Gosto de consensos de especialidade. Com todas as suas limitações, costumam reunir o estado da arte – as melhores evidências disponíveis a partir de fontes confiáveis sobre determinado assunto.
Entre as especialidades que lidam com a Covid-19, destaca-se a Infectologia, área da medicina que lida com doenças infecciosas.
Sintetizando o conhecimento acumulado nesses meses de pandemia, a Sociedade Brasileira de Infectologia emitiu um novo consenso sobre as recomendações sobre a Covid-19, tornado público em 9 de dezembro passado.
Sem grandes novidades, mas sucinto e objetivo.
Salientamos algumas dessas recomendações:
“No atual momento da pandemia todo paciente com sintomas de “resfriado ou gripe” pode ter Covid-19 e deve ficar imediatamente em isolamento respiratório”. Para casos leves, o isolamento é de 10 dias. Em casos graves ou em imunodeprimidos, o tempo de isolamento sobe para 20 dias.
“Pacientes sintomáticos com suspeita de Covid-19 devem ser submetidos preferencialmente ao exame de RT-PCR. Esse exame tem 60% a 80% de sensibilidade”.
Entendendo a sensibilidade de um teste para Covid-19 como a probabilidade de mostrar-se positivo quando o doente está infectado, vemos que nosso melhor teste tem uma margem de erro de 20% a 40%.
Portanto, se o resultado for positivo para Covid-19, confirma o diagnóstico. Se o resultado for negativo, mas a suspeita clínica for forte, o paciente deve completar os 10 dias de isolamento respiratório, já que a margem de falsos negativos para o RT-PCR não é desprezível.
O mesmo raciocínio é válido para o teste de antígeno, mais disponível e de resultado mais rápido. Com sensibilidade inferior ao RT-PCR, teste negativo não exclui o diagnóstico.
“Os testes sorológicos para Covid-19 (exames de sangue), tanto os rápidos de farmácia quanto os de laboratório, não são recomendados para o diagnóstico precoce da doença. As classes de anticorpos IgA e IgM têm praticamente nenhuma utilidade clínica”.
Sobre o tratamento precoce nos primeiros dias de sintomas
“A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) não recomenda tratamento farmacológico precoce para Covid-19 com qualquer medicamento (cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina, nitazoxanida, corticoide, zinco, vitaminas, anticoagulante, ozônio por via retal, dióxido de cloro), porque os estudos clínicos randomizados com grupo de controle existentes até o momento não mostraram benefício e, além disso, alguns destes medicamentos podem causar efeitos colaterais”.
“Essa orientação da SBI está alinhada com as recomendações das seguintes sociedades médicas científicas e outros organismos sanitários nacionais e internacionais, como: Sociedade de Infectologia dos EUA (IDSA) e da Europa (ESCMID), Instituto Nacional de Saúde dos EUA (NIH), Centros Norte-Americanos de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e Organização Mundial da Saúde (OMS).”
“Quando o quadro evolui com pneumonia e níveis baixos de oxigênio, o tratamento hospitalar com oxigenioterapia, dexametasona (corticoide) e heparina (anticoagulante) profilático fará com que a maioria dos pacientes evoluam bem e sem necessidade de ventilação mecânica”.
Reforçando - não há indicação de corticoides nas fases iniciais da doença.
Não são recomendações políticas, mas fruto dos melhores trabalhos, realizados com metodologia adequada, nos melhores centros médicos do mundo.
Disponíveis para todos os interessados.