A esperada vacina contra o coronavírus ainda não chegou e já começaram os questionamentos quanto a sua obrigatoriedade.
Este não é um assunto novo, e, aqui mesmo no Brasil, já tivemos um sangrento episódio relacionado com o assunto.
No início do século passado o Rio de Janeiro era o principal porto da América do Sul.
O grande problema - desviando os navios para outros portos do continente - eram as doenças infecciosas.
Malária, febre amarela, peste bubônica, tuberculose e principalmente a varíola, com sua imensa mortalidade, eram as principais.
A cidade era conhecida no exterior como o “túmulo dos estrangeiros”.
Num amplo programa de modernização e saneamento do país, o presidente Rodrigues Alves (que acabou morrendo por complicações da gripe Espanhola) foi buscar o médico sanitarista Osvaldo Cruz, que havia chegado há pouco de Paris.
De família rica, completou sua formação no Instituto Pasteur, na época o maior centro de estudos de doenças infecciosas do mundo.
Para aceitar o cargo, equivalente ao de Ministro da Saúde, pediu ampla liberdade de ação.
Começou pela febre amarela.
Já se sabia na época que era transmitida por mosquitos.
Como o seu controle exigia a pulverização compulsória das casas com altas doses de inseticidas, aplicadas por técnicos do governo, a popularidade do sanitarista começou a ser abalada.
Até aí sem maiores repercussões sociais.
A situação mudou quando ele tentou implementar a vacinação compulsória contra a varíola.
Esta vacina não era nova.
Na verdade, foi a primeira a ser desenvolvida e vinha sendo usada em larga escala em outros países. Na Alemanha desde 1875.
Após meses de exaltada discussão no Congresso Nacional, no dia 9 de novembro de 1904 foi sancionada a lei que a tornava obrigatória.
Foi o estopim para aquele que foi considerado o levante popular mais indomável do país, que ficou conhecido por Revolta da Vacina.
Como sempre havia interesse políticos associados. Lauro Sodré, senador, já havia criado a Liga contra a Vacina Obrigatória.
Numa época de grandes pudores, o que de fato levou a população já incomodada a entrar em luta aberta contra as forças do Estado, foi que esta vacinação obrigaria as mulheres a exporem, por força da lei, braços, ombros e, o pior de tudo – eventualmente nádegas - para os funcionários do governo.
Foram diversos dias de lutas nas ruas da cidade, com centenas de mortos.
A lei foi revogada poucos dias depois.
A varíola foi erradicada – por força da vacina – apenas em 1980.