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Maria Tifoide e os super transmissores

Por Dr. Renato Matos 14/09/2020 - 08:28 Atualizado em 14/09/2020 - 08:30

Febre tifoide é uma doença infecciosa causada pela Salmonella typhy. Os humanos são os únicos reservatórios e é geralmente transmitida por alimentos contaminados.

Não é a mesma coisa que tifo – este causado por bactérias do gênero Rickettsia, parasitas de pulgas, piolhos e carrapatos.

Os sintomas habituais são febre, dores abdominais e diarreia. Alguns casos evoluem para perfuração intestinal e peritonite.

Na era pré antibiótica a mortalidade era alta – até 15%.

Habitualmente é uma doença aguda e limitada. No entanto, em torno de 5% dos infectados podem continuar transmitindo a doença por muitos anos - são os portadores crônicos assintomáticos.

Entra aí Mary Mallon, imigrante irlandesa que chegou nos Estados Unidos em 1883 para trabalhar como cozinheira. Fixou-se em Nova York.

Algum tempo depois começaram a aparecer casos de febre tifoide naquela cidade, surpreendentemente em famílias de alto poder aquisitivo. A doença não era rara naquela época, mas geralmente afetava subúrbios e áreas pobres da cidade.

Uma boa avaliação epidemiológica ligou os casos com Mary Mallon. Como naquela época não havia antibióticos que pudessem tratar a Salmonella, o caminho era o isolamento da carreadora crônica.

Durante 3 anos ficou isolada em uma cabana.

Comprometendo-se a mudar de ramo, foi finalmente liberada para retomar a sua vida normal.

Mas cozinhar era sua profissão – voltou a trabalhar em casas de famílias.

Novos casos voltaram a aparecer nas áreas ricas da cidade, rapidamente ligados à nossa personagem assintomática.

Estima-se que tenha infectado em torno de 50 pessoas, com 3 mortes.

Não houve mais negociação – passou os últimos 23 anos de sua vida em isolamento compulsório - até sua morte.

Esse padrão de transmissão parece ocorrer também na maior parte das doenças infecciosas transmitidas por via respiratória. Geralmente estes super transmissores são assintomáticos ou pouco sintomáticos e frequentam lugares que favorecem esta disseminação.

No caso do coronavírus sabemos que o número básico de reprodução (R0) fica entre 2 e 3 – sem medidas de controle cada indivíduos infectados transmite a doença para outras 2 ou 3 pessoas.

No entanto, um único indivíduo pode infectar dezenas ou centenas de pessoas.

Alguns matemáticos, que buscam regras na natureza, chegam a relacionar esta forma de transmissão ao princípio de Pareto, ou regra 80/20, que afirma que, para muitos eventos, aproximadamente 80% dos efeitos vem de 20% das causas.

Cuidado, portanto, com nossos super transmissores.


 

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