre as parcelas vincendas. Elas aguardariam sentenças sobre ações trabalhistas que pesassem ou viessem a pesar sobre o Hospital! A última prestação não valia o papel em que fora impresso! O advogado HELMUT ANTON SCHAARSHMIDT teria redigido o contrato. A modalidade de pagamento mais a inflação, fizeram com que o Hospital fosse praticamente doado a SANTOS GUGLIELMI, diz HDM.
PORTIUNCOLA: “realmente foi um negócio ruinoso aquele que meu pai fez com o Grupo Guglielmi, sobretudo naquele período inflacionário; eu desconhecia completamente os negócios de meu pai. Desde tenra idade fui afastado da família e já no primário estava no Internato em Porto Alegre. Depois Santa Maria para estudar Medicina (...) recém formado, na época em que tudo isso aconteceu, acostumado à hegemonia de meu pai que fazia tudo. Educava 7 filhos e era tão solicitado. Sempre tive o maior respeito por ele que era o Poderoso Chefão, na educação italiana que recebemos!”
“Fiquei perplexo ao me relatares fatos que somente agora estou tomando conhecimento e fico triste pois creio na tua informação. Nunca soube desta proposta dos médicos (Boianowski, Gyrão, Aguinaldo Brandão, Raymundo Perez, Oscar de Aragão Paz e outros). Eu não sabia que na proposta havia inclusão de sócio da família”.
“... informação FUNDAMENTAL de Portiuncola: HSC foi fundado no dia 16.6.1961, eu era estudante do terceiro ano de Medicina em Santa Maria, RS. Dauro era estudante de Odontologia em Niterói, RJ, (...), mas de forma alguma trabalhou para a fundação do referido Hospital”. (Pág. 168 do livro biográfico de HDM: “Por volta de 1963, tornamo-nos, Dr. Dino e eu, sócios fundadores do HSC. Participei ativamente de sua construção no Bairro Operária Nova, sob responsabilidade de Anísio Trichês”).
AINDA DE PORTIUNCOLA:
“A data é marcante (da fundação do Hospital) ocorrida um dia após Dino e Augusta Gorini terem festejado Bodas de Prata e também porque minha irmã Berenice viajou para Roma, Itália (19.6.1961), onde permaneceu anos no Curso de Pós Graduação em Belas Artes. Ela me passou estes dados, informando também que na ATA DE FUNDAÇÃO DO HSC, uma das cláusulas rezava que os Sócios Fundadores deveriam ser MÉDICOS e (o Hospital) somente para Médicos”.
“(...) meu pai foi verificar a documentação da citada ATA na JUNTA COMERCIAL DE FLORIANÓPOLIS, constatando que a referida FOLHA DA ATA FORA ARRANCADA, DESTRUIDA”.
“... dói (...) lembrar-me (...) ver meu pai acuado e impotente, numa situação desesperada que o levou a fazer tal transação tão ruinosa, com o Grupo Guglielmi e também de outras decisões precipitadas tomadas por ele e minha mãe em transações comerciais, acuados, no fim da vida e até com o nosso desconhecimento”.
Com 9 anos de idade PORTIUNCOLA é o primeiro dos 7 filhos de DINO e AUGUSTA a voar do ninho para o IPA (Instituto Porto Alegre), internato masculino metodista, coirmão do Colégio Americano, para moças. Ambos educandários operavam com educadores leigos tendo orientação metodista, credo fundado por John Wesley. Lema do Americano era EDUCAR É ENSINAR A VIVER.
Enfrentou as estradas ou ausência de estradas entre SC e RS.
Filho mais velho, PORTIUNCOLA nasceu a 12.4.1938 em Nova Veneza e teve o nome simplificado pelos irmãos para PUPO. Curso primário e ginásio no Grupo Escolar Abílio César Borges em Veneza e no IPA (Porto Alegre). Científico no Anchieta. Dedicava seus momentos de lazer à pesca e caçar passarinhos. Ele e amigos eram hábeis na confecção de arapucas feitas de finas taquaras. A isca era alpiste. Os meninos espiavam de longe, a armadilha um lado elevado por graveto amarrado a longo barbante, a outra extremidade nas mãos de PUPO ou de cúmplice. Atraídos pela refeição grátis pássaros adentravam a armadilha. PAF!, o cordel puxado com violência aprisionava as incautas criaturas. Em breve a casa teria um viveiro de canários, sete cores, sabiás...
PUPO aproveitaria a ausência do pai para explodir pequena quantidade de pólvora colocada numa lata e vê-la saltar. Resultado: explosão no rosto cuja pele pretejou e se desprendeu.
Cirurgião em gestação, dissecava sapos com um canivete. BRIGITTE escreveu: “na Medicina encontrou seu destino” (cont).