O que passo a contar é quase a mais pura realidade e verdade, salvo erro ou omissão. Quem vivo estiver, talvez lembre, ou talvez não. Penso que os fatos não chegaram ao conhecimento do grand monde criciumense por envolver recursos em dinheiro mal havidos segundo alguns e não levados ao conhecimento das autoridades.
Os nomes dos personagens foram alterados e algumas situações também foram. Se mais personagens estiveram envolvidas não me lembra mais. Acho que as atividades profissionais dos atores principais podem também ter sido modificadas. O resto, o que sobrar, é quase tudo verdade.
UM CENÁRIO
No Centro Cirúrgico Hospitalar (CCH) atuam enfermeiros (as), médicos (as), odontólogos (as). Vez que outra, vê-se algum religioso azafamado distribuindo extremas-unções. Trocada a roupa de rua pela indumentária apropriada, adentra-se em estreitas dependências, reservadas aos habitués do setor.
Sentados, degustando cafezinhos esfriados pela espera, troca ideias a população local. Houve um dia em que o doutor anestesista, eu, doutor Tiradentes e Dr. Proto), falávamos o de sempre: a difícil luta do dia-a-dia humano.
OS PERSONAGENS
Dr. Proto discorria sobre seus investimentos, dólares adquiridos a troco de reais de primo, comerciante em Foz do Iguaçu. O primo vinha eventualmente, com as malas fornidas de verdes notas estrangeiras, vendidas todas elas ao primo Proto, também empresário. Dr anestesista tratava de fazer calar o falastrão sem grande sucesso. Tiradentes nada dizia. Limitava-se a tudo ouvir em silêncio respeitoso.
O prudente Dr. anestesista dizia: "estamos contentes com teu êxito financeiro Proto, mas não precisa ficar espalhando coisas por aí". Proto retrucava: "não tem perigo. Aluguei cofre (no Bradesco?) e os dólares estão todos lá, tudo muito seguro, garantido pelo Lázaro de Mello Brandão, Amador e Denise Aguiar. Tem mais: tudo muito baratinho."
OUTROS CENÁRIOS
Passam-se os dias e a família Protor espera em sua mansão móveis comprados na Casa Europa, São Paulo. Às doze horas de uma sexta-feira ensolarada a faxineira abre os portões do palacete para entrada de grande caminhão. Imediatamente, dele saltam quatro homenzarrões que encerram a dona de casa, filhos e faxineira no banheiro. Os convivas passam a beber o uísque do doutor que está para chegar. Ele chega afinal, para ouvir os planos dos estranhos indivíduos.
Primeiro: Protor mais três dos homens iriam ao banco para sacar os dólares do doutor, guardados no seguríssimo banco. Protor e um dos homens retirariam as economias doutorais.
Segundo: qualquer contratempo produzido por Protor, sua família sofreria sérias consequências e imediatamente
Terceiro: De posse do dinheiro todos voltariam para casa de Protor.
Quarto: A faxineira ficaria com a menina que era muito pequena e nem sabia o que estava se passando. A mãe e o menino, este pouco mais velho, seriam levados de automóvel até empresa das Granjas Suely, situada na BR101 ainda não duplicada, frente ao acesso para Morro da Fumaça. Lá seriam deixadas. Protor seria levado em outro automóvel e deixado em Florianópolis. Ele só deveria comunicar-se com a família quando recebesse autorização para tal. Quanto à família: bico calado! Inacreditável que plano tão complexo não tivesse gorado. Essa história, que parece pouco verossímil, ainda é contada assim em certas esferas.
UM SUSPEITO
Protor garantia ter visto jipe de frequentador do CCH, no trajeto sua casa à Içara. Era frequentador que sabia tudo o que lá se passava. Proto dizia ter visto tal personagem, jipe estacionado às margens da rodovia, enquanto era sequestrado. Jurava por tudo quanto era santo e beatos católicos.
Tudo resolvido, até hoje não se sabe que fim levou o dinheiro (certamente mal havido) de Protor. Doutor anestesista divorciou-se e já faleceu, Tiradentes ficou mais próspero, proprietário que se tornou de extensas terras. Já faleceu, também. Protor e Tiradentes passaram a não falar-se mais e também já faleceram. Tiradentes deixou seu trabalho hospitalar, buscou e encontrou outro profissional para substituí-lo naquela faina, que, aliás, não era lá grande coisa.
OUTRO AFFAIRE COM UMA MESMA PERSONAGEM
Conto noutra ocasião e também é quase inacreditável.
De todos os personagens que começaram essa história, acho que sou o único sobrevivente. Ou não?