O Brasil, segundo o Ministério da Saúde, passou de 360 milhões de doses de vacinas contra a Covid aplicadas.
Apesar do alto perfil de segurança e comprovadíssima eficiência, alguns resistem.
Como pneumologista, acompanhei de perto dois pacientes, com nível de educação superior, que, por motivos ideológicos, resolveram não fazer a vacina. Tiveram casos graves, com risco iminente de morte.
Um deles voltou a consultar após a internação.
Profissional da área da saúde, logo que começou a ter sintomas fez o teste que comprovou a infecção pela Covid.
Mantendo-se fiel ao seu grupo foi acompanhado, à distância, por um ortopedista de outro estado, que prescreveu, em doses altas e em momentos inoportunos, tudo aquilo que os estudos já mostravam que não funcionava.
Como estava piorando, já com febre há 12 dias, aceitou a indicação do irmão, paciente antigo, e fomos procurados.
A indicação de internação foi imediata.
Foram 2 semanas difíceis, necessitando de altos fluxos de oxigênio. Mas sobreviveu. Tinha pouco mais de 40 anos, com 2 filhas pré-adolescentes.
No dia do retorno, após o exame clínico, perguntei, educadamente, se, caso tivesse morrido, sua família conseguiria manter um padrão razoável de vida.
- Não doutor. Sou profissional liberal, tenho uma boa remuneração, mas sem nenhum patrimônio ou seguro que pudesse deixá-las financeiramente confortáveis. A vida delas mudaria muito.
- Essa foi a maior angústia durante o tempo de hospital. Mais do que o medo de morrer. - Completou
- E agora, vais te vacinar? - Perguntei
- Depois do que passei, vou sim.
Porém, virando-se para a esposa, que estava sentada ao lado:
- Mas tu não me enche mais o saco!